Rótulo aponta que instrumento musical teria sido fabricado em 1721
Rótulo aponta que instrumento musical teria sido fabricado em 1721 | Foto: Anderson Coelho



Um Stradivarius encontrado nos fundos de um guarda-roupa intriga a Polícia Federal de Londrina. O violino, apreendido na semana passada, faz parte de uma investigação por sonegação patrimonial e lavagem de dinheiro. O instrumento foi levado para a delegacia da PF em meio a joias, eletrônicos, carros e quantias em dinheiro recolhidas pelos policiais.
O aspecto antigo do estojo que guarda o violino fez com que a equipe desse uma atenção maior ao produto apreendido. Dentro do instrumento, um rótulo com registro de 1721, além de cordas e outros itens de origem austríaca, elevaram a curiosidade. "Se esse violino for original, pode valer entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões. Mesmo se for uma réplica, ele é valiosíssimo", afirmou o delegado da Polícia Federal em Londrina, Sandro Viana.
O instrumento estava na casa de Valentina de Andrade, fundadora da seita Lineamento Universal Superior, com sede na Argentina. Valentina foi denunciada por seguidores da seita, que suspeitaram do desvio de recursos. O inquérito foi aberto em agosto. Conforme o delegado, 70 joias foram apreendidas na residência, além de 230 mil pesos argentinos, US$ 117 mil e R$ 214 mil. "Estava tudo escondido nas gavetas. Na casa até havia um cofre, mas estava vazio", detalhou Viana. Dois carros, sendo um de luxo, também foram apreendidos. Os veículos têm placa da Argentina.
A seita, conforme o delegado, não possui seguidores oficiais no Brasil. Após o cumprimento do mandado de busca e apreensão na casa de Valentina, Viana recebeu ligações da Argentina e dos Estados Unidos e solicitou o encaminhamento de informações por e-mail, caso as pessoas quisessem colaborar com as investigações. "Ela não tem contas bancárias e nunca declarou imposto de renda. A casa que ela reside está em nome de argentinos. Parece-me que eles [os próprios seguidores] dão dinheiro a ela", explicou. Os recursos bancavam viagens ao redor do mundo e jogos em cassinos.



Aos 86 anos, Valentina permanece na mesma residência em Londrina onde foi cumprido o mandado de busca e apreensão, no dia 13. A idosa deve ser ouvida nesta semana pela Polícia Federal. Três pessoas ligadas à seita moram nos fundos da residência na zona sul de Londrina e também serão convocados para prestar depoimento.
Valentina ficou conhecida em todo o País no início dos anos 1990 quando a seita foi acusada de envolvimento nas mortes de meninos com idades entre 8 e 14 anos em rituais de magia negra no Pará e no Maranhão. Nesta mesma época, em que já mantinha residência em Londrina, ela foi citada no inquérito sobre a morte do menino Evandro Ramos Caetano, em Guaratuba, em 1992.
Em 2003, Valentina foi absolvida no mais longo júri da história do Pará, com 17 dias de julgamento. Em uma página na internet em que ela apresenta os conceitos da seita, a investigada rebate as acusações. "Jamais, no decorrer da minha turbulenta vida, pratiquei um só ato de maldade ou algo que me viesse perturbar a consciência, e dessa tranquilidade, mantenho a afirmação da minha incontestável dignidade".
O delegado da Polícia Federal em Londrina destacou que as mortes não fazem parte da investigação atual. Quanto ao violino, a PF aguarda contato com músicos ligados à Universidade Estadual de Londrina (UEL) para avaliar o instrumento. "O que se sabe é que poucos Stradivarius foram produzidos no mundo", adiantou Viana. Os advogados de Valentina de Andrade não foram localizados para conceder entrevista.