Angelica Miyamura e seu pet Niko elogia a instalação do dispenser: "Tem gente que sai e esquece de levar o saquinho. Eu mesma já fiquei na mão algumas vezes"
Angelica Miyamura e seu pet Niko elogia a instalação do dispenser: "Tem gente que sai e esquece de levar o saquinho. Eu mesma já fiquei na mão algumas vezes" | Foto: Gina Mardones



Queridos por uns e temidos por outros, os animais de estimação em condomínios são pivôs de muitos conflitos entre moradores. Se na década de 1980 as convenções desses agrupamentos habitacionais costumavam proibir os pets, hoje, a maioria busca regulamentar a presença deles para que dois direitos sejam preservados: o de propriedade e o de vizinhança. O que se busca, em resumo, é promover uma convivência harmoniosa e pacífica. Cada empreendimento possui convenção e regimento próprios para tratar do tema, porém, uma medida em comum tem sido adotada por vários condomínios em Londrina: o uso de "dispensers" com sacos plásticos para o recolhimento das fezes dos animais.

Há pelo menos nove anos, o Edifício Arquiteto Vilanova Artigas instalou o equipamento com bobinas plásticas, que fica do lado externo do condomínio, próximo a uma lixeira. O administrador do prédio, Sidnei Amaro, conta que as reclamações contra a sujeira e os dejetos deixados pelos animais no entorno do conjunto habitacional eram recorrentes. "Colocamos o dispenser do lado de fora para atender não só os nossos moradores, mas também aqueles de ruas próximas", conta. Segundo ele, os animais de estimação são proibidos de circular pelas áreas comuns do condomínio. Os moradores devem transportá-los no colo, ou em um carrinho, e utilizar o elevador de serviço para levá-los até o portão de saída.

Na avaliação de Amaro, é possível estabelecer uma convivência harmoniosa desde que o ponto de partida seja a educação e o respeito entre os moradores e com os animais. Recentemente, o equipamento foi substituído por um novo, doado pela UniFil Pet. "É um dispenser com um acabamento melhor, que trouxe um aspecto visual mais agradável", justifica. Os moradores têm respondido bem à ação.

O mesmo modelo foi instalado no Edifício Arquiteto Julio Ribeiro, onde os pets são reconhecidos como "membros da família". Mesmo abertos à presença de animais, o síndico do condomínio, Marcus Ginez, lembra que cabe aos donos a responsabilidade de vacinar e prover os cuidados necessários para que eles não ofereçam riscos aos condôminos. O equipamento foi colocado na área externa do prédio e todos os moradores podem levar os sacos plásticos durante os passeios com os bichinhos. "Infelizmente, algumas pessoas são acomodadas e não se preocupam em cuidar da sujeira que os pets fazem", lamenta Ginez. Segundo o síndico, a ideia foi bem recebida e bastante elogiada. Para ele, a solução do problema passa pela conscientização.

APROVADO PELOS MORADORES
Ciente da responsabilidade que possui pelos seus bichinhos, a empresária Angelica Miyamura, moradora do Edifício Arquiteto Julio Ribeiro, diz que sempre carrega um saquinho ao levá-los para passeios na rua. E olha que ela passeia bastante. São duas vezes por dia com um cachorrinho por vez. "Tenho dó de levar dois e deixar um sozinho. Então, levo um e deixo dois juntos. Saio três vezes de manhã e outras três à noite", justifica. Ela é dona de duas fêmeas, a Mully e a Vivi, e um macho, o Niko.

A empresária elogia a iniciativa do utensílio. "Tem gente que sai e esquece de levar o saquinho. Eu mesma já fiquei na mão umas duas vezes porque levei apenas um e minha cachorrinha fez cocô mais de uma vez. Tive que correr na lixeira e pegar o saquinho de volta", conta. Angelica aponta ainda outro ponto positivo em relação aos equipamentos disponibilizados pelos condomínios: "Mostra que eles estão mais abertos aos pets, e não só aceitam como querem colaborar".

