Vitória de Merkel foi ofuscada pelo histórico avanço da ultradireita do AfD, que conseguiu cerca de 13% dos votos
Vitória de Merkel foi ofuscada pelo histórico avanço da ultradireita do AfD, que conseguiu cerca de 13% dos votos | Foto: Odd Andersen/AFP



Berlim - Angela Merkel e os conservadores alemães ganharam as eleições deste domingo (24), mas se viram enfraquecidos pelo avanço histórico da ultradireita e pela dificuldade para formar uma aliança de governo.

Pesquisas de boca de urna indicaram que a União Democrata Cristã, de Merkel, registrou "seu pior resultado desde 1949" (32,5%) e que os social-democratas (SPD) "obtiveram seu pior resultado de todos os tempos" (20,8%), enquanto os ultradireitistas do AfD (Alternativa para a Alemanha) (13%) se impuseram como "terceira força política" do país.

Merkel, no poder há 12 anos e três mandatos, admitiu que esperava um "melhor resultado", e advertiu que a entrada da ultradireita no parlamento impõe um "novo desafio".

A chanceler terá que buscar pela quarta vez um ou vários parceiros para formar seu próximo governo, já que os social-democratas anunciaram que não voltarão a governar com os conservadores. O grande perdedor das eleições foi Martin Schulz, líder do SPD, que lamentou um "dia difícil e amargo para a social-democracia".

Ainda não se sabe como será partilha de 600 a 700 assentos, em razão da complexidade do sistema de votação alemão. Mas uma coisa é certa: a única maioria que Merkel pode esperar passa por uma aliança com os liberais do FDP e com os Verdes. O principal obstáculo desta opção está no fato de ambos os partidos defenderem posições opostas em diversos temas, como a imigração e o diesel.

As negociações poderão durar até o final do ano, e Merkel não será nomeada chanceler até que forme uma nova maioria.

A vitória de Merkel foi ofuscada pelo histórico avanço da ultradireita do AfD, que conseguiu cerca de 13% dos votos, segundo as pesquisas de boca de urna. "Vamos mudar este país [...] Vamos expulsar a senhora Merkel. Vamos recuperar nosso país", lançou Alexander Gauland, um dos líderes do AfD. Será a primeira vez desde 1945 que um partido revisionista e contrário ao islã, às elites, ao euro e à imigração entra na câmara dos deputados alemã. O AfD ficou à frente da esquerda radical de Die Linke (9%), dos liberais do FDP (10%) e dos Verdes (9%).

Nas regiões da antiga Alemanha Oriental, os nacionalistas chegaram a se impor como segunda força, com 22,8% dos votos, atrás da CDU (28,6%).

Várias cidades alemãs foram cenário de protestos espontâneos anti-AfD, começando por Berlim, onde centenas de pessoas se concentraram em frente ao local onde o partido comemorava os resultados.

A AfD avançou vários pontos ao final da campanha, apesar de ter radicalizado seu discurso e de ter pedido aos cidadãos que se sintam orgulhosos dos feitos dos soldados alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Algo nunca visto em um país cuja identidade desde o final da guerra foi construída com base no arrependimento pelo nazismo e na rejeição ao extremismo.

A comunidade judaica denunciou o programa "infame" do AfD, que quer pôr fim ao arrependimento alemão pelos crimes nazistas. "Voltam os fantasmas do passado", alertou a revista semanal "Der Spiegel". Durante a campanha, o partido chegou a dizer, entre outras coisas, que a Alemanha se tornou "refúgio de criminosos terroristas do mundo inteiro", além de denunciar a "traição" de Merkel, por ter aberto as portas em 2015 a centenas de milhares de solicitantes de refúgio, na maioria muçulmanos.

Neste contexto, Merkel terá que dialogar com seus aliados bávaros da CSU (União Cristão-Social) e à ala mais conservadora da CDU, que pediram reiteradamente à chanceler que escutasse seus militantes da ala mais radical, que a acusam de ser muito centralizadora. "Nos descuidamos de nossa ala direita e agora teremos que preencher o vazio com posições mais claras", declarou o chefe da CSU, Horst Seehofer.