Papa Francisco presidiu missa pela integração dos povos, celebrada no Campo de Maquehu, antigo local de detenção e tortura durante a ditadura militar
Papa Francisco presidiu missa pela integração dos povos, celebrada no Campo de Maquehu, antigo local de detenção e tortura durante a ditadura militar | Foto: Claudio Reyes/AFP



Temuco, Chile - O papa Francisco dedicou a missa que presidiu nesta quarta-feira (17) em Temuco (sul) às vítimas da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), e criticou o uso da violência na luta para reivindicar os direitos indígenas, em uma região em plena tensão pelo conflito mapuche.
"Oferecemos esta celebração por todos os que sofreram e morreram, e pelos que, a cada dia, carregam sobre suas costas o peso de tantas injustiças", disse o pontífice em sua homilia na "Missa pela integração dos povos", celebrada no Campo de Maquehue, que serviu de centro de detenção e tortura durante a ditadura militar.
O papa pediu um momento de silêncio por tanta "dor e tanta injustiça", em meio à emoção que era notável no ambiente. Mas a região de Araucanía, onde fica Temuco, também é cenário da luta travada pelos mapuches, a etnia mais importante do Chile, que denuncia discriminação e abusos, e reclama a restituição de territórios ancestrais que hoje estão majoritariamente em mãos privadas.
Francisco, que como argentino é um grande conhecedor do problema mapuche, escolheu visitar Temuco (800 quilômetros ao sul de Santiago) para ter um contato direto com esta população.
Mas alguns grupos optaram pela violência. Horas antes da chegada do papa a esta região, ocorreu uma série de ataques contra a polícia, três igrejas católicas e uma evangélica. Também foram danificados três helicópteros utilizados pelas empresas florestais para apagar incêndios, segundo as autoridades.
Estes ataques se somam aos sofridos na véspera contra duas pequenas igrejas que ficaram completamente destruídas.
Os autores destes atentados deixaram panfletos nas igrejas que faziam alusão à demanda mapuche, que exige a restituição de terras. O papa recordou que "não se pode pedir reconhecimento aniquilando o outro, porque a única coisa que isso desperta é mais violência e divisão" e, "mais do que impulsionar os processos de unidade e reconciliação, acabam ameaçando-os", porque "violência chama violência", disse o pontífice.
Depois da liturgia, o papa se reunirá com um grupo de indígenas, cujas identidades ainda não foram reveladas pela organização do encontro, para posteriormente retornar a Santiago.
A "machi", maior figura médica e religiosa do povo mapuche, Franscica Linconao, em prisão domiciliar noturna à espera de um novo julgamento ao ser acusada pelo assassinato de um casal de idosos em 2013, esperava ser uma das pessoas que o papa receberia.
Em uma carta dirigida ao pontífice na qual pede que interceda junto ao governo chileno para revisar sua situação processual, assegurou que "no Chile somente aos mupuches aplicam a Lei Antiterrorista, e não respeitam a presunção de inocência".
O presidente eleito, o conservador Sebastián Piñera, que assumirá a Presidência em março, também reagiu no Twitter. "Meu rechaço absoluto aos covardes e violentos ataques ocorridos no sul na véspera da visita do papa", escreveu.