Imagem ilustrativa da imagem No PR, venezuelanos acompanham a crise do país com dois presidentes
| Foto: Marcos Zanutto



Pouco depois de 1 hora da tarde, Stefany Flores, 19, dava a seus filhos o almoço com os itens tradicionais da refeição venezuelana: feijão preto, ovos e macarrão. Enquanto assistia um DVD infantil gospel, a pequena Magyen Gutierrez, 10, comia a mistura sentada no sofá da casa que divide com outros 11 parentes, na aldeia de refugiados venezuelanos em Goioerê (Noroeste).

A crise humanitária na Venezuela os levou a procura de refúgio. Muitos ficaram a princípio em Pacaraima (RR), na fronteira, mas se inscreveram em programas de interiorização em busca de uma vida melhor. Em Roraima, foram vítimas de ataques xenófobos de brasileiros contrários à presença massiva dos imigrantes.

Um país com "dois presidentes", o ditador Nicolás Maduro e o autoproclamado Juan Guaidó, da oposição. Fugindo da hiperinflação e do desabastecimento, 45 venezuelanos estão acolhidos na aldeia, um sítio da ONG (organização não governamental) Aldeias SOS, na zona rural de Goioerê, que acolhe crianças. Desde agosto do ano passado, o município recebeu 111 venezuelanos.

Stefany Flores
Stefany Flores | Foto: Fotos: Marcos Zanutto
Elsa Herrera
Elsa Herrera



A gestão das casas da aldeia está a cargo de Alessandra Salvador, coordenadora do Brasil Sem Fronteiras, projeto que acolhe os refugiados. Ela divide a vida na aldeia com o curso de assistência social e a família. A mediação da vinda dos imigrantes é feita pela Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados). Além de Goioerê, o projeto acolhe refugiados nas aldeias em Igarassu (PE), Rio de Janeiro, Brasília, João Pessoa, Porto Alegre, São Paulo, Caicó (RN).

O projeto tem um perfil de refugiados. A maioria são mulheres com filhos pequenos. São 19 "niños" e três grávidas no abrigo, que já atravessaram a fronteira "embarazadas". O mais velho do grupo tem 57 anos.

Os refugiados que chegam pela ONG podem ficar no sítio por três meses com uma única preocupação: arranjar emprego. Depois desse período, ainda que recebam visitas de assistentes sociais da organização, devem se manter financeiramente. "O projeto fornece tudo por três meses. Eles ganham um vale para compras no supermercado. O valor é de R$ 270 per capita", diz.

Sandra Regina de Souza
Sandra Regina de Souza
Alessandra Salvador
Alessandra Salvador



A maioria dos refugiados que saiu da aldeia continua em Goioerê. Alguns foram para Cianorte e Maringá e para o Rio Grande do Sul. O primeiro grupo - que já deixou o sítio - chegou em agosto do ano passado, e o último em fevereiro.

A religião é importante marca dos refugiados. Grande parte deles são evangélicos, e deram adeus à Venezuela para viver no município de Goioerê, com 29 mil habitantes. Salvador conta que a religião ajuda bastante na adaptação dos venezuelanos. "Logo que eles chegam o pessoal da igreja vem aqui, convida para almoçar", conta.

Pelas normas da ONG - do mesmo núcleo familiar ou não - eles têm de compartilhar tudo na casa. "A gente orienta a revezaram, uma vez uma família faz a comida e depois a outra faz a refeição. A gente também orienta sobre o Estatuto da Criança e a lei Maria da Penha."


Quadro na parede da ONG mostra as fotos dos refugiados que passaram pela casa.
Quadro na parede da ONG mostra as fotos dos refugiados que passaram pela casa.
Goioerê já recebeu 111 refugiados venezuelanos
Goioerê já recebeu 111 refugiados venezuelanos



O projeto trabalha em parceria com ações da prefeitura, que atua em saúde, assistência social e educação. Sandra Regina de Souza, chefe do departamento de programas sociais da secretaria de Assistência Social de Goioerê, conta que foi uma surpresa o anúncio da recepção do primeiro grupo de 61 venezuelanos. "A prefeitura ficou sabendo uma semana antes da chegada deles", afirma.

Souza lembra que o prefeito pediu que a população recebesse bem os venezuelanos, já que eles sofreram muito na Venezuela e em Pacaraima, morando em praças.

Mulheres venezuelanas que vivem em Goioerê participam de oficinas de artesanato
Mulheres venezuelanas que vivem em Goioerê participam de oficinas de artesanato
Mareli Mercedes
Mareli Mercedes



Cada secretaria realizou ações focadas na aldeia. A assistência social cuidou do cadastro único na verificação de quem tinha Bolsa Família e quem não tinha. A educação fez um levantamento de crianças que precisavam de creches e escolas mais próximas e a saúde cuidou das vacinas. A pasta da indústria e comércio deu a possibilidade dos venezuelanos participarem de entrevistas de empregos. "Muitos deles foram colocados no mercado de trabalho através da agência de emprego do município."

"Uma vez no município, eles são munícipes. Têm todos os direitos de qualquer cidadão goioerense." A prefeitura referenciou os postos de saúde próximos à aldeia com consultas e medicamentos necessários. O município ainda disponibilizou uma professora de português para quem quisesse aprender. "Eles têm atendimento normal, não têm privilégios. Em um primeiro momento, quando começaram essas ações, a população entendeu que a gente daria privilégios a eles na questão de saúde e de vaga na creche. Mas não, é igual a todos. Fila de espera, agendamento", explica.

Magyen Gutierrez e Helen Contreras vivem com familiares em Goioerê
Magyen Gutierrez e Helen Contreras vivem com familiares em Goioerê



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