Janelas acústicas, pisos antiderrapantes, cobertura térmica, instalações com grande durabilidade são termos comumente utilizados como argumentos de venda no mercado imobiliário. Há três anos, a indústria da construção brasileira vem mudando seus parâmetros de qualidade e esses itens se tornaram passíveis de serem qualificados e quantificados pelo consumidor, que agora pode cobrá-los de construtoras e incorporadoras. No entanto, em Londrina, assim como em grande parte do país, essa mudança ainda não se concretizou e isso tem preocupado entidades ligadas ao setor.
É a Norma de Desempenho de Edificações (NBR 15575), da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em vigor desde julho de 2013, que tem promovido uma revolução conceitual sobre os requisitos mínimos de segurança e conforto para casas e edifícios residenciais. Pela primeira vez, uma norma brasileira associa a qualidade de produtos ao resultado que eles conferem ao consumidor, com instruções claras e transparentes de como fazer essa avaliação.
Segundo a engenheira e consultora especializada no tema Maria Angelica Covelo Silva, a NBR 15575 nasceu a partir de uma demanda da Caixa Econômica Federal. "Nos anos 90, a Caixa estava preocupada em ter requisitos inovadores para definir a aprovação de projetos de financiamento", conta. A elaboração da norma teve início em 2000 e sua primeira versão só foi concluída em 2008, depois de muito trabalho.
"Aí, houve um fato inédito: em 2010, quando estava para entrar em vigor a norma, as construtoras pediram a revisão porque não estavam preparadas e a grande imprensa já tinha colocado o consumidor em contato com a novidade. Normalmente, uma norma só entra em revisão depois de ter sido aplicada por algum tempo", explica. A revisão da NBR 15575 durou cerca de um ano e meio. Finalmente, a norma foi publicada em fevereiro e passou a vigorar cinco meses depois.

SISTEMAS
A nova norma divide a casa em cinco sistemas diferentes: estrutura, vedações, coberturas, pisos e sistemas hidrossanitários. Para cada um deles, a norma estabelece critérios objetivos de qualidade e os procedimentos para medir se os sistemas atendem aos requisitos. "As paredes, por exemplo, que no passado tiveram a espessura reduzida como forma de racionalizar as edificações, agora estão tendo que ser revistas porque precisam ter 12 centímetros", exemplifica Maria Angelica.
Da mesma forma, a norma estabelece que pressão e peso os canos de água devem suportar, quanto tempo uma cobertura deve suportar o fogo sem ceder, medidas de proteção acústica em paredes e janelas, entre muitos outros critérios.
Isso tudo mexe com toda a cadeia produtiva do setor, envolvendo o fornecedor dos materiais, o projetista e o construtor. "A preocupação é que nem todas as regiões têm à disposição tudo o que é necessário para atender à norma", conta Maria Angelica.

COOPERAÇÃO
De acordo com a consultora, um dos fatores que atrasa o avanço da construção civil londrinense rumo ao melhor desempenho é a falta de união no setor. "Em Londrina, não existe um processo de desenvolvimento tecnológico cooperativo entre as empresas. Isso já acontece muito em outras regiões, onde grandes construtoras desenvolvem ações conjuntas para viabilizar esse desenvolvimento. Londrina também tem potencial para isso", garante.
Para criar esse ambiente permanente de atualização para os profissionais de engenharia e arquitetura com foco na qualidade e desempenho, o Clube de Engenharia e Arquitetura de Londrina (CEAL) e o Sindicado da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) se uniram e vão promover um programa de atualização tecnológica e de gestão de obras. "As empresas têm se virado como podem, encarado as mudanças de forma individual. Nós queremos aglutinar, uniformizar o conhecimento, porque tudo o que se faz em conjunto fica mais fácil", argumenta o engenheiro e consultor Luiz Fernando Covelo Silva, um dos organizadores do evento.
Segundo o presidente do Sinduscon, Osmar Ceolin Alves, é preciso conscientizar toda a cadeia produtiva da construção sobre a necessidade de atualizar a cultura construtiva. "Eles precisam conhecer a norma de desempenho e as consequências de não atendê-la, porque o consumidor já está cobrando isso". Segundo ele, essa mudança nas práticas vai ajudar a aumentar a produtividade de forma sustentável.