O corpo da paranaense Ivanice Carvalho da Costa, 36, morta por engano durante uma ação da polícia portuguesa na madrugada de quarta-feira (15), segue em Lisboa e ainda não tem data prevista para chegar ao Brasil. A família, que mora em Amaporã (Noroeste), acreditava que o corpo chegaria ao País nesta sexta-feira (24). No entanto, na tarde de ontem, Yasmin Costa, irmã de Ivanice, disse à FOLHA que os documentos de autorização para o traslado só foram assinados por uma tia delas, Célia Maria da Silva Nunes, 42, que também mora em Portugal, na terça-feira.

De acordo com Yasmin, uma funerária portuguesa está cuidando dos trâmites para agilizar o traslado que foi pago pelos donos do restaurante em que Ivanice trabalhava havia 17 anos, no Aeroporto de Lisboa. Em entrevista recente, a mãe de Ivanice, Maria Luzia Silva Carvalho da Costa, 59, relatou a angústia pela espera e cobrou a responsabilização dos policiais. "Minha filha era uma pessoa boa, nunca fez mal a ninguém. Eles [policiais] têm que pagar pelo que fizeram."

A polícia portuguesa justificou que estava à procura de um grupo de assaltantes e que o carro, dirigido pelo companheiro de Ivanice, não obedeceu à ordem de parar e quase atropelou um dos policiais. Na segunda-feira (20), um dos principais jornais portugueses, o Diário de Notícia, trouxe o duro artigo "Ivanice e as 40 balas", assinado por Fernanda Câncio. A jornalista destaca a quantidade de tiros (40 disparos, sendo que cerca de metade atingiu o carro) disparados na traseira do veículo.

O artigo cita trecho da lei portuguesa que prevê que os policiais podem fazer uso de arma de fogo apenas "se houver perigo iminente de morte ou ofensa grave à integridade física" e aponta que a "pós-tentativa de atropelamento" não se enquadra no artigo disposto. Ivanice foi atingida por um disparo no pescoço e não resistiu. Um advogado contratado por Célia cuida do caso na Justiça portuguesa. A família informou que só pretende dar informações sobre questões judiciais após o sepultamento.