Em tempos difíceis, a indústria busca maneiras de aumentar a produtividade e a eficiência na linha de produção. Tanto que a indústria 4.0, ou a indústria do futuro, é tema de destaque entre as startups. Das seis empresas paranaenses citadas no ranking da "100 Open Startups", plataforma internacional que conecta startups a grandes empresas, três estão relacionadas a esse assunto. O ranking lista as startups cadastradas na plataforma que despertaram maior interesse de grandes empresas e que são promissoras para negócios e investimentos. As duas primeiras da lista são de Curitiba. São Paulo é o Estado com maior número de empresas do ranking (36), seguido de Minas Gerais (27), Rio Grande do Sul (8), Santa Catarina e Rio de Janeiro (ambos com 7) e Paraná (6).

"O ranking mede a atratividade das startups para grandes empresas que têm o interesse de interagir com elas", explica Rafael Levy, cofundador e CTO do Movimento 100 Open Startups. Participam do ranking as startups cadastradas na plataforma do movimento, que podem passar por cinco etapas. Quando chegam ao quinto nível, elas já possuem pelo menos três contratos com grandes empresas, e é desse grupo que saem as 100 listadas no ranking. "Grande parte das empresas e indústrias está passando por uma crise de inovação, está sofrendo com a globalização e produtos chineses lá fora e tem que se modernizar", diz o cofundador do Movimento 100 Open Startups, sobre a Indústria do Futuro.

[left]

A startup curitibana GoEpik, primeira no ranking nacional, usa tecnologia da Realidade Aumentada para auxiliar operadores a fazerem a manutenção do maquinário industrial
A startup curitibana GoEpik, primeira no ranking nacional, usa tecnologia da Realidade Aumentada para auxiliar operadores a fazerem a manutenção do maquinário industrial

[/left]

Realidade Aumentada
A curitibana GoEpik, primeira colocada no ranking geral do Movimento, está inserida nesse setor. Atualmente, a startup está em processo de aceleração na Oxigênio, aceleradora da seguradora Porto Seguro em São Paulo. A empresa usa Realidade Aumentada para auxiliar operadores a fazerem a manutenção do maquinário industrial pela tela do smartphone. O aplicativo funciona como um "guia", exibindo instruções na tela do celular conforme o operador aponta a câmera para os equipamentos. "A plataforma guia o operador durante o processo de manutenção, fazendo com que as instruções apareçam 'grudadas' na máquina", explica Wellington Moscon, um dos sócios da startup.

Imagem ilustrativa da imagem Indústria 4.0 em destaque



Uma das funções é o "especialista remoto", que aciona via smartphone um especialista para ajudar o operador a fazer o reparo na máquina em tempo real. "Ele (o especialista) pode estar em qualquer lugar do Brasil. O operador passa a ser os 'olhos' do especialista."

Ao auxiliar o operador no processo de manutenção, o aplicativo evita interrupções na linha de produção. "Enquanto a máquina está parada, a indústria está perdendo dinheiro", comenta Moscon. Além disso, a solução beneficia indústrias que não têm profissionais especializados no equipamento, e diminui a possibilidade de "turnover", quando a empresa treina um funcionário para determinada função e o perde para outras organizações.

Imagem ilustrativa da imagem Indústria 4.0 em destaque



Indústrias que já utilizam a solução da GoEpik incluem BRF, Renault e Porto Seguro, conta o sócio. De janeiro para cá, a startup cresceu 600%. Além de um investimento de R$ 170 mil da Oxigênio, a GoEpik conquistou recursos de um investidor anjo de São Paulo.


Alta performance
Outra startup curitibana no ranking 100 Open Startups é a Tau Flow, que ficou na 14ª posição. Formada por três engenheiros, a empresa usa a Dinâmica dos Fluídos Computacional (em inglês Computational Fluid Dynamics – CFD) - mesma ciência utilizada pela Fórmula 1 no desenvolvimento de projetos de carros - para ajudar empresas a obterem as melhores condições de escoamento de gás, líquido ou particulados com redução de custos, melhoria da eficiência e segurança do processo.

A CFD se vale de tecnologia de alta performance para fazer simulações computacionais em três dimensões sem a necessidade de desenvolver protótipos ou testes práticos. Assim, a empresa economiza recursos e evita riscos de segurança. Exemplo de aplicação é na criação de aves e suínos. A atividade exige que a granja esteja com a temperatura homogênea em todos os pontos. A CFD simula o ambiente do criadouro em supercomputadores, faz uma série de cálculos e aponta os ajustes necessários no local. "Baseado nisso, conseguimos diagnosticar o problema", conclui Marcelino Caetano, sócio fundador da Tau Flow.

A Tau Flow tem apenas um ano e três meses de idade e já conquistou grandes clientes como BRF, Johnson & Johnson e Votorantim. Hoje, está incubada no Centro Internacional de Inovação (C2i) da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), em Curitiba, e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Imagem ilustrativa da imagem Indústria 4.0 em destaque



Inovação
Na opinião de Filipe Cassapo, gerente do Centro Internacional de Inovação e Aliança Estratégica do Senai no Paraná, ainda há um "espaço grande a ser percorrido" a fim de aumentar a produtividade da indústria brasileira, o que justifica o interesse das grandes empresas por startups que atuam na área de Indústria 4.0. "Atualmente, temos uma riqueza produzida três vezes inferior à da Alemanha e Estados Unidos. Todas as indústrias devem aumentar a sua produtividade. É absolutamente natural que todas as empresas tenham interesse no tema. E as startups são um elemento fundamental para o ecossistema de inovação."

Para ele, o fato de o Paraná despontar com seis negócios no ranking 100 Open Startups prova que o Estado tem se desenvolvido como um ambiente de alto impacto de inovação. O fortalecimento das parcerias entre universidades, centros de pesquisa e empresas, as políticas públicas que incentivam empreendimentos inovadores e o desenvolvimento do relacionamento das empresas inovadoras com as suas cadeias contribuem para esse resultado.

Educação imersiva em primeira pessoa
O segundo colocado do ranking das startups mais promissoras para negócios e investimento também é do Paraná, e da área de Educação. A curitibana Beenoculus é criadora de um óculos de Realidade Virtual (RV) e de uma metodologia de ensino imersivo em primeira pessoa, que se tornou a principal atividade da empresa. Em parceria com escolas, a startup faz a coprodução do conteúdo a ser aplicado em sala de aula usando vídeos em 360º, computação gráfica e o conceito de gamificação. "Todo esse aparato vai fazer com que a aula seja imersiva de uma forma disruptiva", explica José Evangelista Terrabuio Junior, um dos fundadores da empresa. "Nosso conceito entra como auxiliar pedagógico. Nos últimos 15 minutos da aula, o aluno faz uso da ferramenta. Os conteúdos devem ser curtos, imersivos e impactantes."

Terrabuio Junior enfatiza que os jovens são nativos digitais e verdadeiros "early adopters". "Hoje, quem consegue manter a atenção de um aluno em uma aula expositiva linear é um herói." No ano passado, a Beenoculus conquistou um investimento anjo e foi selecionada para o Programa Start-Ed da Fundação Lemann. Mesmo com um investimento com retorno a longo prazo, a educação já começa a atrair a atenção de grandes empresas, observa o fundador da startup. "A educação – formal, corporativa ou profissional - é a base de tudo."(M.F.C.)