Para Ministério da Saúde, movimento antivacina não é significativo no Brasil e não há evidências de que influenciem diretamente as campanhas de imunização
Para Ministério da Saúde, movimento antivacina não é significativo no Brasil e não há evidências de que influenciem diretamente as campanhas de imunização | Foto: Marcos Zanutto



A recomendação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para que pessoas que nunca tenham contraído dengue evitem tomar a vacina Dengvaxia, serviu como combustível para alimentar teorias de grupos contrários a imunizações. Os chamados movimentos antivacinas têm ganhado força em várias partes do mundo ao alardear supostos malefícios dos medicamentos. As autoridades em saúde pública alertam que o resultado do que chamam de "desinformação" é o retorno de doenças já erradicadas e o aumento significativo de casos de doenças controladas.

A coordenadora do Comitê de Imunizações da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Lessandra Michelin, credita o fenômeno ao mau uso das redes sociais. "O que sustenta o movimento antivacina é o desconhecimento. O que vemos hoje é uma força muito grande das mídias sociais. Qualquer um passa a ser um especialista", critica a médica infectologista. "Com isso, a gente acaba tendo essa confusão na cabeça das pessoas, que não têm informação correta." No Facebook, pelo menos duas comunidades reúnem mais de 1.500 pessoas. Uma delas, traz na foto de capa a frase: "5 milhões de anos de história humana confirmam que não precisamos de vacinas tóxicas para viver."

Os estudiosos afirmam que, se antes a rejeição se dava por crendices e até mesmo questões religiosas, hoje está mais ligada a grupos "naturebas". "Nada contra quem defende o uso de substâncias naturais, mas é preciso ter o discernimento de que certas doenças se curam com medicamentos tradicionais, como é o caso das vacinas", defende a coordenadora. Segundo ela, muitos casos de complicações são atribuídos injustamente às vacinas. "A vacina não tem relação com autismo. O que ocorre é que as pessoas fazem associações. Se a pessoa tem qualquer outro problema de saúde nos dias que sucedem a imunização, logo a culpada é a vacina. É preciso cautela", recomenda.

A médica lembra que a vacina é uma grande descoberta que salvou milhares de vida em todo o mundo. "É a prevenção com maior impacto na sobrevida mundial. Desde que temos vacinas não se tem casos graves de doenças que antigamente eram as maiores causas de internação pediátrica nos hospitais: varicela, caxumba, rubéola, sarampo."

O Ministério da Saúde considera que o movimento contrário à vacinação ainda é pequeno no Brasil, ao contrário de outras regiões como a Europa ou os Estados Unidos, onde o problema ocorre em maior escala. De acordo com a pasta, não existem evidências de que esses grupos influenciem diretamente a cobertura vacinal no País. Porém, o ministério adverte que se os pais ou responsáveis pararem de vacinar suas crianças e adolescentes, doenças eliminadas ou erradicadas podem retornar ao País.

"No início do século 20, as doenças imunopreveníveis como poliomielite e varíola eram endêmicas no Brasil, causando elevado número de casos e mortes. As ações de imunização e, especialmente, os 44 anos de existência do PNI (Programa Nacional de Imunizações) foram responsáveis por mudar o perfil epidemiológico das doenças imunopreveníveis no Brasil", informa o ministério em nota.

As vacinas, segundo o PNI, erradicaram a febre amarela urbana, a varíola, a poliomielite, eliminando também a rubéola e do sarampo. Além disso, reduziram drasticamente a circulação de agentes patógenos, responsáveis por doenças como o a difteria, o tétano e a coqueluche.

INIMIGO OCULTO
Com o avanço da cobertura vacinal no País, muitas doenças tornaram-se desconhecidas, o que fez com que algumas pessoas se esquecessem do risco representado por elas. Sem o contato com as doenças, os possíveis efeitos colaterais das vacinas passaram a ganhar maior importância.

A infectologista aponta que a maioria das pessoas que estimulam a não vacinação não tiveram contato com a doença. "As novas gerações não tiveram polio, por exemplo, porque foram protegidas. Se você pega pessoas mais idosas, há uma população considerável com impacto das sequelas", observa. "As pessoas questionam o porquê de vacinar o filho contra sarampo se ele não tem a doença. Como elas não trabalham em um hospital, não têm contato com pessoas que ficaram com sequelas permanentes por causa do sarampo. Uma dose da vacina pode salvar uma vida."

O ministério ressalta que, embora o Brasil esteja livre da paralisia infantil, por exemplo, é fundamental a continuidade da vacinação para evitar a reintrodução do vírus da poliomielite no País. De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), dez países registraram casos de poliomielite nos últimos anos, sendo que três deles são considerados endêmicos (Paquistão, Nigéria e Afeganistão). O mesmo acontece com o sarampo, doença erradicada no Brasil em 2016 cujo vírus ainda circula em alguns países.