Já condenado como coautor da morte de um menino de 11 anos, Zoza está preso desde 2008 e atualmente cumpre pena na Penitenciária Federal de Mossoró
Já condenado como coautor da morte de um menino de 11 anos, Zoza está preso desde 2008 e atualmente cumpre pena na Penitenciária Federal de Mossoró | Foto: Anderson Coelho



Um grande aparato de segurança foi montado nesta quinta-feira (17) na região do Fórum de Londrina para o julgamento de cinco réus acusados de participarem de uma quadrilha de tráfico de drogas que agia no Jardim Nossa Senhora da Paz (zona oeste de Londrina), conhecida como Favela da Bratac. De acordo com a denúncia do MP (Ministério Público), entre 2011 e 2012, Edson dos Santos Rodrigues, o Zoza, e outros quatro réus foram responsáveis pela morte de quatro pessoas. Uma quinta vítima também foi baleada, mas sobreviveu.

Zoza está preso desde 2008 por ser coautor da morte de um menino de 11 anos, crime cometido em Londrina dois anos antes. Depois de passar por penitenciárias de Londrina, Curitiba e Cuiabá, Zoza cumpre pena na Penitenciária Federal de Mossoró (RN), de onde veio escoltado por agentes do Depen (Departamento Penitenciário) Nacional.

O réu chegou ao fórum no início da manhã acompanhado por três viaturas do Pelotão de Choque do 5º Batalhão da PM (Polícia Militar) e outras duas do Departamento Penitenciário do Paraná, que bloquearam parte da rua Senador Souza Naves. Os policiais realizaram blitze nas redondezas e até o helicóptero da PM sobrevoou o fórum por várias vezes.

De acordo com a acusação, Zoza teria dado a ordem de dentro do presídio para que os outros réus, integrantes da quadrilha, Bruno José da Silva, Jeferson Rangel Arruda, Mauro Lucio Marques Junior e Neverton Damaceno assassinassem criminosos rivais que também agiam na zona oeste.

O delegado Paulo Henrique Costa, que comandava o Setor de Homicídios da 10ª Subdivisão Policial na época, foi o primeiro a depor. Ele afirmou que a primeira vítima, identificada como Josuel Alves, o Pepeu, era comparsa de Zoza no tráfico. Alves ficou incumbido de entregar R$ 160 mil para outro traficante. No entanto, a Polícia Militar apreendeu o dinheiro durante uma abordagem na BR-369, na saída para Ibiporã. Mesmo preso, Zoza ficou sabendo que a transferência foi malsucedida e ordenou a morte de Josuel Alves.

O último assassinato foi de José Carlos Vieira. Segundo o delegado, Vieira prestou depoimento durante uma tarde inteira na Delegacia de Homicídios. Na ocasião, confirmou aos investigadores que estaria sendo ameaçado pelos comparsas de Zoza. Costa reiterou que chegou a oferecer proteção policial a Vieira, o que foi recusado. Na madrugada seguinte, Vieira foi morto com vários disparos de arma de fogo em sua residência. As outras vítimas de homicídio são Sérgio Herinque Marques, o Nego Pio; e Rogério Luciano da Silveira, o Rogerinho.

O único sobrevivente da série de ataques foi Leandro Dalbello, que cumpre pena há seis meses em Carazinho, no interior do Rio Grande do Sul. Ele estava no mesmo carro que Josuel Alves, o primeiro a ser assassinado. No depoimento, Dalbello reiterou que duas pessoas passaram de moto atirando. "Nunca tive desavença com o Zoza", declarou.

Zoza começou a ser ouvido por volta das 15 horas. Ele admitiu ter cometidos diversos furtos e ter envolvimento com o tráfico de drogas no Jardim Nossa Senhora da Paz, mas disse que "nunca cometeu um assassinato ou mandou matar ninguém". Questionado pela defesa sobre as condições em que foi criado, chorou e relatou ter tido uma infância difícil e que o pai dele "não tinha capacidade de ensinar a ele e ao irmão a diferença entre o certo e o errado". Mencionou três passagens por atos infracionais quando era adolescente. Após se estender ao detalhar sua vida, o Ministério Público interveio, pedindo objetividade.

Em seguida, os promotores Ricardo Domingos e Tadeu Augimeri de Goes Lima expuseram, por três horas, os detalhes do processo aos jurados. Eles apresentaram fotos, vídeos e outros materiais relacionados aos inquéritos sobre os crimes. Domingues advertiu os jurados que as lágrimas de Zoza não passavam de uma ação teatral para convencer os jurados. "Um instinto de sobrevivência", definiu.

O julgamento foi marcado ainda pelo desentendimento entre a juíza Elizabeth Khater e os cinco advogados presentes. Após reiteradas discussões, cada advogado teve 30 minutos para tentar convencer os jurados sobre a inocência dos réus. O júri, que começou às 9 horas, ainda não havia terminado até o fechamento desta edição.