Imagem ilustrativa da imagem 'Tenho tijolo por essa Londrina toda'
José André Rodrigues Neto, de 76 anos, conta com orgulho que trabalhou durante décadas na área



Jataizinho - Um bom tijolo depende da qualidade da argila e de uma queima uniforme. Duas coisas que o oleiro aposentado José André Rodrigues Neto, de 76 anos, o Zezão, diz entender bem. "Eu era o maior entendido de barro. Falava para o patrão: aqui tem barro bom e tinha."
Figura conhecida em Jataizinho, trabalhou em várias cerâmicas queimando forno. Natural de Varginha (MG), mudou para o Paraná aos 17 anos e com 20 estava puxando barro do Rio Tibagi. "A gente colocava o barro na carriola puxada com burro e colocava na pipa (máquina que amassa o barro). Depois colocava nas formas e cortava o tijolo com arame." A média de produção era de 2 mil a 2,5 mil tijolos por dia. "Quando a pessoa era boa fazia até 3 mil por dia. A gente pegava às 3 horas da manhã", recordou.
Logo aprendeu a colocar fogo nos fornos, que na época eram do tipo caipira (a lenha vai embaixo do forno). "Para apertar o fogo eram dois dias. Quando o teto estava vermelho era hora de colocar a tampa e lacrar o forno", explicou Zezão, observando que enquanto os tijolos estavam queimando não podia deixar o fogo diminuir. Tinha que ficar de olho dia e noite. "A gente usava lenha ou carvão. Quando era com carvão, ele estourava e vinha na gente. Essas marquinhas são queimaduras", contou, mostrando as marcas nos braços e completou: "Era gostoso aquele tempo; a gente acostumava."
Zezão cuidava de vários fornos ao mesmo tempo. "Tinha lida todo dia. Enquanto um estava esquentando, outro estava queimando, outro esfriando." Ele considerava o trabalho uma diversão. "Era serviço bruto, mas a gente ganhava bem. Se não fosse essa perna eu ainda estava queimando forno", disse. Ele amputou a perna há 20 anos, por isso abandonou o ofício da vida toda.
Zezão fala com brilho nos olhos dos tempos de oleiro. "Criei cinco filhos na olaria. Tenho tijolo por essa Londrina toda", orgulha-se, contando que aprendeu a lida olhando os outros. "Eu tinha interesse em ver os outros fazendo e aprendi." (A.M.P.)