Novos relatos sobre a morte de um carroceiro na zona norte de Londrina e ameaças a uma testemunha motivaram mais um pedido de prisão contra quatro policiais militares que atuam na cidade. Os policiais são acusados pelo Ministério Público do homicídio de Pedro de Melo Domingos. O crime ocorreu em março do ano passado e a vítima foi baleada na cabeça e no tórax.

Os policiais militares Jefferson José de Oliveira, João Paulo Roesner, Julio Cesar da Silva e Thiago Morales foram presos nesta terça-feira (27) por integrantes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e da Corregedoria da Polícia Militar. Os detidos foram encaminhados ao 5º Batalhão em Londrina.

De acordo com o promotor Ricardo Domingues, o pedido de prisão foi motivado pelo relato de ameaça a uma das testemunhas. "Surgiu uma nova testemunha e ela declarou que presenciou os fatos. Ela afirmou também que foi agredida pelos policiais. Por esse motivo, foi pedida a prisão preventiva dos acusados para a conveniência da instrução processual", explicou. Ao promotor, a testemunha contou que ouviu cerca de 15 disparos no local do crime.

Os policiais foram denunciados por homicídio e fraude processual em julho do ano passado. A morte, na época, havia sido registrada como confronto em uma suposta troca de tiros. O carroceiro teria sido flagrado com objetos furtados. No entanto, para o Ministério Público, há indícios de adulteração do local do crime.

A investigação, conforme o promotor, foi um desdobramento da chacina ocorrida em janeiro de 2016. "Interceptações telefônicas foram utilizadas para monitorar esses policiais. Logo depois desse confronto, e posterior à chacina, houve conversas telefônicas desses policiais pedindo para que fosse trazida a arma ao local desse suposto confronto para que ela fosse 'plantada' no local. Essa arma foi periciada e descobriu-se que ela foi utilizada para matar outras pessoas em datas próximas àquela série de crimes no mês de janeiro", ressaltou Domingues. A Justiça já havia decretado a prisão preventiva dos policiais em julho do ano passado. No entanto, na ocasião, eles já estavam na carceragem do 5º Batalhão por suspeita de envolvimento na chacina de janeiro.

O advogado Cláudio Dalledone Junior, que representa os quatro policiais, teve acesso ao decreto de prisão e impetrou um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça ainda durante a tarde. "São alegações baseadas apenas em presunções do Ministério Público. São homens honrados e policiais que dignificam a Polícia Militar. Eles não representam nenhum risco às testemunhas", garantiu. A expectativa do advogado é que o pedido seja apreciado ao longo desta semana.
A assessoria de imprensa da Polícia Militar não informou se os policiais presos já estavam afastados das funções nas ruas em razão das investigações sobre os crimes. Em nota, o comando geral ressaltou apenas que a corporação "busca a elucidação de todos os fatos, e, se restar comprovada responsabilidade para qualquer um dos policiais militares, os instrumentos adequados de saneamento são adotados, na forma legal, sendo respeitados os direitos ao devido processo legal, à ampla defesa e ao contraditório, para qualquer militar estadual".

CHACINA

As investigações sobre a série de 12 assassinatos registrados em janeiro do ano passado esbarram ainda na demora na realização das perícias pelo Instituto de Criminalística. A informação foi repassada pelo promotor Ricardo Domingues. "É inexplicável um fato dessa gravidade ser tratado como um fato comum e não ser dada nenhuma prioridade a essas perícias. Temos mortes de menores nessa chacina. São crimes de homicídios em série e com suspeita de envolvimento de agentes públicos. Inexplicavelmente, passados quase dois anos, essas perícias ainda não foram feitas. Não há justificativa técnica para isso", destacou.

Conforme o promotor, são aguardados laudos de confronto genético e a perícia de mídias como telefone celular e computador. Vários ofícios foram encaminhados para cobrar mais agilidade. "A resposta dada é que essas perícias estão na fila e que é preciso aguardar, ou seja, é tratado como um caso qualquer", lamentou.
Em nota enviada pela Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária), a diretoria da Polícia Científica informou que "não há pendências em laudos de local e médico legal envolvendo os crimes ocorridos em janeiro de 2016". Ainda conforme a nota, "existe um material de informática que está sendo periciado nos laboratórios do Instituto de Criminalística de Curitiba". Os laudos devem ser concluídos nas próximas semanas. Ao todo, 17 inquéritos policiais foram abertos para apurar os crimes.