Pesquisadores foram ao local detectado como epicentro do tremor, distante 15 quilômetros do  centro de Rio Branco do Sul
Pesquisadores foram ao local detectado como epicentro do tremor, distante 15 quilômetros do centro de Rio Branco do Sul | Foto: Divulgação



Curitiba - Um início de semana de abalar as estruturas. Literalmente. Esse foi o sentimento de parte dos moradores do município de Rio Branco do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e de cidades vizinhas como Itaperuçu, Almirante Tamandaré, Campo Magro e até bairros da capital. Por volta da zero hora desta segunda-feira (18), eles sentiram janelas e o chão tremer por intermináveis cinco a sete segundos, dependendo da proximidade do epicentro, localizado na localidade de Santa Cruz, distante 15 quilômetros do centro de Rio Branco do Sul.

Apesar do susto e desconforto geral, órgãos vinculados à Defesa Civil e a própria Secretaria Municipal de Meio Ambiente não registraram durante toda a segunda-feira qualquer vítima do evento. No entanto, a equipe da secretaria, acompanhada por pesquisadores da UFPR (Universidade Federal do Paraná, colheu diversos relatos de pisos de cerâmica que partiram durante o tremor em moradias de Santa Cruz. Já as rachaduras surgidas nas construções em moradias mais distantes não podem ser relacionadas exclusivamente pelo evento em si. Até porque, na região, a detonação de explosivos na pedreira faz parte da rotina, em função da atividade de uma fábrica de cimento.

"Normalmente os vidros tremem e isso é seguido de um barulho de explosão. Hoje, explodiu primeiro e só tremeu intensamente depois, provocando a sensação de que meu sobrado seria tragado, já que estamos sobre as cavernas do aquífero Karst", contou um morador, que não quis se identificar.

No município fica localizada uma estação de monitoramento do Centro de Sismologia da USP (Universidade de São Paulo), que classificou o temor de magnitude 3.5 na escala Richter como "natural", por ser fruto da movimentação das placas tectônicas. "Claro que há chances desse tremor se repetir, mas não se pode prever se isso acontecerá dentro de dias ou anos. Em 2015, nessa região, houve dois tremores no intervalo de um dia e o abalo foi no mesmo horário", relembrou o técnico em sismologia da USP, José Roberto Barbosa, que há quase quatro décadas estuda e monitora tais fenômenos.

Segundo ele, a geologia da região é pouco conhecida em termos de eventuais falhas geológicas, por falta de mais recursos para a pesquisa. Entretanto, essa situação já foi pior. "Há cinco anos contávamos com dezenas de estações de monitoramento, hoje já estão na casa das centenas. E devido ao baixo número de eventos no Brasil, é justificável não canalizar tantos recursos diante de um universo de demandas mais frequentes e urgentes", ponderou. Cada estação tem um custo aproximado de US$ 50 mil.

O secretário municipal de Meio Ambiente de Rio Branco do Sul, Antonio Eliandro Costa, durante a tarde desta segunda, foi até o ponto indicado pelo Centro e seguiu mais adiante até a localidade de Santa Cruz. Também foi ao local o geólogo e diretor do Centro de Apoio Científico de Desastres Naturais da UFPR, Renato Eugênio de Lima, que explicou que a universidade também irá monitorar a região. "Não é possível precisar quando isso acontecerá novamente, mas a região tem um terreno vasto para a ciência se aprofundar sobre os fenômenos geológicos, a fim de gerar conhecimento", defendeu.

SENTIU AÍ?
Todo e qualquer cidadão pode ajudar na coleta de informações sobre os fenômenos naturais ocorridos no Brasil. Isso porque se a escala Richter traz o dado instrumental, é outra escala, chamada Mercalli (de 1 a 12), que mede a sensação das pessoas que estão na superfície do fenômeno e agrega precisão ao resultado. "É o cruzamento das duas informações, mais uma série de estudos, que torna mais precisa a informação sobre cada evento desse. Por isso, é fundamental que todos participem registrando isso pela plataforma "Sentiu aí? (http://www.sismo.iag.usp.br/eq/dyfi)&rdquo), destacou Barbosa.