Um levantamento divulgado recentemente pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) aponta que, em seis anos, o Paraná perdeu 859 leitos de internação em pediatria clínica no Sistema Único de Saúde (SUS), redução de 27%. Em 2010, a rede pública estadual tinha 3.160 leitos destinados a crianças que precisam permanecer no hospital por mais de 24 horas. No ano passado, o número de vagas caiu para 2.301 após as desativações.

A queda é a quinta maior registrada no País, atrás de Sergipe (51%), Santa Catarina (35%), Roraima (33%) e Alagoas (32%). Segundo o estudo, mais de 10 mil leitos de internação em pediatria clínica foram fechados em todo o Brasil no mesmo período, passando de 48,3 mil para 38,2 mil leitos, retração de 21%. Segundo a SBP, o número corresponde a cinco leitos desativados por dia.

Em números absolutos, os Estados das regiões Nordeste e Sudeste foram os que mais sofreram redução de leitos pediátricos no período: 4.032 e 3.060 leitos a menos, respectivamente. Em escala, surgem as regiões Sul (-1.873 leitos), Centro-Oeste (-689) e Norte (-428). Das 5.570 cidades do Brasil, 2.169 não têm nenhum leito. Entre as que possuem pelo menos uma unidade de terapia intensiva infantil, um terço tem menos de cinco leitos e 66 contam com apenas um leito.

As informações apuradas junto ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, preocupam os especialistas, mas não surpreendem quem cotidianamente sente na pele os dilemas das limitações do SUS. "A redução do número de leitos tem um impacto direto no atendimento, provocando atrasos no diagnóstico e no início do tratamento de uma população que vem aumentando bastante", criticou a presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Luciana Rodrigues Silva.

Para o Ministério da Saúde, a análise da oferta de leitos para crianças deve considerar mudanças no perfil epidemiológico e uma tendência mundial de desospitalização. Desta forma, segundo a pasta, tratamentos que antes exigiam internação passaram a ser feitos no âmbito ambulatorial e domiciliar. "Nessa lógica, o Ministério da Saúde, nos últimos anos, investiu na expansão de leitos pediátricos e neonatais para atendimento de maior complexidade, destinados a pacientes graves e que exigem maior estrutura e esforço de profissionais. O crescimento da oferta de leitos para esses casos foi de 15% entre 2010 e 2016, totalizando atualmente mais de 10,6 mil leitos no SUS", destacou por meio de nota.

Luciana, no entanto, lembra que algumas doenças têm contribuído para aumentar as internações. De acordo com ela, as doenças que prevalecem em crianças são sazonais e nos primeiros semestres de cada ano, geralmente, acentuam-se as viroses gastrointestinais. "Estas, em muitos casos, demandam internações. Além disso, casos mais sérios de dengue, que afetam crianças e adolescentes, bem como o aumento na recorrência dos casos de alergias, infecções respiratórias e pneumonia, também contribuem para o crescimento da demanda por internações."

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) argumentou, por meio de nota, que as vagas na rede pública são suficientes para atender as crianças no Paraná. Segundo o órgão, há uma menor demanda por internações uma vez que os atendimentos são resolvidos antes de chegar a situações mais graves. "O atendimento das crianças é uma das prioridades da Rede Mãe Paranaense, o que reduz o número e o tempo de internamentos clínicos. Trabalhamos com a lógica da atenção primária de promoção da saúde, com estratégias de atendimento para que a criança não venha a ficar doente. E, caso precise de internamento, com o atendimento primário, o tempo no hospital acaba sendo menor."

Para o vice-presidente da Sociedade Paranaense de Pediatria (SPP), Milton Macedo de Jesus, os governos nunca cumpriram o artigo 227 da Constituição Federal, que prevê absoluta prioridade à criança e ao jovem no direito à saúde. "Sempre faltaram leitos e ainda faltam. A questão é a falta de investimentos. O governo federal anunciou que nos últimos dez anos houve aumento de 12% nos investimentos em Saúde. Se colocarmos só a inflação dos últimos anos, essa quantia se torna irrisória", avaliou o pediatra londrinense.

Segundo Macedo, Londrina foi uma das cidades menos afetadas pelas reduções. Entre fevereiro de 2012 e fevereiro de 2017, os leitos públicos passaram de 88 para 83 unidades. Já Curitiba, no mesmo período, perdeu 71 leitos, passando de 274 para 203, segundo dados da SPP. "Apesar de não termos redução significativa de leitos em Londrina, temos problemas graves, como a falta de recursos dos hospitais, que mal conseguem se manter com a tabela defasada do SUS", lamentou.(Com Agência Brasil)