Imagem ilustrativa da imagem A tecnologia a favor do processo de criação
| Foto: Shutterstock
Um dos casos mais famosos de uso de design generativo é o da Airbus A320, que gerou o projeto de uma nova partição de cabine: mais resistência e menos peso
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Imagine poder gerar projetos de engenharia, arquitetura ou de design com a ajuda do computador. Apesar de isso já ser realidade na maioria das empresas, a computação hoje traz uma vantagem ainda maior: a contribuição das ferramentas tecnológicas não só na confecção do projeto, mas também na sua concepção. Mais ainda: a automatização do processo de criação de milhares de alternativas para um projeto a partir de informações como o material, o peso, a resistência e o custo desejados. No final, cabe ao designer refinar os parâmetros do projeto e selecionar dentre as soluções apresentadas pelo computador a melhor.
No processo tradicional de criação, o profissional é autor das ideias e as ferramentas computacionais são utilizadas apenas para executá-las. No design generativo, essas ferramentas também contribuem para o processo de criação. "No processo tradicional, o designer utiliza as ferramentas disponíveis apenas para representar uma ideia preexistente. As ferramentas tradicionais participam pouco da fase de idealização, sendo mais úteis na fase de execução. A ferramenta não automatiza nenhuma atividade do processo de criação, fazendo com que o designer invista tempo em ações mais repetitivas", explica o designer de produtos Anderson Koyama, de São Paulo, que em 2014 realizou pesquisa sobre o tema pelo curso de Design da Universidade de São Paulo (USP).

INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE
O design generativo, como é chamado esse processo de geração de projetos via computador, traz a vantagem de, em escala industrial, otimizar o uso de recursos como matéria-prima, energia elétrica e de pessoal e aumentar a produtividade. Mas talvez o resultado mais extraordinário do uso do design generativo resida na inovação e na criatividade. Afinal, um computador é capaz de realizar milhares de transações para analisar a melhor solução para um problema em um espaço de tempo muito curto, de maneira a chegar a alternativas que de outra maneira não seria possível.
"O design generativo otimiza tempo de projeto e automatiza atividades no processo criativo. Isso acontece porque é o computador o grande responsável por realizar os repetitivos cálculos para se chegar a um produto pretendido", diz Koyama. "Além disso, essa tecnologia permite conceber não apenas um único resultado, mas infinitas variações, que são criadas a partir da manipulação dos parâmetros definidos pelo designer. Esse processo de criar e recriar permite que o designer faça reflexões e chegue a soluções que dificilmente seriam proporcionadas através do processo tradicional", ele continua.

Tecnologias
Para chegar ao resultado pretendido, o design generativo se utiliza de algoritmos de Inteligência Artificial (IA) e computação em nuvem, gerando de centenas a milhares de opções de design. "Hoje o ser humano já usa software para projetos, mas são ferramentas para chegar a uma geometria concebida na cabeça do ser humano. Com o design generativo, o ser humano entra com os pré-requisitos e a computação em nuvem vai propor milhares de alternativas para aquele desafio. A pessoa vai escolher a melhor alternativa para o projeto de design", explica Raul Arozi, técnico especialista em manufatura da Autodesk, empresa global que comercializa ferramentas que utilizam o design generativo para o setor de manufatura.
Na ponta do processo, o protótipo do projeto selecionado é gerado por impressão em três dimensões. Aliás, a impressão 3D, bem como outras tecnologias de prototipagem rápida, foi o que contribuiu para o avanço do design generativo, afirma o designer de produtos. "O design generativo já existe há cerca de 30 anos, mas somente nos últimos anos que ele vem se tornando relevante. Isso se deve à crescente popularização da programação e aos avanços tecnológicos que permitiram a maior acessibilidade aos processos de produção de prototipagem rápida, como é o caso da impressão 3D e do corte CNC."

Aplicação
A tecnologia já é realidade em indústrias como a automotiva, a aeronáutica e a de vestuário. Um dos casos mais famosos de uso de design generativo é o da Airbus, que gerou o projeto de uma nova partição de cabine para a aeronave A320. A tecnologia foi responsável por fazer a empresa chegar a um projeto com mais resistência e menos peso. Com o uso de design generativo, a nova partição chegou à metade do peso original, gerando economia de custos de combustível.
Mas a sua aplicação se estende a diversas áreas criativas, como "a arquitetura, a cenografia, o design de produto que se traduz em móveis, luminárias e automóveis, a área da moda com novos materiais, vestuários, tecidos, jóias e estamparias, o design gráfico com a criação de identidades visuais, grafismos e tipografias, a arte digital interativa e também a área audiovisual com animações e efeitos especiais", exemplifica Koyama.
Na visão de Raul Arozi, da Autodesk, o papel do designer com o uso de design generativo deve mudar. "Vai ser um trabalho muito mais colaborativo entre homem e máquina." Porém, ele lembra que a tecnologia não deverá substituir as ferramentas hoje utilizadas, e sim complementá-las no desenvolvimento de partes de um projeto.