Trump destacou a "devoção ao campo de batalha" e o "caráter americano" ao defender um mundo de países "fortes, soberanos e independentes"
Trump destacou a "devoção ao campo de batalha" e o "caráter americano" ao defender um mundo de países "fortes, soberanos e independentes" | Foto: Drew Angerer/Getty Images/AFP



Nova York - Num discurso incendiário, Donald Trump prometeu que "se os Estados Unidos forem obrigados a se defender ou defender seus aliados, não terão outra escolha a não ser destruir a Coreia do Norte. "É um país que põe o mundo em perigo", disse o presidente americano, sobre o "regime depravado" do ditador Kim Jong-un. "As armas da Coreia do Norte ameaçam o mundo todo com um potencial impensável de perdas de vidas humanas. Nenhuma nação tem interesse em ver esse homem se armar com armas nucleares." "O homem do foguete [como ele chama o ditador Kim Jon-un] está numa missão suicida para ele e o seu regime", afirmou.

Em sua estreia na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Trump desfez qualquer impressão que poderia vir a baixar o tom e esbravejou contra regimes autoritários, citando o Irã e a Venezuela, num longo elogio ao poderio militar e ao patriotismo. "Nossos cidadãos pagaram um preço caro para defender a liberdade de muitas nações", disse. "Das praias da Europa aos desertos do Oriente Médio, mesmo quando saímos dos conflitos mais sangrentos, nunca buscamos vantagens territoriais ou impusemos nossos costumes."

Ele falou em "devoção ao campo de batalha" e em "caráter americano" ao defender um mundo de países "fortes, soberanos e independentes" que lutam por seus interesses, emendando uma tentativa de explicar ao mundo seu lema "America First", ou América em primeiro lugar. "Fui eleito não para tomar o poder, mas para dar poder ao povo americano", afirmou. "Como presidente dos Estados Unidos, sempre vou pôr a América em primeiro lugar, da mesma forma que vocês, como líderes de seus países, devem colocar os seus países em primeiro lugar."

Nesse ponto, o republicano atacou o Irã, criticando o acordo nuclear com o país que tem o "derramamento de sangue como produto de exportação". Ele voltou a dizer que o acordo é o pior já negociado, num sinal de que pode decidir não respaldá-lo até o próximo dia 15.

Também ameaçou Cuba e Venezuela, usando as mesmas palavras sobre a ditadura de Nicolás Maduro em seu discurso a líderes latino-americanos, entre eles o presidente Michel Temer, num jantar às margens do encontro. "O problema não é que o socialismo não foi implementado do jeito certo, e sim que ele foi implementado fielmente", disse o americano, arrancando risos das delegações na Assembleia Geral. "Esse regime corrupto impôs uma ideologia falida que só levou pobreza e miséria ao povo venezuelano."

Trump, aliás, não divergiu do roteiro prévio de seu discurso antecipado pela Casa Branca, adiantando que Coreia do Norte, Irã e Venezuela seriam seus principais alvos - o chanceler norte-coreano, aliás, deixou o salão da Assembleia em protesto durante o discurso do presidente.

Temer defende diplomacia para Pyongyang
Nova York - Poucas horas depois do discurso de Donald Trump na ONU, o presidente Michel Temer evitou criticar a polêmica declaração do americano de que os EUA podem ter que fazer a escolha de "destruir totalmente" a Coreia do Norte. "A posição do Brasil é sempre uma posição de conversas, de diplomacia, de soluções diplomáticas", disse Temer, ao ser questionado por jornalistas sobre a fala do presidente americano.

Temer havia criticado, em seu discurso antes da fala de Trump, o "nacionalismo exacerbado" de alguns países. Questionado se o recado havia sido dirigido ao colega americano, com quem jantou na segunda (18), Temer disse ter sido uma mensagem contra "todo e qualquer nacionalismo". "Toda e qualquer exacerbação é desagradável, é condenável. E foi isso o que eu condenei, o nacionalismo é um deles", disse.

Ao abrir os debates gerais da Assembleia Geral da ONU nesta terça (19), Temer mandou um recado à Venezuela, dizendo não haver mais lugar "para alternativas à democracia" na região. No discurso, em grande parte focado em questões externas, Temer não mencionou a crise política no Brasil, e disse que o País está "superando uma crise econômica sem precedentes" com reformas estruturais. Segundo ele, o Brasil "atravessa momento de transformações decisivas". Nos governos Dilma e Lula, grande parte da exposição do presidente na Assembleia era dominada pela exaltação dos programas sociais.

Sobre Venezuela, Temer destacou a deterioração dos direitos humanos no país e disse que o Brasil está "ao lado do povo venezuelano". E destacou que o País tem recebido "milhares de migrantes e refugiados da Venezuela". "Na América do Sul, já não há mais espaço para alternativas à democracia. É o que afirmamos no Mercosul, é o que seguiremos defendendo." (I.F.)