Curitiba - A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense) traz dados ainda mais alarmantes sobre o comportamento dos estudantes paranaenses e a ingestão de bebidas alcoólicas. Entre os frequentadores do 9º ano do ensino fundamental, 64,2% afirmaram já ter experimentado pelo menos uma dose, 30,2% consumiu álcool nos 30 dias anteriores à pesquisa e 25,9% admitiram ter ficado embriagados ao menos uma vez na vida.
A reportagem da FOLHA conversou com jovens com idades entre 11 e 19 anos, que não serão identificados, que contaram sua relação com o consumo de bebidas. O primeiro contato de todos eles foi na presença de familiares. "Minha mãe sempre oferece nas festas de final de ano", comentou um garoto de 13 anos, estudante da 7ª série do ensino fundamental. "Meu pai vende cerveja, pinga e refrigerantes na Kombi, não tem como deixar de experimentar", afirmou outro garoto de 12 anos, estudante do 6º ano, que também admitiu apreciar o narguilé (fumo aromatizado). "Não fumo cigarro, mas adoro o narguilé, principalmente o de menta. Uma vez até fiquei com os olhos vermelhos", explicou. Para ele, o fato de ver todo mundo bebendo é o que mais instiga a vontade de experimentar. "Eu tomei cerveja com 11 anos, não gostei, até hoje não entendi porque bebem tanto. Mas eu quero muito tomar quentão", contou outro menino, com 14 anos e estudante do 7º ano. "Eu comecei com 13 e não parei mais. Hoje, o que mais gosto é vodka, bebo todo fim de semana. E fumo uma carteira de cigarro por dia", revelou um jovem de 19 anos.
Para o psiquiatra e diretor do Departamento de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Saúde de Curitiba, Marcelo Kimati, essa realidade demonstra de forma contundente a ineficácia dos programas tradicionais de combate ao consumo do álcool e de drogas. "Amparar a luta contra isso na pedagogia do terror só aguça mais a curiosidade. O que falta ao poder público é traçar estratégias a partir do reconhecimento que as pessoas, e principalmente os menores de 17 anos, usam álcool e drogas como meio de socialização. Esse é o ponto de partida de dois programas que estamos desenvolvendo com quase 7 mil alunos da rede municipal", destacou.
As ações tentam desenvolver o protagonismo dos adolescentes em diversas atividades, trazendo outros caminhos de socialização sem o uso de álcool ou drogas. Outra ação é um trabalho de aprofundamento dos laços familiares. "O trabalho com a família tem mostrado dados reveladores, como a inexistência de diálogo entre pais e filhos. E a internet criou um abismo na comunicação", comentou.
"Embora seja legalizado, o álcool é disparadamente o maior problema de saúde pública e a principal porta de entrada para outras drogas. Mudar as estratégias e enfrentar seriamente o problema é dever de todas as esferas do poder, já que do outro lado há todo um trabalho de marketing cooptando novos consumidores. Fica inviável insistir com propagandas contra álcool e drogas para combater o problema, haja vista todo o investimento que a indústria de bebidas faz para vender."