Com um índice de partos prematuros de 11,5%, o Brasil ultrapassa em quase duas vezes a taxa observada nos países desenvolvidos. Em Londrina, o HU (Hospital Universitário) é um centro de referência para gestantes de risco não só da cidade, mas de toda a região, e mesmo com um número elevado de bebês que nascem com menos de 37 semanas de gestação, o índice de sobrevida teve um avanço significativo nos últimos cinco anos, colaborando para que o município registrasse taxas de prematuridade abaixo da média nacional.

Os investimentos em tecnologia, a capacitação dos profissionais que atuam nas unidades de terapia intensiva, a melhora na qualidade e a humanização do atendimento são fatores que contribuíram para que o município e em especial o HU tivessem bons resultados nos cuidados com os bebês prematuros.

"Isso foi de uns cinco anos para cá. Há 20 anos, bebês de 23, 24 semanas não sobreviviam. Hoje, o limite de viabilidade é a partir de 22 semanas. A neonatologia tem evoluído muito", destacou a médica coordenadora da UTI neonatal do HU, Lígia Lopes Ferrari.

Nesta sexta-feira (17), data em que é comemorado o Dia Mundial da Prematuridade, o HU preparou uma festa para recepcionar as mães e os bebês prematuros atendidos pelo hospital e que hoje, após um longo período de internamento, apresentam um desenvolvimento normal. Os profissionais da UTI e UCI neonatal montaram um mural de fotos que retratam o antes e o depois da incubadora.

Desde 1997 o HU realiza um trabalho mais efetivo nos cuidados com os bebês prematuros que inclui acompanhamentos periódicos da criança com uma equipe multidisciplinar após o longo período de internação. Nos primeiros seis meses de vida, o retorno é mensal, depois passa a ser bimestral, semestral e anual, até chegar à fase da adolescência.

"Nosso índice de partos prematuros é alto aqui no HU porque como somos uma unidade de referência, recebemos muitas gestantes de risco de Londrina e região, mas temos centenas de casos de bebês prematuros aqui no hospital que evoluíram muito bem", ressaltou Ferrari. "A nossa taxa de mortalidade entre bebês prematuros aqui no hospital é bem baixa, varia de 2% a 3%. Mostra que, apesar das dificuldades, ainda conseguimos trabalhar muito bem as complexidades do atendimento a um bebê prematuro", completou a enfermeira chefe da UTI e UCI neonatal do HU, Valéria Costa Evangelista da Silva.

CAUSAS DA PREMATURIDADE
São muitos os motivos que levam a um parto prematuro. Entre eles estão a não realização do pré-natal ou o pré-natal tardio e problemas de saúde da mãe, como infecção urinária, diabetes e hipertensão, que são doenças que podem ser controladas e prolongar a gestação em mães que fazem o pré-natal desde o início da gravidez. Gravidez gemelar e pouca idade da mãe ou mãe idosa também são fatores que podem interferir para reduzir o período de gestação. "Em Londrina, a rede pública oferece um atendimento pré-natal de qualidade, mas nem todas as mães optam por fazer esse pré-natal", lembrou Ferrari.

A enfermeira chefe da UTI neonatal lembra que o uso de álcool, drogas e cigarro também pode antecipar o parto e chama a atenção para o grande número de prematuros tardios – entre 34 e 36 semanas – que no HU varia de 28% a 30%. "Os dados estatísticos nos levam a pensar o que está acontecendo. Os partos de prematuros de 23, 24 semanas têm uma taxa pequena. O que nos preocupa são os prematuros tardios, que têm uma taxa alta. Será que não teve um pré-natal bem feito? Também tem os partos cesarianos programados, quando a mãe escolhe a data ou para o médico uma data X é mais propícia. Talvez tenhamos que repensar isso para reduzir esse percentual", disse Silva.

COMPLICAÇÕES
Para os bebês, são muitos os riscos decorrentes do parto prematuro. Os órgãos ainda não atingiram a maturidade e por isso são comuns problemas no pulmão e cérebro, com possíveis sequelas neurológicas. Também aumentam as chances de o bebê contrair uma infecção. Na UTI neonatal é que a criança vai completar o desenvolvimento que não teve no útero. "A gente tenta oferecer o melhor tratamento possível, mas nada é igual ao útero materno", ressaltou Ferrari.

