Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e da madeireira Araupel assinaram nesta semana um acordo de convivência pacífica que promete pôr fim aos conflitos agrários ocorridos em Quedas do Iguaçu e Rio Bonito do Iguaçu, na região Centro-Sul do Estado. Pelo acordo, até que saia a decisão judicial, a empresa poderá fazer a extração de madeira das florestas de pinus e eucalipto das fazendas ocupadas e o MST vai poder manter os acampamentos onde vivem 3 mil famílias.

A região tem um longo histórico de conflitos, que se acirrou em abril de 2016, quando dois integrantes do MST morreram em confronto com a Polícia Ambiental, em um acampamento em Quedas do Iguaçu. Nos meses seguintes, a tensão aumentou e as duas partes relataram terem sido ameaçadas, com acusações de saques e destruição de maquinários das fazendas. A formalização do acordo, firmado pelo Ministério Público, ocorreu no Palácio Iguaçu e foi intermediado pela Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos, do governo estadual.

Para o representante da direção nacional do MST, Diego Moreira, o acordo vai garantir mais tranquilidade nas áreas ocupadas. "Agora, o pessoal vai poder produzir com tranquilidade. As 750 crianças que vivem lá vão poder estudar", comentou. Segundo ele, 3 mil famílias vivem em assentamentos – em situação regularizada - e outras 3 mil nos acampamentos, no complexo de Pinhal Ralo e Rio das Cobras.

Nos últimos meses, a Polícia Civil recebeu várias denúncias, por parte da Araupel e do próprio MST, sobre furto de madeira na região. Moreira disse que, com o acordo, as autoridades terão mais facilidade em chegar aos responsáveis pelos crimes. "Vamos cooperar com o trabalho da polícia para afastar a falsa ideia de que o MST esteja furtando madeira. Estamos dispostos a colaborar para que o autor desses furtos seja responsabilizado", garantiu.

O delegado de Quedas do Iguaçu, Michel Leite, contou que o clima de tensão está mais controlado nos últimos meses. Segundo ele, a tranquilidade também é resultado de grandes operações policiais realizadas no ano passado. "Conseguimos identificar e prender algumas lideranças sem-terra envolvidas em situações ilícitas. Isso arrefeceu os ânimos. Agora, o acordo tende a pacificar a região", relatou.

A reportagem tentou contato com a Araupel, mas não recebeu retorno. À Agência Estadual de Notícias, o diretor de operações Norton Fabris ressaltou que o acordo permite que a empresa continue operando nos dois municípios. De acordo com ele, a madeireira é responsável por 40% da economia da região e gera mil empregos diretos e outros 3 mil indiretos. "Fazemos este acordo como uma trégua emergencial para que possamos dar continuidade à nossa operação. Éramos muito prejudicados com a falta de acesso às florestas e teríamos um horizonte muito curto de trabalho se essa situação continuasse", disse.