A dedicação do médico Nereu Genta garante a manutenção da horta do edifício, os demais moradores lucram com verduras fresquinhas
A dedicação do médico Nereu Genta garante a manutenção da horta do edifício, os demais moradores lucram com verduras fresquinhas | Foto: Saulo Ohara


Ampliação de áreas verdes, criação de hortas, coleta seletiva de resíduos, mobilização por questões sociais, economia de água e energia são iniciativas que formam um bom cardápio de sustentabilidade nos condomínios. Essas medidas fazem parte de um conceito que trata edifícios como organismos vivos e, como tais, com um importante papel socioambiental a ser desempenhado junto à comunidade em que estão inseridos.

O adensamento populacional das cidades tem promovido novas preocupações com relação aos impactos que um edifício traz para uma localidade. Desde o momento em que uma área é escolhida para abrigar um prédio, ela já passa a sofrer diversos impactos diretos ou indiretos, positivos e negativos. Isso acontece porque um edifício pode abrigar centenas de pessoas em um pedaço relativamente pequeno de chão, absorvendo muitos recursos e produzindo muitos resíduos.

"Um edifício não é só uma estrutura física. Ele é um organismo vivo, que consome recursos naturais, água, energia, alimentos, embalagens e devolve lixo, trânsito, poluição, barulho. Isso o torna tão insustentável quanto uma cidade como São Paulo, que busca água, comida, energia de fora e depois precisa mandar seus resíduos para fora também", pondera o especialista em gestão ambiental, Alexandre Fabian Braz, que é diretor do Instituto Muda.

Há sete anos trabalhando com gestão ambiental em condomínios de São Paulo, Braz afirma que indústrias e prédios são os aparelhos mais impactantes nas cidades e contribuem muito para o agravamento da crise socioambiental no mundo. Segundo ele, 40% da energia mundial é consumida por prédios, assim como 20% de toda a água. Os edifícios ainda são responsáveis pela produção de 40% dos gases que poluem a atmosfera e 40% de todo o lixo.

COMPENSAÇÃO

"Para compensar a sociedade por isso, nos condomínios que atendemos temos coletores permanentes de agasalhos para doação. Quando um novo edifício vai ser construído, a construtora se oferece para receber os resíduos domésticos dos vizinhos. É necessário retribuir de alguma maneira", afirma.

Dessa forma, Braz acredita que condomínios e moradores podem se tornar agentes de mudança por uma nova cultura. "Precisa haver um olhar diferente para a gestão dos condomínios, que não pense só na administração financeira e jurídica, mas também no consumo de recursos naturais, no bom relacionamento com a comunidade e entre os moradores", avalia.

O consultor em desenvolvimento sustentável imobiliário urbanístico e vizinhança Michel Rosenthal Wagner dá um exemplo bastante simples de como o papel social de um condomínio pode tornar a convivência mais sustentável. "Se os moradores de um edifício se incomodam com o cheiro, a gordura, a fumaça que vêm de uma lanchonete instalada ao lado, mas têm um bom relacionamento com esse vizinho, é muito mais fácil sentar, discutir e encontrar uma solução", garante.

Wagner ressalta que sustentabilidade não tem a ver só com recursos naturais e tratamento de resíduos. "Também é preciso pensar em sustentabilidade urbana, que envolve o desenvolvimento social, ambiental, econômico, político, cultural e histórico de um condomínio", pondera.