Uma das teorias por trás do desaparecimento do voo da Malaysia Airlines que partiu de Kuala Lumpur para Pequim no dia 8 de março de 2014 é que uma carga de baterias de lítio que a aeronave carregava tenha sido a causa do acidente. Sob condições extremas, o componente pode exalar gás tóxico ou causar incêndios e explosões.

As explosões envolvendo o Galaxy Note 7, da Samsung, também teriam como causa a bateria. Segundo investigações da própria fabricante, defeitos na produção dos componentes teriam ocasionado os acidentes. Na semana passada, em um acesso de fúria, um passageiro jogou seu powerbank (bateria portátil) no chão, causando uma explosão em aeroporto da Turquia. O dispositivo é proibido no voo em que o passageiro estava embarcando. Após a explosão, o saguão do aeroporto ficou tomado por fumaça.

Esses são apenas alguns incidentes envolvendo um componente cada vez mais presente na vida das pessoas: a bateria de lítio. Utilizado em smartphones, notebooks, tablets, powerbanks, diversos outros eletrônicos e até mesmo em veículos, como o hoverboard (skate elétrico), o componente é a melhor e mais segura solução para a demanda crescente das pessoas por energia elétrica em dispositivos portáteis, diz José Antônio de Souza Junior, gerente de operações da divisão Consumer Technology da UL do Brasil, empresa global de ciências da segurança. "Sob o aspecto tecnológico, é a melhor solução, combinando tamanho, capacidade e autonomia. É a grande evolução, a melhor tecnologia e a mais segura", reitera.

Manusear baterias de lítio de maneira inapropriada pode causa incêndios, explosões ou vazamento de gás
Manusear baterias de lítio de maneira inapropriada pode causa incêndios, explosões ou vazamento de gás | Foto: Gustavo Carneiro



Segundo Souza Junior, as baterias de lítio possuem dispositivos de segurança que evitam, por exemplo, que o componente sofra sobrecarga elétrica e uma câmara para diminuir a pressão interna em caso de vazamento de gás. "Há até sete proteções em uma bateria."


Etapas queimadas
Porém, a demanda cada vez maior por baterias menores e com alta capacidade pode fazer com que algumas etapas importantes da produção sejam 'queimadas', colocando em risco a segurança do consumidor. "Trabalhamos no limite da tecnologia, da demanda. Cada dia que passa ansiamos por soluções mais compactas e mais potentes e colocamos no mercado de maneira cada vez mais rápida, e eventualmente pode acontecer de uma etapa (da produção) não ser rigorosamente cumprida", diz o gerente. Além disso, podem ocorrer falhas no uso do componente – exemplos são amassar, mutilar, esforçar mecanicamente ou submeter a temperaturas excessivas a bateria de lítio (veja dicas no infográfico).

A UL explica que a bateria gera energia elétrica por meio de reações eletroquímicas de oxidação (perda de elétrons) e de redução (ganho de elétrons). Por isso, a célula da bateria é formada por dois eletrodos (uma placa positiva e outra negativa), separados por um material isolante térmico. A maioria dos acidentes acontece quando há aquecimento excessivo ou pressão mecânica sobre a área externa da bateria, fazendo com que o isolante térmico se rompa, gerando um curto circuito. Disso, podem resultar incêndios, explosões ou a emissão de gases tóxicos da bateria.

Regras rigorosas
Por isso, regras rigorosas na produção desse componentes são essenciais para preservar a segurança dos consumidores. No Brasil, apenas para as baterias de lítio utilizadas em celulares são exigidos testes, para a certificação obrigatória da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) - prevista na Resolução 481/2007 -, afirma Souza Junior. De acordo com ele, as baterias aplicadas em outros aparelhos podem ser comercializadas sem qualquer exigência.

Segundo a área técnica da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), as baterias de lítio (exceto as de celulares) passam por testes nos equipamentos em que estão inseridas, atendendo a normas internacionais. "Hoje, as baterias de lítio (que não de celulares) são submetidas a testes nos equipamentos em que estão agregadas. Estes equipamentos atendem, entre outras, às normas internacionais IEC 60950-1 Information technology equipment – Safety – Part 1: General requirements e IEC 62368-1 Audio-/vide, information and communication technology equipment – Part 1: Safety requirements", informa nota enviada pela assessoria de imprensa.

Imagem ilustrativa da imagem Seguras e potencialmente nocivas



Certificações específicas
Nos EUA, há normas exigidas para a bateria de lítio em si e para as mais diversas aplicações do componente. Um exemplo é para o hoverboard. Naquele país, a UL é autora de uma norma específica para esses produtos. O alerta veio após diversos relatos de explosões do veículo elétrico. "No Brasil, a única diferença é que não existe a preocupação com toda a aplicação que a bateria de lítio tem", comenta Souza Junior. Segundo a UL, para evitar acidentes as baterias precisam ser projetadas e construídas com materiais resistentes ao calor e à pressão física, e contarem com circuitos de proteção contra sobrecarga.

Produtos devem conter alertas, diz Procon
Quando há uma periculosidade inerente à sua constituição, um produto precisa informar ao consumidor a maneira correta de manuseá-lo. Isso é o que informa Cláudia Silvano, diretora do Procon Paraná. A obrigatoriedade está prevista na seção I do Código de Defesa do Consumidor (Da Proteção à Saúde e Segurança): "Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito".

"Sempre que tem um produto que acarreta perigo ao consumo, o consumidor tem que ser informado do seu manuseio, dos cuidados e do descarte", afirma Cláudia. Já se o produto apresenta alto grau de nocividade ou periculosidade não poderá ser colocado no mercado. Esse foi o caso, segundo a diretora, do Galaxy Note 7. "Além de periculosidade inerente, havia periculosidade excessiva. A bateria era defeituosa." A fabricante foi obrigada, então, a anunciar o defeito publicamente e a fazer o recall do produto em todo o mundo.