Em seu esperado discurso, Francisco mencionou outros temas que o preocupam, como os indígenas e os imigrantes
Em seu esperado discurso, Francisco mencionou outros temas que o preocupam, como os indígenas e os imigrantes | Foto: Osservatore Romano



Santiago - Pelo menos três igrejas foram atacadas com bombas caseiras na madrugada desta terça-feira (16) no Chile. As ações aconteceram horas após a chegada do papa Francisco à capital Santiago e acontecem em um momento que a Igreja Católica enfrenta uma crise de popularidade no país, causada principalmente por um escândalo de acobertamento de abusos sexuais cometidos por padres. Com os casos desta terça, nove igrejas chilenas já registraram ataques desde a última sexta-feira (12).

De acordo com a imprensa local, cinquenta pessoas foram detidas em uma manifestação na primeira missa presidida pelo pontífice em Santiago. Mais de 100 manifestantes marcharam perto do parque O'Higgins, localizado no centro de Santiago, onde cerca de 400 mil fiéis começaram a chegar de madrugada para presenciar a liturgia de Francisco. A polícia atuou com jatos de água contra o protesto. Os manifestantes marchavam com cartazes contra os 80 padres acusados de terem cometido abuso sexual contra menores de idade desde 2000 no Chile, um escândalo que provocou a queda de popularidade da Igreja Católica e o aumento da desconfiança dos chilenos no clero. Não há registros de feridos nas ações.

Durante a madrugada, homens jogaram bombas em duas pequenas igrejas na comunidade de Cunco (cerca de 700 quilômetros de Santiago), na região de Araucania. Imagens mostram as igrejas sendo tomadas pelas chamas. O papa irá na quarta (18) para Temuco, capital da região, para um encontro com os índios mapuche, em um dos principais momentos de sua viagem. Grupos indígenas já foram acusados de atacar igrejas da região, mas as autoridades não apontaram os suspeitos pela ação desta terça. Uma terceira igreja foi atacada em Puente Alto, na região metropolitana de Santiago. Um coquetel molotov foi lançado em direção à construção. Ninguém ficou ferido. De acordo com o jornal chileno "La Tercera", foram encontrados folhetos anarquistas no local, mas a polícia não confirma a informação.

Na sexta, o país já tinha registrado outros quatro ataques. Na ocasião, promotores culparam o Movimento Juvenil Lautaro (MJL) pelas ações. O grupo de esquerda criado em 1980 fez uma série de ataques semelhantes contra alvos políticos no final de 2017. O governo do chile foi a público no sábado (13) para garantir a segurança do papa. Ainda não há informação oficial sobre quem seriam os responsáveis pelos ataques desta terça.

Os manifestantes também protestaram pelo alto gasto que os três dias de visita do papa ao Chile significarão, que pode alcançar os 6 milhões de dólares, cifra que a imprensa local estima poder superar os 10 milhões pelos gastos de segurança e comunicação que o governo deve cobrir. Os manifestantes avançaram entre gritos de "morrer lutando" e "cúmplices pedófilos". Vários protestos foram registrados desde o início da visita do papa Francisco ao Chile, que foi classificada pelo Vaticano como uma das mais complexas que já realizou. Dentro de seu percurso, Francisco visitará Temuco na quarta-feira e Iquique (norte) na quinta, para depois ir ao Peru em uma viagem de três dias.

VERGONHA
O papa Francisco expressou sua dor e sua vergonha pelos abusos cometidos por religiosos contra menores que mancharam a imagem da Igreja católica, em seu primeiro discurso diante de autoridades políticas e civis do Chile.
"Não posso deixar de manifestar a dor e a vergonha que sinto ante o dano irreparável causado a crianças por parte de ministros da Igreja", afirmou o Papa no Palácio de La Moneda, onde foi recebido pela presidente Michelle Bachelet.
"Temos que nos empenhar para que isso não torne a se repetir", acrescentou, em meio a aplausos.

"Quero me unir aos meus irmãos no episcopado, já que é justo pedir perdão e apoiar as vítimas com todas as forças, ao mesmo tempo em que temos de nos empenhar para que isso não volte a se repetir", enfatizou. Em seu esperado discurso, Francisco também mencionou outros temas que o preocupam, como os indígenas, os imigrantes, o meio ambiente e os jovens. "É preciso escutar os povos originários, frequentemente esquecidos e cujos direitos precisam ser atendidos e sua cultura cuidada, para que não se perca parte da identidade e da riqueza desta nação", afirmou Francisco, ao abordar a questão indígena. "Com eles, podemos aprender que não há verdadeiro desenvolvimento em um povo que dá as costas para a terra e para tudo e todos que os cercam", insistiu.

Ele também pediu que sejam ouvidos os imigrantes, "aqueles que batem às portas deste país em busca de melhoria e, por sua vez, com a força e a esperança de quererem construir um futuro melhor para todos", incluindo crianças, jovens e idosos.