Londres pretende manter um "acordo de livre comércio audacioso e ambicioso" com os integrantes do bloco
Londres pretende manter um "acordo de livre comércio audacioso e ambicioso" com os integrantes do bloco | Foto: Daniel Leal-Olivas/AFP



Bruxelas - Ao ativar o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, o Reino Unido deu início a dois anos de negociações da separação com a União Europeia (UE), que já se anunciam difíceis e cercadas de incertezas por conta das expectativas de um lado e de outro do Canal da Mancha, segundo analistas.

O primeiro dia da contagem regressiva para o Brexit já começou a deixar as diferenças aparentes. A primeira-ministra britânica, Theresa May, advogou por acordar os termos da futura relação com a UE "junto com os termos de saída", opção rechaçada pela alemã Angela Merkel.

"O que pode provocar em um primeiro momento mais problemas é se o Reino Unido disser que deve negociar a saída e o futuro acordo em paralelo", como fez Theresa May, afirmou à AFP Ignacio Molina, pesquisador do Real Instituto el Cano. "Mas se os britânicos disserem que não pensam em fechar o acordo de saída sem ter resolvido o acordo da futura relação, é um problema grave", apontou Molina, para quem a contagem regressiva iniciada nesta quarta (29) pressiona Londres "porque se não houver acordo, o resultado será muito desastroso para eles".

Sobre as futuras relações com a UE, Theresa May expressou na carta enviada a seus sócios europeus seu desejo de "um acordo de livre comércio audacioso e ambicioso", principalmente quando o Reino Unido se recusou a permanecer no Mercado Único Europeu para não aceitar uma de suas liberdades: a livre circulação de pessoas.

"O comércio é obviamente um assunto importante e um dos quais mais se fala, mas um assunto ainda mais difícil será o tema do fluxo de pessoas", assinalou Catherine Barnard, professora de Direito Europeu na Universidade de Cambridge, que destaca a alusão de Theresa May para garantir os direitos dos cidadãos europeus residentes no Reino Unido.

Esta era uma das prioridades da UE definidas na semana passada pelo negociador da Comissão, Michel Barnier, que liderará as negociações em nome dos 27 países da UE, junto com a fatura que Londres deve pagar pelos compromissos já firmados com seus sócios.

Diante do potencial comercial do bloco europeu, Theresa May escolheu abordar a questão da defesa, advertindo em sua missiva que, "em termos de segurança, um fracasso em alcançar um acordo significaria que nossa luta contra o crime e o terrorismo ficaria enfraquecida". "O Reino Unido é uma potência militar, diplomática, [membro] do Conselho de Segurança e [mantém] uma relação especial com os Estados Unidos", destacou Molina.