"É um equipamento que coleta partículas que ficam acumuladas em filtro de fibra de quartzo, permitindo verificar a quantidade de material particulado presente na atmosfera", explica a professora Mar
"É um equipamento que coleta partículas que ficam acumuladas em filtro de fibra de quartzo, permitindo verificar a quantidade de material particulado presente na atmosfera", explica a professora Mar | Foto: Gustavo Carneiro



Relatório da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), divulgado em 2016, projeta que a poluição do ar a céu aberto causará entre seis e nove milhões de mortes no mundo, de forma prematura, por ano, até 2060. Em 2010 foram três milhões. As doenças relacionadas a este problema também aumentarão, atingindo 11 milhões de pessoas internadas em hospitais.

Para chamar atenção para a gravidade da poluição, o Laca (Laboratório de Análises Cromatográficas e Ambientais) da UEL (Universidade Estadual de Londrina) iniciou, no mês de maio, a coleta de amostras para avaliar a qualidade do ar da cidade. O projeto também é desenvolvido em quatro capitais brasileiras - Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo –, além de Londrina, dentro de um plano nacional executado pelo INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Energia e Ambiente).

O equipamento utilizado é chamado de amostrador de grande volume. Ele está instalado no pátio do Sistema de Arquivos da UEL, às margens da PR-445 com avenida Madre Leônia Milito, na zona sul. "É um equipamento que coleta partículas de faixa de tamanho específico que ficam acumuladas em filtro de fibra de quartzo, permitindo verificar a quantidade de material particulado presente na atmosfera", explica a professora Maria Cristina Solci, coordenadora do Laca.

O parâmetro de qualidade do ar aplicado é o mesmo do estado de São Paulo, que mede a quantidade de partículas de tamanho inferior a 2,5 micrômetros. No Brasil, que segue legislação de 1990, o considerado é 10 micrômetros. "A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o monitoramento da qualidade do ar por meio da medida de partículas chamadas finas, que são as menores que 2,5 micrômetros. Os valores recomendados ainda não são considerados pela legislação do Brasil, porém são os que causam mais danos a saúde", pontua a professora.

A troca do filtro acontece a cada três dias de forma simultânea em Londrina e nas quatro capitais, com o amostrador ligado por 24h. O equipamento, que foi emprestado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ficará na cidade até o início de 2018. Durante este período, diversos laboratórios irão fazer a análise química do material recolhido, para no final gerar um relatório apontando suas características e o impacto quanto a qualidade do ar.

Segundo Solci, os resultados deste trabalho terão consequência a longo prazo. "Não estamos fiscalizando a qualidade do ar, mas sim gerando dados para que tenhamos séries históricas. No futuro, essas informações poderão fazer com que aqueles que possuem o poder de legislar façam as alterações necessárias para nos adaptarmos na questão do meio ambiente", ressalta.

DESAFIOS
Pioneira na medição da qualidade do ar em Londrina, a professora afirma que ainda são muitos os desafios sobre esta temática no País. "Temos que ir em busca de novas tecnologias, principalmente para a frota veicular. O cuidado precisa ser maior para as máquinas de combustão e veículos, além de fazer uso de outras formas de energia", diz. "Neste contexto, podemos ajudar chamando atenção das pessoas sobre os danos que a poluição causa à saúde",
completa.

A universidade também começará a medir gases poluentes em Londrina. O dispositivo, vindo de Salvador, ficará no mesmo lugar do amostrador de grande volume e captará seis tipos diferentes de gases durante uma semana. As análises serão realizadas pela UFBA (Universidade Estadual da Bahia).

'Vemos a prática acontecer'
Além da pesquisa sobre a qualidade do ar, o Laboratório de Análises Cromatográficas e Ambientais da UEL segue acompanhando o uso do diesel e biodiesel, medindo gases e partículas, no interior do Terminal Central de Transporte Coletivo de Londrina, o que acontece desde 2000, e mantém amostradores de pequeno porte instalados no jardim Shangrila-lá (zona oeste) e no Alto na Colina, próximo à universidade (zona sul).

O trabalho nos bairros conta com a ajuda de cinco alunos, que estão no último ano do curso de química da instituição, e que optaram por desenvolver atividades práticas no campo do ambiente. Diferente do amostrador de grande volume, os equipamentos coletam partículas de 10 micrômetros e também 1 micrômetro. "Como na maioria das vezes ficamos dentro de sala de aula, vemos a prática acontecer com isso. Quando observamos o filtro, depois da captação, é nítido o quanto de material particulado está no ar e estamos respirando", destaca Marco Aurélio Jeanegitz Clemente.

Os amostradores de pequeno porte ficarão nas regiões durante duas semanas do mês de julho, sendo recolhidos para análise no laboratório da UEL depois deste intervalo. O material é feito de fibra de vidro e os filtros que possuem foram pesados em uma balança específica anteriormente. Eles irão passar novamente por este processo ao fim do período proposto, quando poderá ser comparado o quanto de material coletaram.

Participando do projeto, Bruna Coldibeli ficou tão interessada que fará o trabalho de conclusão de curso, junto com duas colegas, sobre isso. "Pode parecer que não, mas a química é uma área ligada ao meio ambiente. É importante termos noção do ar que respiramos. Também é algo que pode ajudar a própria cidade", reitera. Todos os resultados serão usados para a realização de relatórios e publicações, também servindo como apoio para políticas desta temática. (P.M.)