Imagem ilustrativa da imagem Índios bloqueiam cruzamento para reivindicar cumprimento de acordo
| Foto: Gina Mardones



Cerca de 200 moradores de oito terras indígenas (Mococa, Queimadas, Apucaraninha, São Jerônimo, Barão de Antonina, Posto Velho, Laranjinha e Pinhalzinho), que ficam nas proximidades da Usina Hidrelétrica Mauá, bloquearam o cruzamento da avenida Duque de Caxias com a avenida Juscelino Kubitschek, na região central de Londrina, para realizar um protesto contra a quebra de um acordo firmado entre eles e o Consórcio Energético Cruzeiro do Sul.

Segundo Natalino Marcolino, cacique da Reserva do Apucaraninha, a manifestação aconteceu porque terminou o prazo para que o Consórcio Energético Cruzeiro do Sul providenciasse a aquisição e cessão aos índios de gado e o plantio de lavouras. "Os índios estão proibidos de pescar nesse rio, porque a usina abre e fecha as comportas e isso faz com que o rio encha e esvazie de uma vez. Isso se torna perigoso para quem quer pescar por lá. Já perdemos muito e queremos o retorno disso. Eles falaram que fariam o plantio de milho, feijão, e de um pomar, além de comprar gado para a gente e não fizeram nada disso. Os veículos que foram cedidos em troca da construção da usina também estão sucateados, sem manutenção. O prazo de cinco anos que foi estabelecido para que isso acontecesse não foi cumprido e venceu agora", argumentou.

O bloqueio começou por volta do meio-dia e se estendeu por mais de uma hora. A CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) não havia sido informada sobre a realização do protesto e o trânsito ficou confuso no cruzamento. Vários veículos tentaram forçar a passagem. Muito cortaram o caminho por um posto de combustíveis que existe por lá, no entanto, o clima ficou tenso quando motociclistas tentaram forçar a passagem e foram impedidos. Logo uma pessoa agrediu uma das manifestantes. Cleusa Crenan dos Santos alegou que estava na calçada quando foi ofendida por uma rapaz. "Eu falei para ele que era melhor sair dali se não quisesse se machucar. Falei que a discussão era com um dos motoqueiros. Ele disse 'vocês são burros' e me empurrou. Meus parentes viram a cena e foram para cima dele", relatou. Os manifestantes começaram a revidar a agressão com violência, com pauladas e golpes. Os motociclistas não foram identificados e saíram do local com ferimentos.

Marcolino afirma que isso não teria acontecido se os motociclistas tivessem esperado uns dez ou vinte minutos. "Precisa acontecer desse jeito? Quando os outros fazem manifestações a gente nem aparece, mas quando a gente faz, ninguém respeita. A gente está atrás dos direitos da gente. Os brancos deveriam entender o nosso lado e ajudar a gente a conseguir isso", criticou.

O cacique exigiu a presença do diretor presidente da Copel Geração e Transmissão S.A, Sergio Luiz Lamy, que foi superintendente do consórcio à época que o acordo foi firmado, mas ele não compareceu ao protesto. A UHE Mauá (361MW) foi construída por consórcio das empresas Copel e Eletrosul (Consórcio Cruzeiro do Sul). Fica a cerca de 40km da Aldeia Sede da TI Apucarana, em linha reta, a montante no rio Tibagi.

Em nota, o Consórcio afirma que a manifestação "causa surpresa" e que tem cumprimento integralmente o acordo e mantendo aberto o diálogo com as comunidades.

Confira a nota na íntegra:

O Consórcio Energético Cruzeiro do Sul (integrado por Copel e Eletrosul) investiu nos últimos cinco anos mais de R$ 32 milhões em projetos de apoio às atividades agropecuárias, articulação de lideranças indígenas, vigilância e gestão territorial, recuperação de áreas degradadas e proteção de nascentes, melhoria da infraestrutura, fomento à cultura e às atividades de lazer, monitoramento da fauna e da qualidade da água nas comunidades indígenas.

Essas ações estão reunidas em um programa de compensação, aprovado pelos índios e pela Funai em 2012, e que permanece em pleno andamento.

A manifestação de hoje causa surpresa pois, durante todo esse período, o Consórcio vem reiterando o compromisso de cumprimento integral do programa naquilo que ainda resta ser realizado e mantendo aberto o diálogo com as comunidades.