Edson Miura: "A grande maioria dos projetos está relacionada a bioinseticidas, biotecnologia e biofertilizantes na área de agronomia e na área de alimentos"
Edson Miura: "A grande maioria dos projetos está relacionada a bioinseticidas, biotecnologia e biofertilizantes na área de agronomia e na área de alimentos" | Foto: Gustavo Carneiro



Uma pesquisa de mestrado desenvolvida por Maguel Souza Silva, da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), analisou depósitos de patentes em tecnologias verdes no período de janeiro de 2005 a dezembro de 2014 e revelou que a UEL (Universidade Estadual de Londrina) depositou quatro patentes no período, ficando com a 15ª posição de um total de 21 universidades públicas analisadas no Brasil.

No estado, a UEL está na terceira posição, atrás da UEM (Universidade Estadual de Maringá), que está em 10º lugar no ranking nacional, com 11 depósitos; e da UFPR (Universidade Federal do Paraná), a segunda colocada do ranking nacional, com 41 depósitos. A primeira colocada nessa lista de 21 universidades é a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), com 45 depósitos.

O trabalho foi realizado sob orientação de Eloísa Príncipe, do Ibict (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia), e de Eduardo Winter, do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). "Essa pesquisa nasceu da preocupação com a degradação ambiental. Trabalho na Unirio e havia a curiosidade de saber se as universidades estavam desenvolvendo tecnologias verdes e depositando as patentes no Inpi", destacou a pesquisadora.

Segundo ela, é importante mapear e fazer estudos sobre isso porque uma universidade pode usar essa busca de patente para utilizar informações de patentes já registradas para aprimorar essa tecnologia. "Fazendo esse mapeamento também conseguimos identificar para onde as universidades estão direcionando suas pesquisas", apontou.

A aluna concluiu, ainda, que os setores de transporte, de conservação de energia, agricultura e reflorestamento poderiam ser mais explorados academicamente. "Precisamos alcançar produtos com menor teor de agrotóxico e desenvolver tecnologias mais verdes, pois esse patrimônio das universidades torna-se vitrine tecnológica e os setores industrial e comercial podem inserir essas tecnologias no seu cotidiano."

No ranking dos Estados, o Paraná ocupa a terceira colocação, com 56 pedidos de patentes em tecnologias verdes (18,7% do total dos documentos), atrás de São Paulo, com 94 depósitos (31,3%) e de Minas Gerais, com 73 pedidos (24,3%). Depois do Paraná estão o Rio de Janeiro, (10,7%); Rio Grande do Sul (6,7%); Distrito Federal(4,3%); Pernambuco (2,3%); Santa Catarina (1%); e Pará(0,7%).

Imagem ilustrativa da imagem Patentes de tecnologias verdes dão destaque à UEL



UEL
O diretor da Aintec (Agência de Inovação Tecnológica) da UEL, Edson Miura, que está no cargo desde 2013, não sabe ao certo quais seriam as patentes verdes depositadas em sua gestão. "Posso dizer que desde 2005 temos trabalhado com propriedade intelectual e tentado proteger o patrimônio intelectual da UEL."

Segundo ele, a UEL tem mais de cem depósitos de patentes em geral, não apenas relacionadas a tecnologias verdes. Explicou que também há patentes de marcas e de programas de computador e mencionou uma parceria com o Sebraetec (Serviços em Inovação e Tecnologia), programa nacional do Sebrae que aproxima os prestadores de serviços tecnológicos dos pequenos negócios.

Miura disse, ainda, que a UEL é "muito forte" em biotecnologia e agronomia. "Provavelmente algumas dessas patentes devem ser destas áreas. A grande maioria dos projetos de tecnologia verde está relacionada a bioinseticidas, biotecnologia, biofertilizantes na área de agronomia e na área de alimentos", destacou. "Temos projetos de nanotecnologia e uma pesquisa muito forte na área de veterinária. Hoje temos produtos para contenção de água da chuva e miniestações que medem chuva."

O diretor ressaltou que aumentar o número de patentes depende de conscientização dos professores e de um trabalho de prospecção. "Se tivesse equipe de prospecção, talvez esse número aumentasse, mas temos essa dificuldade de falta de equipe e de conscientização. Essa cultura empreendedora de proteção de capital intelectual está começando a ser desenvolvida de 2013 para cá", justificou.

MARINGÁ
Já a diretora do NIT (Núcleo de Inovação Tecnológica da Universidade Estadual de Maringá), Graciette Matioli, destacou que a décima colocação no ranking foi conquistada em parte pela implantação do Comcap (Complexo de Centrais de Apoio à Pesquisa). "É um bloco com dois andares onde temos diferentes centrais laboratoriais. Temos mais de R$ 60 milhões investidos em mais de 400 laboratórios multiusuários dentro da instituição conquistados por meio de editais do Finep (Financiadora de Estudos e Projetos)."

O Finep é uma empresa pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas. "Nesse ambiente nós temos equipamentos muito relevantes que dificilmente são encontrados em outras instituições, como microscópios eletrônico de transmissão ou focal a laser. Temos centrais de agropecuária, de análises laboratoriais, de biologia molecular", enumerou.

De acordo com a diretora, todo tipo de patente futuramente pode gerar verba para a instituição. "Significa que a UEM está colocando ideias novas que podem chegar no mercado e gerar recursos para novas pesquisas, novos estudos e manutenção da instituição. As patentes verdes, ligadas ao meio ambiente, são extremamente importantes porque favorecem não só lado financeiro, mas também o lado ambiental." Ela destacou que o NIT tem 99 pedidos de patentes.


'Estou cumprindo minha missão'

A UFPR (Universidade Federal do Paraná) é a segunda colocada entre as 21 universidades públicas brasileiras analisadas por Maguel Souza Silva que realizaram depósito de patentes relacionadas à tecnologia verde. Na instituição da capital paranaense, o campeão de pedidos de depósito de patentes é o professor Carlos Soccol, chefe do Departamento de Engenharia Bioprocessos e Biotecnologia.

"Meu grupo tem 83 patentes depositadas ao longo de 20 anos com a visão de ajudar o Brasil. O País precisa ser mais soberano com a matéria-prima do agronegócio. Somos campeões na produção agrícola de culturas como a de milho, soja e cana-de-açúcar, temos abundância de biodiversidade e matérias-primas", apontou Soccol.

Segundo ele, hoje são os países desenvolvidos quem dominam a tecnologia. "Mas a gente não pode ficar atrás. Não podemos continuar vendendo um navio de soja para comprar um pacote de medicamento. Vendemos um navio cheio de minério para comprar um smartphone, que vem em uma caixinha pequena. As tecnologias de alto valor embarcado estão nas mãos de multinacionais. Precisamos agregar valor aos nossos produtos para deixar de exportar empregos e riqueza."

O professor explicou que trabalha com tecnologia circular, que é um conceito moderno de reaproveitamento de subprodutos da produção industrial. "Para produzir um produto são gerados resíduos. Tentamos gerar matéria-prima a partir desses resíduos para gerar outro produto até exaurir essa possibilidade."

Soccol defendeu a necessidade de desenvolver tecnologias para não gerar poluição, principalmente da indústria do petróleo e do carvão, que não se degradam facilmente. "Tentamos reduzir o impacto ambiental das indústrias, mas essa tecnologia não aparece de um dia para o outro", expôs. "Eu sinto que estou cumprindo minha missão. Sempre encarei que sou funcionário público e tenho que contribuir com a sociedade. Aparecemos como inventores via escritório de tecnologia ao lado de alunos de mestrado que participam desses projetos", ressaltou.(V.O.)