Atentado em Nice, no sul da França, em 14 de julho do ano passado: Estado Islâmico assumiu autoria do ataque, que deixou 85 mortos
Atentado em Nice, no sul da França, em 14 de julho do ano passado: Estado Islâmico assumiu autoria do ataque, que deixou 85 mortos | Foto: Valery Hache/AFP



Madri – Em 2016, o terrorismo atingiu o maior número de países no mundo desde que o estudo começou a ser feito, em 2000, pelo Global Terrorism Index. Ao todo, no ano passado, 77 países tiveram ao menos uma morte relacionada a atentados; em 2015, 65 países tiveram mortes decorrentes de atos terroristas. O estudo foi publicado nesta quarta-feira (15) pelo Instituto para Economia e Paz, que compila esse índice desde 2000.

No que o terrorismo ganhou em extensão, no entanto, ele perdeu em intensidade: o mesmo relatório mostra uma redução de 22% no número de mortes causadas por atentados desde 2014, seu ápice. Foram 25.673 mortes em 2016, contra as 32.658 vítimas em 2014.

Quatro dos cinco países mais afetados pelo terrorismo - Síria, Paquistão, Afeganistão e Nigéria - tiveram uma queda de 33% no número de mortes.

A redução na Nigéria está relacionada ao combate à organização terrorista Boko Haram. Houve uma queda de 80% dos ataques atribuídos ao grupo.

Já o país mais afetado durante o ano foi o Iraque, onde a retração territorial do grupo radical Estado Islâmico levou ao incremento de seus ataques contra civis, em uma recalibração de estratégia. Houve 9.765 mortes no Iraque em 2016.

OCDE
Apesar da redução no número de vítimas em escala global, o ano de 2016 foi o mais letal desde 1988 nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), coletivo que engloba EUA, Canadá e diversos países europeus, entre outros. Isso exclui os atentados de 11 de setembro de 2011 nos EUA, que deixou cerca de 3.000 mortos.

O número de mortes causadas por terrorismo em 2016 nesse grupo foi de 265, o que significa 1% do total. O relatório nota, no entanto, que os ataques terroristas na OCDE não são inéditos: houve quase 10 mil mortes por essa causa desde 1970, excluindo aquelas registradas na Turquia e em Israel.

O Estado Islâmico foi relacionado a 75% das mortes por terrorismo em países da OCDE desde 2014. Mas, em termos históricos, essa facção aparece apenas como a quarta maior culpada, superada pelos separatistas irlandeses IRA e pelos bascos do ETA.

O estudo também mostra que, apesar da atenção dada a atentados nos EUA e na Europa, eles são a minoria em termos globais, pois 94% das mortes causadas pelo terrorismo ocorreram no Oriente Médio, no norte da África, na África subsaariana e no sul da Ásia.

O incremento na OCDE, porém, preocupa por sinalizar novas estratégias: grupos como o Estado Islâmico têm recorrido a ações de menor complexidade, como o atropelamento que deixou 16 mortos em Barcelona e arredores em agosto passado. São ataques mais fáceis de planejar e mais difíceis de impedir, em comparação aos atentados a bomba realizados em outros anos.

O relatório do Global Terrorism Index estima que o custo de realizar um ataque à Europa foi reduzido de maneira significativa nos últimos anos, chegando a custar hoje menos de R$ 35 mil - terroristas neste continente não precisam mais, portanto, receber financiamento externo.