Os tablets já começaram, há algum tempo, a fazer parte do dia a dia das crianças. Intuitivo, seus recursos logo são dominados pelos pequenos. Mas se engana quem acha que o conteúdo destes famosos gadgets se presta exclusivamente ao entretenimento. Exemplo de uso pedagógico e, ao mesmo tempo, divertido é o livro digital interativo.
O londrinense Diogo Catarino lançou seu primeiro livro neste formato, que está disponível como um aplicativo na Apple Store. O livro conta a história de John, um simpático ornitorrinco que chega ao reino do Rei Cachorro Luke. Por ser um mamífero um pouco diferente, mesmo no reino dos animais ele causa estranheza.
Apesar do manuseio ser parecido com o de um livro comum – virando-se as páginas como o dedo -, o e-book pode explorar os diversos recursos de interatividade que um tablet ou um smartphone podem oferecer. Nas páginas do livro de Catarino, o pequeno leitor encontra jogos escondidos, como o jogo da memória e o quebra-cabeça, e ainda pode colorir desenhos dos personagens da história. Em outra página, o autor do livro ensina, em um vídeo, como fazer um chapéu de jornal, como o que o Ornitorrinco John usa.
No aplicativo há a opção de narrar a história, que tem tradução nas línguas inglesa e espanhola. Para o autor, estes recursos de interatividade junto a linguagens diferentes como texto, imagem, som e vídeo podem motivar a criança a ler. Catarino também pretende oferecer o conteúdo a escolas. "Sei que (a disseminação de livros interativos) não é imediato, mas é algo que vai acontecer", opina.
De acordo com Mansur Bassit, diretor executivo da Câmara Brasileira do Livro (CBL), e Karine Pansa presidente da CBL, o mercado mundial de livros infantis, técnicos e didáticos já está acordando para os formatos eletrônico e interativo. "Já existem versões interativas tanto para livros infantis quanto para livros didáticos. Não são muitas, talvez não gerem a receita que esperassem, mas as editoras já estão investindo nisso", afirma Karine.
Em 2011, as editoras brasileiras publicaram mais de 5 mil títulos em formato digital, o equivalente a 9% do total de livros lançados no formato impresso. Cerca de 5% do público leitor brasileiro teve contato com um livro digital no ano retrasado. O setor faturou, neste mesmo período, R$ 868,5 mil. Os valores são ainda pequenos, mas têm potencial para crescer. "Temos relatos de alguns editores que, entre novembro e dezembro de 2012, viram as vendas de seus e-books mais do que duplicarem", afirma Bassit.
Segundo Catarino, o aplicativo do seu livro já foi baixado por pessoas de nove países, entre eles Austrália, Colômbia, Espanha e Estados Unidos. "Se tivesse lançado o livro físico, nunca teria saído daqui", diz ele, que fez tentativas de publicar o livro no formato impresso, mas não teve sucesso.
"As aventuras de Ornitorrinco John: A grande chegada" foi ilustrado por uma empresa de São Paulo, e o aplicativo desenvolvido pela londrinense Alternativa Software. Na Apple Store, o livro está à venda por US$ 0,99 para iPhone e US$ 2,99 para iPad. Em breve, também será lançado para dispositivos com sistema operacional Android.

Na educação
Para o uso de tecnologias como o e-book na educação, o diretor executivo da CBL vê um bom cenário no País devido a alguns fatores, entre eles, a aceitação do brasileiro a novas tecnologias, como o tablet, e o surgimento de livrarias e bibliotecas virtuais que, "além de ampliar a oferta para o leitor, podem atrair pessoas que não têm o hábito de ler mas que gostam de tecnologia", comenta Bassit.
Em segundo lugar, ele lembra do investimento do Governo Federal na compra de tablets para professores do ensino público por meio do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) e do edital do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para inscrição de obras didáticas do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) referente ao ano letivo de 2015, que incluiu obras multimídia. Em junho deste ano, o 4º Congresso Internacional CBL do Livro Digital também terá esta como uma das principais pautas, acrescenta Bassit.

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