Curitiba - Os promotores que atuam no caso das mortes ocorridas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico, no período em que a médica Virgínia Soares de Souza esteve no comando, esclareceram nesta segunda-feira (24) à imprensa as razões do pedido feito à Justiça para que ela vá a júri popular. O pedido consta nas alegações finais feitas pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), na semana passada, no processo judicial que a médica e outros oito acusados respondem pela morte de sete pacientes ocorridas entre maio de 2011 e janeiro de 2013.
O caso veio à tona em 2013, quando Virgínia e parte da equipe dela foram presos em uma operação policial conduzida pelo Núcleo de Repressão Contra a Saúde (Nucrisa), na qual eles apuraram que a "quadrilha" supostamente acelerava a morte de pessoas internadas sob o comando da então chefe da UTI. "Essa equipe possuía, inclusive o nome do usuário e a senha eletrônica da médica Virgínia para prescrever as dosagens do chamado kit morte", informou a promotora de Justiça Fernanda Nagl Garcez.
As investigações do MP-PR envolvem todo o período em que a médica, contratada desde 2003 como prestadora de serviços do hospital, passou a ser chefe da UTI, de janeiro de 2006 a fevereiro de 2013. De acordo com o que foi revelado pelos promotores, existem 300 prontuários de pacientes que morreram na UTI do Hospital Evangélico após receberem o mesmo "criminoso padrão de conduta", que consistia na prescrição do "kit morte", uma combinação de sedativos, analgésicos e bloqueadores neuromusculares, com a posterior a alteração do parâmetro respiratório do aparelho de ventilação mecânica.
"É importante observar que são medicamentos usuais na medicina intensiva, mas indícios como a mesma dosagem independentemente do peso dos pacientes reforçam a nossa conclusão. Também chamou a atenção a repetição de um dos medicamentos usados para indução ao coma, o Thiomembutal, empregado nos Estados Unidos em locais com pena de morte para a execução dos condenados", comentou a promotora.
Segundo Fernanda, esses 300 prontuários possuem elementos para virar inquérito policial. "Dos sete casos que estão no processo, sustentamos que nenhum desses pacientes morreu em decorrência das complicações da doença. Houve uma antecipação via uso de medicamentos. Esse padrão se repete em 300 prontuários que devem virar inquéritos para se apurar se o padrão de atendimento foi criminoso ou não", explicou a promotora.
A convicção dos promotores está amparada nos laudos do Instituto Médico Legal (IML) e do médico intensivista contratado pelo MP-PR, com recursos do fundo da própria instituição. "Ainda não está clara se havia uma motivação financeira, mas há evidências de que ela agia pela pura e simples convicção de que determinado paciente não era tratável, desconsiderando a literatura médica e a lei", destacou o procurador de Justiça Paulo Sérgio Markowicz de Lima.

DEFESA
A defesa dos réus tem 20 dias para apresentar a alegação final à Justiça. O advogado Elias Mattar Assad, que atua na defesa da médica, publicou em sua página no Facebook uma nota na qual classificou como "lenda" o trabalho feito pelo MP-PR. Procurado pela FOLHA, o advogado reconheceu que os procedimentos da medicina intensiva são passíveis de interpretações. Quanto à defesa, ele reafirmou o que também postou em sua página na rede social. "Vou pedir que ela não seja levada a júri popular e que seja absolvida pela inexistência de crime", afirmou.
O procurador de Justiça Lucas Cavini Leonardi calcula que somente no início de 2017, por conta do recesso de fim de ano, seja decidido se o caso irá a júri popular.

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CASO VIRGÍNIA - Um ano sem punições