Opositores e forças de segurança entraram em confronto em Caracas e em outras cidades venezuelanas
Opositores e forças de segurança entraram em confronto em Caracas e em outras cidades venezuelanas | Foto: Ronaldo Schemidt/AFP



São Paulo - Adversários do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, iniciaram às 6h (7h em Brasília) desta quarta-feira (16) uma greve geral de 48 horas para pressionar o governo contra a convocação da Assembleia Constituinte, cujos membros serão escolhidos em votação no domingo (30).

Algumas vias de Caracas e de outras cidades do país foram bloqueadas. Moradores de Ciudad Bolívar, a 580 quilômetros de Caracas, relataram terem sido reprimidos pela polícia com gás lacrimogêneo. Em áreas onde o governo conta com apoio popular, a adesão à paralisação foi mais baixa. Um homem de 30 anos, identificado como Rafael Vergara, morreu durante uma manifestação em Ejida, no Estado de Mérida, segundo o MP (Ministério Público), sem detalhar a causa da morte e o possível responsável. O número de mortos em quatro meses de protestos em todo o país chega a 104, de acordo com o balanço do MP.

A greve geral é a maior iniciativa contra o governo Maduro desde o plebiscito informal organizado no dia 16, no qual 7,5 milhões de venezuelanos expressaram rechaço à Constituinte, segundo a oposição.

Opositores afirmam que a Constituinte é uma tentativa de Maduro de se manter no poder apesar de seus baixos índices de popularidade. Eles convocaram a população a boicotar a votação, que ocorrerá de maneira territorializada e setorizada. "Eu os convido a não serem cúmplices da aniquilação da República, de uma fraude constitucional, da repressão", afirmou em vídeo o líder opositor Leopoldo López, em prisão domiciliar desde 8 de julho depois de passar três anos e cinco meses na prisão acusado de incitar protestos violentos.

Maduro enfrenta uma onda de saques e protestos que já deixou mais de cem mortos desde abril. A convocação da Constituinte, feita em maio, foi apresentada pelo líder chavista como uma saída para "pacificar" o país, mas a iniciativa acabou gerando novas manifestações.

Na terça-feira (25), o presidente pediu em comício pela Constituinte que os eleitores apresentem na votação seu "carnê da pátria", espécie de identidade digital que dá aos beneficiários de programas sociais acesso a alimentos, cujo abastecimento vem sofrendo cortes no país. "Carnê da Pátria na mão, todo mundo com seu carnê da pátria e sua identidade. Na porta das seções eleitorais, vamos checar todos os carnês, para saber se todos votaram", afirmou Maduro. A oposição diz que a exigência de apresentação do cartão é um mecanismo de controle social com objetivos políticos.

CUBA
O governo de Cuba negou nesta quarta-feira que pretenda mediar a crise política na Venezuela. No início do mês, o jornal "Financial Times" reportou que o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, viajou a Havana para pedir ao ditador Raúl Castro, um dos principais aliados de Maduro, que interceda junto à Venezuela para conter a violência no país.

"Cuba rejeita categoricamente essas insinuações e reitera o respeito absoluto pela soberania e autodeterminação da República Bolivariana da Venezuela", afirmou José Ramón Machado Ventura, segundo secretário do Partido Comunista cubano. "Cabe apenas ao povo e ao governo resolver suas dificuldades sem intervenção externa."