Um projeto de lei que está em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo prevê que os motoristas possam pagar o pedágio usando cartões de débito ou de crédito. Atualmente, o pagamento só pode ser feito com dinheiro ou por meio do sistema eletrônico Sem Parar. Embora ainda não tenha sido votada, a proposta já causa polêmica.

Autor do texto, o deputado estadual Carlos Grana (PT) argumenta que o uso do cartão permitiria que famílias que não têm como pagar as tarifas viajassem com mais frequência. A medida beneficiaria, ainda, quem se perde na rodovia e cai na frente de uma praça de pedágio, "correndo o risco de levar uma multa" por estar sem dinheiro, segundo o deputado, que também é candidato a prefeito de Santo André.

Discordâncias - O arquiteto e consultor de tráfego Flamínio Fichmann discorda da proposta. Segundo ele, o pagamento do pedágio deve ser feito da forma mais rápida possível. "Se não for uma operação rápida, vai aumentar a fila de carros e o congestionamento. A medida pode até ajudar alguns, que esqueceram o dinheiro, por exemplo, mas vai prejudicar a maioria."

Segundo Fichmann, o modelo mais indicado para o pedágio é o de pagamento eletrônico. "Há estradas na Europa que não têm ninguém na cabine para cobrar."

Motoristas também não chegam a um consenso sobre os benefícios do projeto de lei. "Acho que é bom ter uma opção a mais para pagar. Já aconteceu comigo de esquecer de tirar dinheiro antes de sair de casa e parar em posto de gasolina para sacar, o que acho meio perigoso", diz o dentista Maurício Ramos de Almeida, de 38 anos.

"O pedágio sempre aceitou só o dinheiro. Acho que as pessoas já sabem como é", argumenta o vendedor Roberto Prado, de 41. "Acho que, se permitirem o cartão, mais gente vai querer usar, e o processo vai ficar muito lento."

A Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), responsável pelos contratos de concessão das estradas, informou que não iria comentar a proposta. O Grupo CCR e a Ecovias, que administram as principais rodovias que abastecem a capital, afirmaram que vão aguardar a manifestação da Artesp.

Etapas - O projeto de Grana estipula que as concessionárias teriam de deixar disponíveis máquinas que aceitam cartão em pelo menos metade das cabines de cobrança - e as empresas teriam de sinalizá-las. O texto foi aprovado pela Comissão de Transportes e Comunicações da Assembleia no dia 8. Antes, a proposta havia passado pela Comissão de Constituição e Justiça em 13 de junho. Para virar lei, o texto ainda precisa ser votado em plenário e, depois, ser sancionado pelo governador.