São Paulo - O extremista malinês julgado no Tribunal Penal Internacional (TPI) pela destruição de mausoléus catalogados como Patrimônio Mundial da Humanidade em Timbuktu se declarou culpado nesta segunda-feira (22), um marco na história do Tribunal, diante do qual nunca ninguém havia reconhecido as acusações. "Meritíssimo, lamento dizer que tudo o que ouvi até agora é verídico e reflete os acontecimentos", declarou Ahmad al Faqi al Mahdi após a leitura das acusações. "Declaro-me culpado" de crime de guerra, acrescentou o acusado, que pediu perdão ao povo do Mali pela destruição dos mausoléus.
Esta é a primeira vez em que um acusado se declara culpado ante o Tribunal Penal Internacional de Haia, uma corte permanente que julga crimes de genocídio, de guerra e contra a humanidade. Os especialistas esperam que o julgamento contra Ahmad al Faqi alMahdi, o primeiro contra um suposto extremista e que também inaugura os processos pelo conflito no Mali, envie uma "mensagem contundente" sobre a pilhagem e a destruição patrimonial em todo o mundo. "Atacar e destruir sítios e símbolos culturais de comunidades é uma agressão a sua história", afirmou a procuradora Fatou Bensouda. "Nenhuma pessoa que tenha destruído o que encarna a alma e as raízes de um povo deveria poder escapar da justiça."
O julgamento deve durar uma semana. A acusação afirma que o acusado, nascido em 1975, era um membro do Ansar Dine, um grupo extremista vinculado à Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI). O Ansar Dine controlou o norte do Mali por quase dez meses em 2012, antes que uma intervenção internacional impulsionada pela França os expulsasse da maior parte do território. Como chefe da brigada islâmica da moral, o acusado havia ordenado e participado dos ataques contra os mausoléus, destruídos com picaretas e enxadas.

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Timbuktu, conhecida como "a cidade dos 333 santos", venera em seus mausoléus uma série de personagens que, de acordo com os especialistas malineses do Islã, são considerados os protetores da cidade e a quem os fiéis se dirigem para pedir casamentos, implorar pela chuva ou lutar contra doenças.
As destruições se converteram em uma "tática de guerra para semear o medo e o ódio", havia escrito recentemente a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, na revista "International Criminal Justice Today". O objetivo destes ataques é "reduzir em pedaços o tecido da sociedade", acrescentou Bokova.