Segundo a ONG, as mais de 2.600 crianças brasileiras nascidas com microcefalia e outras condições do vírus da zika precisarão de cuidados especiais durante toda a vida
Segundo a ONG, as mais de 2.600 crianças brasileiras nascidas com microcefalia e outras condições do vírus da zika precisarão de cuidados especiais durante toda a vida | Foto: Christophe Simon/AFP


São Paulo - Relatório divulgado nesta quinta-feira (13) pela Human Rights Watch diz que problemas existentes no Brasil há muito tempo e que permitiram a intensificação da epidemia de zika não foram solucionados, apesar de as autoridades terem declarado, em maio de 2017, o fim da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) para o vírus. O anúncio do governo, por meio do Ministério da Saúde, foi feito 18 meses depois da decretação da emergência.

Segundo o relatório, é preciso que as autoridades brasileiras invistam em infraestrutura de água e saneamento para controlar a reprodução dos mosquitos e melhorar a saúde pública. "As autoridades devem também fornecer informações abrangentes sobre saúde reprodutiva e fornecer serviços de saúde para mulheres e meninas, descriminalizar o aborto e garantir que crianças com síndrome de zika tenham acesso de longo prazo a serviços que lhes proporcionem a melhor qualidade de vida possível", diz o relatório da organização não governamental.

No relatório "Esquecidas e desprotegidas: o impacto do vírus zika nas meninas e mulheres no Nordeste do Brasil", a Human Rights Watch afirma ter constatado que anos de negligência contribuíram para as condições de água e esgoto que permitiram a proliferação do mosquito Aedes aegypti e a rápida disseminação do vírus.

Para fazer o relatório, a Human Rights Watch entrevistou 183 pessoas em Pernambuco e na Paraíba, dois dos Estados do Nordeste mais atingidos pelo vírus. Entre os entrevistados, estão 98 mulheres e meninas entre 15 e 63 anos de idade, das quais 44 estavam grávidas ou haviam tido bebê recentemente. Entre essas, 30 entrevistadas criavam filhos com Síndrome de Zika.
"Os brasileiros podem até ver a declaração do Ministério da Saúde sobre o fim da emergência para o zika como uma vitória, mas riscos significativos ainda permanecem, assim como persistem os problemas subjacentes de direitos expostos pela epidemia. Os direitos básicos dos brasileiros continuarão ameaçados, caso o governo não reduza a infestação de mosquitos no longo prazo, não garanta o acesso a direitos reprodutivos e não apoie as famílias com crianças afetadas pelo zika", disse a coautora do relatório e pesquisadora sênior da divisão de Direitos da Mulher da Human Rights Watch, Amanda Klasing.

Segundo a Human Rights Watch, as mais de 2.600 crianças brasileiras nascidas com microcefalia e outras condições do vírus da zika precisarão de cuidados especiais durante toda a vida, mas seus cuidadores não recebem do governo o apoio necessário para tratamento ou locomoção.

O Ministério da Saúde foi procurado pela reportagem, mas não se manifestou sobre o relatório até o fechamento desta edição.