Pesquisa aponta que o número de óbitos causados pelo vício deve saltar para 8 milhões em 2030
Pesquisa aponta que o número de óbitos causados pelo vício deve saltar para 8 milhões em 2030 | Foto: Ricardo Chicarelli



Bastou ficar um ano longe do cigarro para a operadora de telemarketing Patrícia Mariane Rosa e o marido Albieres de Souza, que trabalha na Ceasa em Londrina, juntarem recursos suficientes para comprar um carro. Os dois nem imaginavam quanto o vício comprometia o orçamento familiar. O casal começou a fumar ainda na adolescência por influência dos amigos da escola. Patrícia decidiu parar quando soube da gravidez. "Fiquei mais de um ano sem fumar, mas aí fiquei mais nervosa, mais ansiosa, comia muito mais, engordei muito e acabei voltando", explicou. Para ela, o maço dura, aproximadamente, três dias. Já o marido também não resistiu e hoje consome cerca de dois maços em 24 horas. "Já parei três vezes sozinho. A pele melhora, a respiração fica melhor, mas é difícil ficar sem fumar. Hoje em dia tem cigarro em todo lugar. Nossos amigos fumam e também acabam oferecendo", comentou. O casal sabe dos riscos do tabaco e tenta reduzir o consumo dia após dia. "Eu percebo a diferença. Antes tinha mais fôlego para jogar futebol. Agora já sinto bastante quando jogo", afirmou Souza.
Estudo publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em parceria com o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos aponta que cerca de 6 milhões de pessoas morrem por ano em razão de doenças provocadas pelo tabagismo. No entanto, o número de óbitos deve saltar para 8 milhões em 2030. A quantidade de fumantes no mundo já ultrapassa 1,1 bilhão, grande parte vive em países de baixa e média renda.
Conforme a pesquisa, os gastos com saúde e perda de produtividade desencadeada pelo vício giram em torno de US$ 1 trilhão por ano. Dessa forma, o estudo defende a taxação e o aumento do preço do cigarro, além de políticas públicas mais eficazes para combater o tabagismo.
O oncologista clínico do Hospital do Câncer de Londrina Gabriel Lima Lopes ressalta que o cigarro é responsável pelo maior número de mortes evitáveis no mundo. "Um único cigarro já é prejudicial à saúde. Há estudos que mostram que desde o primeiro contato com a alta temperatura e com os componentes químicos, a pessoa que consome o cigarro já desenvolve alterações inflamatórias nos brônquios e nos pulmões", alertou.
Para Lopes, é obrigação do Estado tentar conter a iniciação das pessoas ao tabagismo, por meio de aumento da tributação e na oferta de terapia à população, além de garantir acesso mais rápido aos pneumologistas. "É uma epidemia não controlada e é um problema de saúde pública. Nós como médicos ficamos muito angustiados de ver pacientes padecendo por falta de ar e doenças causadas pelo cigarro. Quem vive essa realidade entende o sofrimento", completou o oncologista.

GRUPOS DE APOIO
Em Londrina, quem deseja parar de fumar consegue apoio em grupos organizados no ambulatório de tabagismo no Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e nas unidades básicas de saúde. Segundo a enfermeira Márcia Regina Pizzo, cerca de mil pessoas já passaram pelo ambulatório da universidade desde 2006. O atendimento em grupo ou individual é iniciado após avaliação clínica e a realização de exames. "Parar de fumar é um processo. A gente trabalha os riscos de recaída, com as estratégias de enfrentamento e a medicação, que depende da avaliação clínica", explicou. Períodos de estresse, decepções e problemas na família são momentos desafiadores para quem deseja parar de fumar. O acompanhamento é realizado durante um ano. Aproximadamente, 45% dos pacientes conseguem se manter longe do cigarro.
As unidades básicas de saúde de Londrina também oferecem grupos de apoio desde 2010. A coordenadora do Programa de Combate ao Tabagismo, Juliana de Oliveira Marques, destaca que os profissionais receberam capacitação especial para atuar no projeto. "Quem quer parar de fumar deve procurar a unidade básica de saúde mais perto de casa. A unidade pode indicar o grupo de apoio mais próximo ou ainda encaminhar o paciente para o Hospital das Clínicas da UEL. Nas UBS há novos grupos a cada trimestre", explicou.
A troca de experiências, segundo ela, faz toda a diferença durante o atendimento. "As estatísticas mostram que só 3% das pessoas conseguem parar de fumar sozinhas. Estar em grupo é melhor para se manter firme. O consumo de cigarro é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas como diabetes, depressão, câncer e isso não pode ser banalizado", frisou. (Com Agência Estado)