PDVSA, a estatal petroleira venezuelana, tem dívida externa de R$ 196 bilhões e parte desse valor está atrasado
PDVSA, a estatal petroleira venezuelana, tem dívida externa de R$ 196 bilhões e parte desse valor está atrasado | Foto: Federico Parra/AFP



Caracas - A agência de classificação de risco Standard & Poor's divulgou nesta terça-feira (14) que a Venezuela entrou em um "calote seletivo" por não pagar uma dívida de US$ 200 milhões (R$ 660 milhões). O pagamento do bônus de dívidas com vencimento em 2019 e 2024 deveriam ter sido feitos há 30 dias, mas não aconteceram, o que levou a agência a anunciar a medida.

A agência decidiu rebaixar a nota da dívida soberana em moeda estrangeira de longo prazo do país para SD (sigla para calote seletivo, em tradução do inglês), o que significa que o país não pagou um bônus específico, mas ainda pretende honrar suas dívidas.

Segundo a Standard & Poor's, que foi a primeira agência a anunciar a moratória do país sul-americano, "existe uma chance em duas da Venezuela cometer um novo calote nos próximos três meses". A agência fez o anúncio poucas horas depois de uma reunião entre o governo de Nicolás Maduro e credores internacionais da PDVSA (a estatal venezuelana de petróleo).

Entre 60 e 100 detentores de títulos da empresa foram recebidos em Caracas após um chamado Maduro, que pretende renegociar a dívida externa de US$ 60 bilhões (R$ 196 bilhões) da estatal petroleira.

Maduro havia declarado, no domingo (12), que 400 investidores haviam confirmado presença no encontro e que a Venezuela jamais entraria em default (calote).
A expectativa era de que, na reunião, o governo apresentasse propostas sobre como pretende pagar seus compromissos de curto e longo prazo. Mas, ao que parece, nada disso aconteceu.

De acordo com investidores que participaram do evento, o vice-presidente, Tareck El Aissami, e o ministro das Finanças, Simón Zerpa, apenas leram uma nota e prometeram que mesas técnicas serão montadas para discutir como será feita a reestruturação da dívida. "Não propuseram nada, foi uma oportunidade perdida", afirmou à agência Reuters um dos investidores que participou do encontro.

DECISÃO
A Associação Internacional de Swaps e Derivativos (Isda, em inglês), que reúne proprietários de títulos da dívida, se reuniu após o anúncio da S&P com o objetivo de declarar a moratória do país. Entretanto, a decisão foi adiada. Em breve comunicado, a entidade informou que vai se reunir novamente na quinta-feira em Nova York "para continuar as discussões" e decidir se pode acionar o pagamento dos seguros CDS (Credit Default Swaps).
A Isda congrega os principais atores do mercado financeiro global e suas decisões podem desencadear uma série de mecanismos legais contra um país em calote.

CHINA E RÚSSIA
Maduro anunciou avanços nas negociações com seus aliados: China, país com o qual tem um dívida de US$ 28 bilhões , e Rússia, que assinará possivelmente nesta quarta-feira um acordo de reestruturação de US$ 3 bilhões dos US$ 8 bilhões devidos pela Venezuela.

O porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang, disse que "a cooperação sino-venezuelana em termos de financiamento acontece normalmente".
Ao lado de Bolívia e Egito, China e Rússia boicotaram uma reunião no Conselho de Segurança da ONU sobre a Venezuela, durante a qual a representante dos Estados Unidos chamou o país sul-americano de "ameaça".

PRESSÃO INTERNACIONAL
Somando-se a EUA e Canadá, os chanceleres da União Europeia adotaram na segunda-feira uma série de sanções contra o governo de Maduro. Caracas chamou as medidas de "hostis" e pediu uma reunião com a diplomacia europeia.

Com a queda dos preços do petróleo, fonte de 96% das divisas do país, o governo cortou drasticamente as importações para pagar a dívida, o que provocou uma severa escassez de alimentos e medicamentos.

De acordo com o Eurasia Group, Maduro busca "liberar recursos" para importações antes das eleições presidenciais de 2018. A médio prazo, no entanto, a crise deve piorar, e a Venezuela enfrentaria litígios e possíveis embargos de ativos da PDVSA.