O recém-lançado Ghost Recon: Wildlands
O recém-lançado Ghost Recon: Wildlands | Foto: Divulgação



De um lado, games que prezam por partidas co-op e multiplayer online entre diversos jogadores, como é o caso dos recém-lançados For Honor e Ghost Recon: Wildlands. Do outro, jogos que ainda focam somente no singleplayer – em que o jogador se diverte sozinho em seu sofá sem se preocupar em estar conectado com outros na rede – na linha dos aclamados Zelda: Breath of The Wild e Horizon: Zero Dawn, que também chegaram ao mercado nas últimas semanas.

Entre os gamers, o duelo é equilibrado. Alguns prezam pela narrativa, uma história bem contada no modo campanha. Outros querem interagir com os amigos, criar estratégias frenéticas no multiplayer. É claro que existem jogos que conseguem mesclar ambos os estilos com sucesso – como é o caso de GTA V – mas isso é bem difícil de acontecer. Especialistas que conversaram com a FOLHA relatam que os games multiplayer estão na hype e precisam ser explorados ao máximo. Já alguns comerciantes especializados ressaltam que jogos neste estilo estão perdendo força, e que as vendas estão mais intensas para títulos que conseguem trazer uma história marcante, mesmo que apenas uma pessoa jogue por vez. Um embate bem equilibrado.

Marcelo Tavares, diretor da Brasil Game Show (BGS), maior feira de games da América Latina e que em 2017 chega em sua 10ª edição, decreta: jogos singleplayer não são mais tendência. "Ainda existem muitos jogadores que preferem jogar sozinhos, mas hoje a inclinação das publishers está para o modo cooperativo e multiplayer online, com linhas competitivas. No passado, sem a internet, era necessário uma pessoa jogando ao seu lado. Hoje em dia, mesmo no co-op, o bacana é estar online com um amigo jogando em outro lugar".

Para Tavares, as empresas que começaram a surfar nesta onda dos games online mais cedo estão com uma boa vantagem competitiva no mercado. Ele cita também aquelas que têm se adaptado a essa nova realidade. "O Clash Royale era um jogo que, a princípio, não era um multiplayer online em tempo real. Depois que passou a ser, deu um salto no número de jogadores e agora possui até campeonatos".

O grande sonho das publishers, sem dúvida, é que os jogos online caiam no gosto dos gamers e se popularize como "e-Sport" - ou esporte eletrônico - com competições que inclusive já estão passando na TV e arrebatam milhões de fãs pelo mundo. "O game passa de ser apenas um jogo e se torna uma modalidade esportiva, com uma longevidade maior. Isso depende do investimento da empresa, ações promocionais de marketing e, claro, que o jogo seja bom".

O aclamado Zelda: Breath of The Wild
O aclamado Zelda: Breath of The Wild | Foto: Divulgação



OUTRO LADO
O interessante é que, quando se pensa nos consoles de mesa, a atração por jogos que focam apenas no multiplayer online não é tão grande assim, pelo o que é relatado pelo comércio especializado. Proprietário da Koopa Troopa Games, Gabriel Modenutti comenta que os três líderes de venda neste ano são Horizon: Zero Dawn, Zelda: Breath of The Wild e NioH, todos jogos unicamente singleplayer. "Alguns modelos de jogos multiplayer estão se esgotando e o pessoal está cansado de repetições", ressalta.

Para Modenutti, as publishers que apostam apenas em games neste formato estão "se matando". "É claro que online é forte, mas não se sustenta sozinho. Alguns jogos foram lançados apenas com esse foco e as vendas foram um fiasco. Os jogos precisam ter um modo campanha decente, um "split screen" básico para você jogar co-op com um amigo em casa e um online com variedade, para que não se tornem repetitivos".

Por fim, o lojista comenta que o Nintendo Switch – novo console da empresa japonesa – tem tudo para trazer um modo campanha forte novamente, como fez com Zelda, e também uma "interação maior entre os jogadores no co-op local", graças à mobilidade da sua plataforma.

Bertrand Chaverot, diretor da Ubisoft para América Latina
Bertrand Chaverot, diretor da Ubisoft para América Latina | Foto: Divulgação



"Nada é mais desafiador que o cérebro de um amigo"
Se tem uma publisher atualmente que acredita nos games com foco no co-op e multiplayer on-line, sem dúvida, é a Ubisoft. Conhecida no mercado por lançar jogos com uma frequência impressionante, a empresa de origem francesa tem no seu portfólio recente muitos jogos com essa pegada, como são os casos de Raibow Six Siege, The Division e, nas últimas semanas, For Honor e Ghost Recon: Wildlands.

Em entrevista exclusiva para a FOLHA, Bertrand Chaverot, diretor da Ubisoft para América Latina, não titubeia em dizer que 90% da atual geração de consoles está conectada na rede. "Nada é mais desafiador do que o cérebro de um bom amigo", salienta, comparando a inteligência artificial com a humana, já que o modos multiplayer se tratam de embates de jogadores versus jogadores.

Neste sentido, Chaverot comenta que o investimento para que o jogo rode legal on-line é muito importante, já que são diversos jogadores num mesmo ambiente on-line. "A Ubisoft tem um time dedicado aos jogos on-line, aprendemos muito com Rainbow Six e The Division e estamos empenhados em ajudar os gamers. Por causa do sucesso desses jogos, tivemos que ampliar os recursos dedicados a essa questão. Foi difícil para todas as publishers, mas agora virou um padrão e oferecemos assistência por chat 24 horas por dia, todos os dias da semana, a fim de resolver problemas técnicos específicos de drivers ou atualizações".

Os números apresentados pelo diretor da Ubisoft mostram que a escolha por jogos neste formato se mostra acertada. Ele cita por exemplo For Honor, que oferece pela primeira vez um jogo de combate corpo a corpo com tática militar, com um gameplay inovador de espadas. "No Brasil, já temos 40 mil jogadores registrados, um resultado fantástico para apenas três semanas desde o lançamento de um jogo de uma série original. Com esse início muito positivo e a viralização das mecânicas dos jogos on-line de alta qualidade, sabemos que vamos chegar em breve aos 100 mil usuários no Brasil. E ainda há muito potencial! Rainbow Six, que saiu em dezembro de 2015, continua batendo recordes mês a mês".

O diretor não esconde que For Honor foi pensado para, quem sabe, se tornar um e-Sport e, assim aglomerar uma multidão de jogadores em cima do game. "Os e-Sport têm um potencial enorme no mundo e especialmente no Brasil, onde já há uma cultura de competição entre amigos, que vem dos esportes. For Honor, assim como Rainbow Six, foi pensado considerando essa questão. Estamos trabalhando em competições locais de alto nível que permitirão aos melhores competir por títulos mundiais".

Apesar da empolgação nítida em cima dos jogos multiplayer, isso não significa que a publisher não considere importante também trabalhar em games singleplayer. "Há espaço para todos os jogos bons. Veja o caso de Zelda: Breath of The Wild, que é 100% single player e teve notas incríveis da crítica", complementa. (V.L.)