O dentista Walter Gomes de Oliveira Filho e a veterinária Bertha Gomes de Oliveira, vizinhos de Angelica, saem para passear com o Taco ao menos três vezes ao dia. "Quando não tinha o dispenser, levávamos o saquinho de casa", conta Oliveira. Segundo ele, a sujeira deixada pelos animais e negligenciada pelos donos incomodava os moradores do prédio. Agora, com o equipamento que disponibiliza os sacos plásticos e uma lixeira biológica em frente ao condomínio, o problema foi amenizado.

INSTALAÇÃO GRATUITA
A UniFil Pet - uma empresa da UniFil que comercializa planos de saúde para cães e gatos - tem disponibilizado gratuitamente os dispensers para condomínios de Londrina mediante solicitação. O gestor de projetos da UniFil, Luciano Costa, conta que a ideia foi concebida em conjunto com o Hospital Veterinário do centro universitário. "É algo que já existe em condomínios de São Paulo e que resolvemos aplicar aqui na cidade com o objetivo de educar os moradores", afirma.

Segundo Costa, é evidente o aumento do número de pets em condomínios, por isso a importância de incentivar a posse responsável. "Sair para passear com os animais e recolher as fezes deles é uma questão de educação e higiene", aponta. Diante da dificuldade de os síndicos administrarem conflitos relacionados ao problema, o dispenser se mostra útil para minimizar as reclamações. "O equipamento contribui para a limpeza da área do entorno do condomínio", ressalta.

Costa afirma que o projeto teve ótima receptividade por parte dos síndicos e administradores dos conjuntos habitacionais. Até agora, 15 equipamentos foram instalados e novos pedidos já foram recebidos. "O síndico que tiver interesse pode entrar em contato com a gente que vamos fazer uma agenda de distribuição e instalação nos próximos meses", orienta.

O utensílio é fabricado em material acrílico e custa em torno de R$ 150. Inicialmente, a UniFil Pet, além de instalar, também fez a reposição das bobinas plásticas em alguns empreendimentos. Porém, Costa adianta que a compra dos sacos plásticos – uma bobina com 200 sacos custa R$ 15 – ficará por conta dos condomínios daqui pra frente. "Danos nos dispensers serão consertados por nossa equipe", assegura.

O equipamento, desenvolvido pela empresa, é compacto e pode ser parafusado ou colado com fita dupla face do lado interno – próximo à porta de saída – ou externo do condomínio. A instalação é feita pela própria empresa. Luciano Costa destaca que o prazo para produção e instalação dependerá da demanda. "Já temos uma agenda de instalação para este mês. Contamos com a paciência e colaboração dos síndicos." O dispenser pode ser solicitado pelo telefone (43) 3375-7468 ou pelo e-mail: [email protected]

Segurança, salubridade e sossego
Na avaliação do advogado que presta assessoria jurídica a diversos condomínios de Londrina, Angelo Tagliari Torrecilha, a instalação de dispensers é uma tendência tanto em empreendimentos verticais como horizontais. Cada vez mais, os condomínios se mostram abertos aos animais, desde que um conjunto de regras seja respeitado. "Evitar um animalzinho dentro de um apartamento ou casa em condomínio é algo que hoje a jurisprudência não acolhe", explica.

Na avaliação do advogado, se os condôminos respeitarem os três "S": segurança, salubridade e sossego, não há problema algum em manter animais de estimação. A segurança tem a ver com o tipo e porte do animal; a salubridade se refere à quantidade de pets e boas condições de higiene; e o sossego está diretamente relacionado a um nível aceitável de ruído – latidos incessantes são a principal causa de reclamações.

Para lidar com os conflitos que possam surgir com a presença de animais, Torrecilha orienta que os síndicos optem, primeiro, pelo diálogo. Quando muitas reclamações começam a chegar, a recomendação é que o administrador distribua uma circular enfatizando as regras do condomínio. Se o problema persistir, uma conversa direta com o morador ou os moradores envolvidos pode se mostrar mais eficaz. Se houver reincidência, o síndico pode advertir e, em último caso, aplicar multa. (A.S.)