Com apenas 15 anos e uma bagagem de dar inveja a muitos profissionais da área de Tecnologia da Informação (TI), Pedro Carrijo é franzino, mas foi um dos centros de atenção em um evento realizado semana passada em São Paulo (SP) com a presença de executivos da Oracle, empresa norte-americana detentora do Java, uma das linguagens de programação mais conhecidas no mundo. O menino já desenvolveu três sistemas – um para a mãe, que é costureira, ter controle dos seus ganhos; outro para o pai, dono de lava rápido, gerenciar a entrada e saída de clientes; e mais um para uma empresa norte-americana de "hospedagem de bicicletas" com base no uso de QR code para fazer a gestão das bikes que entram e saem do estabelecimento por meio de dispositivos móveis. Hoje, Pedro é jovem aprendiz na Oracle, e alterna suas idas à escola com o expediente na filial da empresa, em São Paulo, durante o dia.
"Aprendi a programar durante a recuperação de uma cirurgia de transplante de fígado por seis meses. Sempre gostei muito de jogos e quis aprender para fazer meus próprios", conta o menino, em entrevista à FOLHA durante o JavaOne promovido pela Oracle na capital paulista. Como jovem aprendiz em uma grande empresa, ele diz desejar seguir carreira desenvolvendo sistemas que façam a diferença e ajudem as pessoas de alguma maneira. Sua ideia é desenvolver um software que escaneie vários pontos do corpo de uma pessoa para auxiliar quem não consegue ver ou escutar.
Pedro é a prova de que não existe idade certa para aprender programação. "No início foi difícil", ele relata. Mas orienta que, depois de aprender a lógica da programação, tudo fica mais fácil. Atualmente, além de Java, o garoto também sabe programar utilizando outras linguagens. "Hoje em dia é bem mais fácil aprender a programar. Antes, tinha que pegar livro na biblioteca, mas hoje dá para conseguir qualquer material na internet a um preço acessível", observa o jovem programador. "Com muito esforço, qualquer pessoa consegue aprender."
Isaura Carrijo, mãe de Pedro, incentiva o menino. "A criança que estuda programação, além de desenvolver sistemas, usa a mesma lógica para resolver outros problemas, é capaz de encontrar várias maneiras diferentes de resolver um mesmo problema na escola, na vida, no dia a dia", diz, orgulhosa. "E hoje em dia, a tecnologia está acessível a todo mundo."

Capacitação
Durante o JavaOne, a Oracle selecionou três Etecs (Escolas Técnicas Estaduais) de São Paulo para que os alunos de Ensino Técnico das áreas de TI pudessem ter um contato mais próximo com a linguagem de programação. Em grupos, eles puderam desenvolver um código em Java que fizesse um robô feito com peças de Lego se mover e acender luzes. Todos eles foram bem-sucedidos em sua tarefa, e com bastante facilidade. "Amanhã, eles serão nossos colegas de trabalho", comenta Leonardo Barros, consultor sênior da Oracle, que explica que o objetivo da atividade foi "evangelizar" a comunidade para a tecnologia e contribuir para que os jovens estejam preparados para o mercado de trabalho já logo depois que saem da escola. Ele confirma que o interesse pela programação parte de pessoas cada vez mais jovens.
"É uma área que sempre vai estar muito em alta", justifica o estudante do curso técnico de TI Vitor de Oliveira, de 17 anos. A tecnologia, diz, é uma oportunidade de automatizar serviços, ajudando as pessoas a realizarem suas atividades mais rapidamente. Ana Carolina Bispo, de 15 anos, e Suzana Barros, de 18, também estudantes dos cursos técnicos de TI e de Redes de Computadores, também estão de olho no mercado de trabalho e mostram que, em uma profissão dominada por homens, meninas também têm vez. "Temos as mesmas capacidades que os garotos", comenta Ana Carolina, que quer ser programadora.

Mundo conectado
"Essa é uma outra conexão com o mundo", diz Ricardo Barros, diretor de Marketing Middleware da Oracle para a América Latina, sobre o interesse cada vez mais precoce dos jovens por programação. Na sua visão, tudo um dia terá alguma ligação com tecnologia, a exemplo do que já ocorre com o fenômeno da Internet das Coisas (Internet of Things – IoT), em que objetos passam a se conectar uns aos outros mais intensamente. "O IoT é um processo em que tudo será algo de tecnologia."