Praça do Parque das Indústrias, cenário de tiroteio e morte no sábado, estava completamente vazia no domingo; no Parque Ouro Branco(abaixo), parede cravejada de balas  mostra a violência do ocorrido
Praça do Parque das Indústrias, cenário de tiroteio e morte no sábado, estava completamente vazia no domingo; no Parque Ouro Branco(abaixo), parede cravejada de balas mostra a violência do ocorrido | Foto: Fotos: Gustavo Carneiro



O conflito entre facções rivais e que resultou na morte de três pessoas no Jardim Ouro Branco e no Parque das Indústrias (zona sul) na tarde do último sábado(16) piorou o clima de insegurança que os moradores da região já vêm sentindo há anos com o aumento da criminalidade, de tráfico de drogas e de homicídios que têm sido registrados por ali. No dia seguinte ao episódio dos tiroteios, a reportagem voltou ao local dos assassinatos e tentou conversar com os moradores desses bairros. Quase todos eles se limitaram a atender pela janela entreaberta e mesmo assim poucos deles se dispuseram a conversar com a reportagem. Uns alegavam que não tinham visto nada. Os que viram algo, se recusaram a relatar algo com medo de alguma represália por parte dos bandidos. Esse clima de medo se espalhou pelos dois bairros. O ar estava bastante pesado, com poucas pessoas andando nas ruas. Na praça da Rua Crisântemos, no Parque das Indústrias, que foi palco dos tiroteios, não havia ninguém. Apenas uma garrafa de vodca quebrada estava perto do banco em que Cláudio Crispim, 36, estava quando foi baleado no sábado e acabou morrendo a caminho do hospital.
Um dos moradores das imediações, que pediu para não ser identificado, destacou que estava dentro de casa quando ouviu os tiros. Ao sair para olhar o que estava acontecendo, ele destacou que havia quatro pessoas sentadas nesse banco de praça, que fica em frente da Rua Crisântemos e uma moto teria desferido vários disparos de uma arma que ele classificou como "pistola estendida". Mais de 20 disparos teriam sido desferidos a ponto de uma das pessoas ouvidas pela reportagem ter confundido os tiros com barulhos de bombinhas de festas juninas. "Uma pessoa que estava em uma motocicleta prata voltou para averiguar se a pessoa tinha morrido mesmo. O duro é que durante o tiroteio havia muitas crianças na praça. Elas fugiram e deixaram a bicicleta e a bola para trás", relata. Depois dos disparos, algumas das pessoas fugiram e mesmo feridas pularam muros e portões e entraram na casa de alguns dos vizinhos da praça.
Na casa da Rua dos Gerânios que ficou com o muro cheio de buracos com os disparos feitos pelos criminosos, a reportagem tentou entrevistar a moradora, mas a conversa foi brutalmente interrompida. "Mãe, a senhora não sabe de nada. Não fale nada com eles", disse um jovem ao fechar o portão bruscamente. Seus vizinhos também só atenderam a reportagem pelas janelas ou separados por grades dos portões, mas não revelaram nada. O medo de dizer algo estava claro. "Não posso falar nada" foi a frase mais ouvida por nossa equipe. No local morreu o rapaz Victor Hugo Santana dos Santos, de 20 anos, conhecido também como "Vitinho", que já possuía passagem pela polícia.

Bala perdida matou vendedora de pães
No velório de Maria de Fátima Nascimento Moraes, de 57 anos, a vendedora de pães que foi atingida por uma bala perdida e morreu na hora, seus parentes estavam inconformados com a perda da forma como ela ocorreu. Nenhum deles se dispôs a conversar com a reportagem mas sua amiga Maria Célia da Silva Moreira, 52, técnica em enfermagem, que a conhecia há 15 anos, quis deixar um relato sobre como ela era no dia a dia. "Ela era uma pessoa maravilhosa. Se eu fosse definir, era uma boa mãe, trabalhadora, uma boa amiga. Ela vendia pães há muitos anos. Eu também faço e inclusive os primeiros pães ela começou a fazer na minha casa. Eu dividia a receita com ela e ela dividia receitas comigo. E fazer pães era um prazer para ela. Ela trabalhava com muita alegria e dedicação", relembra. Moreira recebeu a notícia da morte da amiga em sua casa. "Sobre a violência aqui na nossa região eu vou te dizer que todos estão na chuva e todos estão com medo de se molhar. A nossa esperança está em Deus. Que Ele nos livre e nos guarde e proteja a gente e nossos parentes", disse em prece.

Cresce a violência na cidade
Até o dia 10 de agosto deste ano foram registrados 98 casos de homicídios dolosos, latrocínios (roubo seguido de morte) e óbitos em unidades de saúde (após lesão corporal), segundo levantamento realizado pelo Grupo Folha. O número é 40% superior ao mesmo período do ano passado, quando a cidade registrou 70 casos. Julho de 2017 chegou ao fim com 15 assassinatos. Em 2016, apenas seis ocorreram nos mesmos 31 dias. Alguns casos foram muito emblemáticos na região. No dia 27 de abril deste ano o jovem Lucas Lopes, 22, foi morto por dois homens não identificados na rua Madressilva, no Jardim Ouro Branco. No dia 5 de maio deste ano um Kadett foi crivado de balas na Rua Crisântemo, Parque das Indústrias. Ainda em maio deste ano o jovem Jonathan Henrique Pereira, 22, morreu após ter sido atingido por 13 tiros, a maioria disparada contra a cabeça. O crime ocorreu na rua das Magnólias, no Parque Ouro Branco. No dia 3 de agosto o jovem Gabriel Caique Ferreira de Oliveira, de 23 anos, morreu após ser baleado dentro da casa onde morava no Jardim Esperança (zona sul).
O delegado chefe da 10ª Subdivisão Policial de Londrina (10º SDP), Osmir Ferreira Neves Junior, destaca que está perto de elucidar a autoria dos homicídios. "Na verdade é uma desavença entre pessoas com passagens policiais. São moradores da zona norte e sul da cidade e essas mortes são decorrentes de outras que aconteceram ao longo deste ano, no primeiro semestre. Agora é um contexto de produção de provas. Nós já temos um indicativo de autoria. Somente a vendedora de pães que estava próximo do local do tiroteio não tinha nada a ver com os fatos", destaca.
Questionado sobre o funcionamento de um ponto de tráfico na praça do Parque das Indústrias em que ocorreu o primeiro homicídio do sábado, Neves Junior afirma que a motivação está associada também com o tráfico de drogas, mas o principal motivo é um acerto de contas dos homicídios no primeiro semestre. "É a violência gratuita entre pessoas que tinham várias passagens policiais e que eles acabam acabam causando todo esse transtorno. Foram dois crimes próximos no primeiro semestre associados", aponta.
Sobre o balanço da criminalidade e homicídios o delegado chefe afirma que no segundo semestre houve uma redução de homicídios. "Estávamos nos aproximando do mesmo número proporcional ao do ano passado. Acreditamos que devemos encerrar o ano com um número de homicídios semelhante ao de 2016. Nós colocamos em prática algumas ações que reduziram o número de homicídios em relação ao primeiro semestre. É uma política duradoura na qual estamos buscando identificar dentro das organizações criminosas os homicidas para efetuar a prisão e tentar resultar na queda dessas mortes".