No HU, por exemplo, são desenvolvidos vários programas de humanização para o atendimento ao recém-nascido prematuro, como o aleitamento materno precoce, o método canguru – quando a mãe passa um período do dia com o filho preso junto ao corpo – nos primeiros dias de vida, hidroterapia, uso da rede na incubadora e a possibilidade de permanência dos pais ao lado do bebê durante 24 horas. Também há todo um cuidado com o espaço físico da UTI e UCI neonatal, com a redução de ruídos e pouca iluminação para favorecer o desenvolvimento da criança. "São coisas pequenas, mas que fazem bastante diferença no desenvolvimento global. Há bebês que ficam três meses internados", explicou a coordenadora da UTI.

Em UTI, bebês lutam pela vida

Bianca Cavalaro não sai de perto da filha Eloah, que nasceu com 26 semanas, pesando 890 gramas; sete semanas depois, já está com 1,6 quilo e respira sem equipamentos
Bianca Cavalaro não sai de perto da filha Eloah, que nasceu com 26 semanas, pesando 890 gramas; sete semanas depois, já está com 1,6 quilo e respira sem equipamentos | Foto: Fotos: Gina Mardones



Ter um bebê prematuro é um momento de muita incerteza, mas também de muita dedicação e esperança. A pedagoga Ana Carolina Rocha dos Santos engravidou de gêmeos e tudo corria bem até que foi diagnosticada a Síndrome da Transfusão Feto-Fetal, que causa o desequilíbrio no fluxo de sangue entre os dois bebês. A mãe, então, foi internada e ficou por 12 dias em repouso absoluto. Mas os cuidados não evitaram o parto prematuro e na quarta-feira (15) a bolsa rompeu e ela deu à luz duas meninas após 26 semanas de gestação.

Manuela nasceu com 300 gramas e não resistiu. Maria Clara, pesando 768 gramas, está na UTI neonatal do HU. "Ela está estável, mas é difícil vê-la assim, toda entubada. No total eu fiquei internada por 15 dias. Tive alta hoje e agora não vou mais sair de perto dela", disse a mãe. "Ver outras mães na mesma situação, ouvir outras histórias de pessoas que já passaram por isso dá mais ânimo", completou. "Estamos arrasados pela perda da Manuela, é a primeira vez que sou pai. Mas sabemos que tem a chance de a Maria Clara se recuperar e ela está sendo bem cuidada, está em boas mãos", comentou o pai, Vitor Hugo Leite do Prado.

Ana Carolina Rocha dos Santos observa a filha Maria Clara, que nasceu com 768 gramas: "Ouvir outras histórias de pessoas que já passaram por isso dá mais ânimo"
Ana Carolina Rocha dos Santos observa a filha Maria Clara, que nasceu com 768 gramas: "Ouvir outras histórias de pessoas que já passaram por isso dá mais ânimo"



A dona de casa Bianca Caroline Balbidia Cavalaro também não sai de perto da Eloah, que nasceu com 26 semanas de parto normal. "Não tive problema nenhum na gravidez. Fiquei uma semana internada para tentar segurar a gestação, mas não teve jeito. Ela quis vir logo para o mundo. Eu morria de medo de parto normal, queria fazer cesárea, mas ela me fez perder o medo", contou a mãe.

Eloah está agora com 33 semanas e já enfrentou algumas batalhas. Ela nasceu em um hospital em Apucarana (Centro-Norte) no dia 29 de outubro e quando chegou à UTI do HU, para onde foi transferida, os rins não funcionavam. "Ela foi desenganada duas vezes pelos médicos, mas resiste. Lá em Apucarana falaram que ela não sobreviveria. Nasceu com 890 gramas e já está com 1,606 quilo. Foi um alívio quando ela retirou os equipamentos. Agora ela já respira sozinha", comemorou Cavalaro.

Para ajudar no desenvolvimento de Eloah, a mãe utiliza o método canguru. Junto ao corpo da mãe, o bebê esbanja tranquilidade. "Está há mais de 40 dias aqui e não tem previsão de alta, mas não vejo a hora de levá-la para casa".