Londrina – A Usina Hidrelétrica Mauá entregou ontem em Londrina aos representantes de oito terras indígenas das regiões Norte e Centro do Paraná uma coleção de livros e um documentário sobre os mitos e crenças resgatados a partir das histórias contatas pelos próprios índios. O objetivo é preservar a cultura indígena de caingangues, guaranis e xetás.
O trabalho foi realizado durante três anos e integra uma série de ações voltadas à educação patrimonial exigidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ao Consórcio Energético Cruzeiro do Sul, responsável pela construção da hidrelétrica no Rio Tibagi. As publicações destacam a culinária, as atividades de pesca, caça e lavoura, artesanato, religião, organização social e a cosmologia e os mitos das aldeias.
A antropóloga Gláucia Buratto Mello, coordenadora do trabalho, ressaltou a participação efetiva das comunidades e a preocupação em resgatar a cultura desses povos. "Eles tinham essa demanda de registrar a cultura oral para não se perder com o tempo. Tudo partiu deles e eles se organizaram muito bem para que o trabalho tivesse esse resultado. As crianças fizeram as ilustrações", frisou.
Foram produzidos cinco livros da cultura guarani, quatro caingangue e um xetá, além de três filmes com registros de imagens, fotos e depoimentos de representantes das três tribos.
Um dos líderes da reserva Apucaraninha, em Tamarana (Região Metropolitana de Londrina), onde vivem 1,7 mil caingangues, Ivan Rodrigues relatou que este trabalho vai se somar às atividades culturais já desenvolvidas na comunidade. "São marcas da nossa cultura que vão ficar registradas para sempre. É uma forma dos mais jovens manterem a tradição e se sentirem orgulhosos dos seu povo", opinou. Zaqueu Lima, líder da terra Mococa, em Ortigueira (Campos Gerais), acredita que o material vai ser importante também para divulgar a cultura indígena fora das aldeias. "Será uma forma de apresentarmos os nossos costumes para toda a sociedade e sermos reconhecidos por todos", avaliou.
Todo o material didático será encaminhado para as escolas das terras indígenas. Na área do canteiro de obras e reservatório da Usina Mauá foram resgatados mais de 30 mil peças e fragmentos arqueológicos, que estão sendo catalogados. A ossada mais antiga encontrada tem 1.380 anos. "Já estamos desenvolvendo um projeto para a criação de um museu indígena na região", confirmou Paulo Henrique Rathunde, superintendente do Consórcio.