Os curdos levantaram brevemente, nesta quinta-feira (12), barricadas entre sua região e Mossul, depois de relatar a mobilização de tropas iraquianas em frente às suas posições, símbolo da guerra de nervos entre Bagdá e a região autônoma após o referendo de independência.
Esses preparativos para uma potencial ofensiva, anunciados quarta-feira à noite pelos curdos, foram negados pelas forças iraquianas e pela coalizão internacional presente na área.
"As duas principais estradas que ligam Erbil e Dohuk a Mossul foram reabertas para a população e a situação voltou ao normal depois de algumas horas", declarou no fim do dia um oficial militar curdo em Erbil.
"O fechamento", anunciado horas antes, "foi motivado pelo medo de um potencial ataque das forças iraquianas nas áreas em disputa", acrescentou.
No dia anterior, as autoridades curdas informaram os preparativos pelas forças iraquianas e disseram que temiam um assalto às áreas disputadas de Kirkuk e Mossul.
"Recebemos informações de que os (grupos para-militares) Hashd al-Shaabi e a polícia federal preparam um grande ataque a partir do sudoeste de Kirkuk e do norte de Mossul contra o Curdistão", proclamou o Conselho de Segurança do Governo Autônomo do Curdistão (KRG), o órgão de Defesa da região.
- 'Um único inimigo, o Daesh' -Esta declaração foi negada pelo porta-voz do Comando de Operações Conjuntas (JOC) - que inclui todas as forças iraquianas no terreno - e o da coalizão internacional, em uma coletiva de imprensa conjunta no ministério da Defesa.
"Nossa missão é clara: estamos lutando contra um único inimigo, o Daesh (acrônimo em árabe do grupo Estado Islâmico). O que interessa aos iraquianos é libertar o nosso país e acabar com essa organização terrorista", afirmou o general Yehya Rassul.
Ele também disse ter "recebido imagens do bloqueio das estradas" pelos curdos. "Acho que o diálogo entre o governo iraquiano e o Curdistão resolverá o problema", acrescentou.
"Esta não é a primeira vez que chegamos à linha de frente dos peshmergas (combatentes curdos), como em Tal Afar (em agosto) e hoje em Hawija, e não esquecemos o papel desempenhado pelos peshmergas" na luta contra o EI, assegurou o general Rassul.
O coronel americano Ryan S. Dillon, porta-voz da coalizão internacional, fez um discurso semelhante.
Perguntado sobre os preparativos para uma ofensiva das forças iraquianas, ele respondeu: "Primeiro, não a vimos e, segundo, nossa missão é clara: derrotar o Daesh", comentou.
As relações entre Bagdá e Erbil deterioraram-se após o referendo de independência, realizado em 25 de setembro pelas autoridades curdas por iniciativa do presidente Massoud Barzani.
Neste contexto de tensão, um tribunal em Bagdá ordenou na quarta-feira a prisão dos organizadores do referendo, a pedido do governo iraquiano, uma decisão que só pode ser aplicada se deixarem o Curdistão.
O governo central prometeu outras medidas de retaliação contra a região autônoma, entre as quais retirar as receitas do petróleo.
As ligações aéreas entre o Curdistão e o exterior foram interrompidas por Bagdá após a vitória do "sim" pela independência.
Na segunda-feira, o Conselho de Segurança Nacional, presidido pelo primeiro-ministro Haider al-Abadi, anunciou uma série de medidas destinadas a atingir a região autônoma, já prejudicada pela pior crise financeira de sua história.