Foz do Iguaçu, 25 (AE) - Os brasileiros e paraguaios que ficaram "reféns" da crise política que se instalou no Paraguai desde a morte do vice-presidente Luís Maria Argaña, puderam retornar aos seus países depois de 48 horas de isolamento absoluto. A Ponte da Amizade, que liga Foz do iguaçu (PR) e Ciudad del Este, foi desbloqueada hoje (25), por volta das 13 h (horário de Brasília). A liberação foi negociada pelos governos do Brasil e Paraguai. A ordem de reabertura foi determinada ao comando da polícia Nacinal pelo juíz Jorge González, da 1ª Instãncia Criminal, em Assunção.
O desbloqueio permitiu que pelo menos 1,5 mil brasileiros e outros 150 paraguaios retornassem para casa. À tarde, o fluxo de veículos e pedestres voltou a fluir normalmente na Ponte da Amizade. Na freonteira entre Guaíra (PR) e Salto del Guaíra, a Ponte Airton Senna permanece interditada. Cerca de 600 caminhões carregados de soja e madeira aguardam a desobstrução, que pode acontecer amanhã (26).
O anúncio de liberação da fronteira entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este causou uma grande aglomeração de pessoas na cabeceira da Ponte da Amizade, a principal ligação terrestre entre as duas cidades. Pelo menos 300 brasileiros, entre sacoleiros e pessoas que trabalham no comércio paraguaio, aguardavam o fim do bloqueio em permanente vigília na alfândega. Assustados com o clima de instabilidade do país, muitos temiam ficar por mais tempo retidos no Paraguai.
Pelo menos outros mil brasileiros esperavam a situação se normalizar na casa de amigos e abrigos improvisados. Sem dinheiro e sem ter onde ir, muitos reclamam da falta de assistência do consulado brasileiro, que se defende das acusações. O vendedor Israel Ferreira da Silva, 28 anos, diz que passou fome em Ciudad del Este durante o bloqueio. "Foram os piores dias minha vida", desabafou.
O mesmo drama foi vivido pelo agricultor Vitório de Souza, de 52 anos. O brasileiro estava em Santa Rita, a 80 quilômetros de Foz do Iguaçu, visitando alguns amigos. Na terça-feira, ele foi surpreendido com a notícia do bloqueio das fronteiras paraguais quando pensava em retornar ao Brasil. Hoje pela manhã, o agricultor viajou para Ciudad del Este e se juntou ao restante do grupo que esperava a liberação da ponte. Em meio à agitação, Souza comemorou com alívio a reabertura da fronteira. "Eu só quero rever minhafamília".
Os paraguaios também tiveram problemas por causa do bloqueio.
Aproximadamente 150 pessoas procuraram ajuda do consulado em Foz do Iguaçu e albergues. Os estrangeiros receberam também alimentação e roupa da prefeitura.
O bloqueio total das fronteiras do Paraguai gerou insatisfação e prejuízos tanto em Foz do Iguaçu e Guaíra quanto em Ciudad del Este e Salto del Guaíra. O comércio de Ciudad del Este, por exemplo deixou de vender pelo menos US$ 7 milhões desde a interdição da Ponte da Amizade, ocorrida na terça-feira às 11h.
Em salto del Guaíra, quase 600 caminhões carregados com soja e madeira estão impedidos de cruzar a Ponte Airton Senna em direção ao Brasil. Segundo o setor de exportação da Associação Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu, as empresas de Foz deixaram de exportar, em média, US$ 2,4 milhões só nesse período de dois dias.
Os paraguaios, os maiores clientes dessas empresas, compram principalmente alimentos, produtos de limpeza, materiais de construção e artigos de cama, mesa e banho. Eles também são responsáveis pelo consumo decerca de 70% das frutas, verduras e legumes comercializados na Central de Abastecimento (Ceasa) de foz.