Brasília - Preocupada com a onda de protestos que tomou conta das principais capitais nos últimos dias, a equipe da presidente Dilma Rousseff monitora cada vez mais de perto os movimentos de rua, que assumiram proporções inesperadas. Embora Dilma afirme que manifestações pacíficas são "legítimas e próprias da democracia", a marcha que ontem tomou conta da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes acendeu o sinal amarelo no Palácio do Planalto.
Em conversas reservadas, auxiliares de Dilma avaliam que há um sentimento difuso de contestação a "tudo que está aí", e não só aos R$ 0,20 de aumento na tarifa de transporte - mote para os primeiros dias de fúria em São Paulo e no Rio. O receio, agora, é que a insatisfação fuja do controle e contamine a avaliação dos governos petistas, de Dilma ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, prestes a completar seis meses no cargo.
Informações que chegaram ao Palácio do Planalto indicam que as manifestações não têm uma liderança unificada, embora fossem puxadas, inicialmente, pelo Movimento Passe Livre. A Polícia Federal detectou nos protestos integrantes do PSTU, do PSOL, punks, anarquistas e pessoas comuns, sem partido. O problema, porém, é que o Planalto não sabe de onde vêm exatamente os protestos e há, cada vez mais, um acirramento dos ânimos. "Isso é próprio da juventude", disse Dilma, amenizando o desconforto com a situação.
Num momento de escalada da inflação, aumento dos juros, preços mais altos no supermercado e ameaça de desemprego no horizonte, a presidente tenta "vender" otimismo em suas aparições públicas. Ela já definiu os críticos como "pessimistas", "vendedores do caos" e "velhos do Restelo", numa referência ao personagem do clássico "Os Lusíadas", de Luís de Camões.