O total de brasileiros cursando a graduação nos Estados Unidos cresceu 65,8% entre 2011 e 2016. Coordenadores de escolas particulares de São Paulo dizem que o aumento na procura pelo ensino superior fora do País se deve ao currículo mais flexível e voltado ao mercado de trabalho e à crise nas instituições públicas brasileiras, que têm sofrido com cortes de verba.

No ano letivo americano de 2015-2016, último dado do Instituto de Educação Internacional, dos Estados Unidos, o Brasil tinha 6.990 alunos em graduações - cinco anos antes eram 4.215. Com a crise econômica no País, não houve queda de calouros brasileiros, mas ritmo menor de crescimento. Entre 2014-2015 e o período seguinte, a alta foi de 1,7%.

No 3 ano do ensino médio do Colégio Bandeirantes, na zona sul de São Paulo, Adriely Costa, de 16 anos, espera entrar nesse grupo. Desde o 9º ano do ensino fundamental ela se prepara para fazer um curso na área de negócios. "Não me identifico muito com as instituições públicas brasileiras. A USP (Universidade de São Paulo) nunca me atraiu porque é muito focada em pesquisa e não é tão voltada para o mercado."

"É um movimento que tem crescido com muita força. Antes, era muito mais comum o aluno fazer só um intercâmbio enquanto cursava a faculdade aqui no Brasil ou ia fazer uma pós no exterior. Agora, eles estão se adiantando e querem fazer toda a graduação nos EUA", diz José Olavo de Amorim, coordenador de assuntos internacionais do Bandeirantes. Em 2014, o colégio teve 17 alunos aprovados em universidades estrangeiras. No ano passado, foram 28.

"Lá, há liberdade maior para montar a grade de disciplinas. Em algumas instituições, o aluno só vai escolher a especialização no fim do 2ºano e pode trocar de opção até três vezes. Aqui, se mudar de ideia, tem de abandonar a faculdade e fazer cursinho", explica Amorim, que também aponta a baixa internacionalização das faculdades brasileiras como problema.
Os alunos que mais procuram a graduação no exterior são aqueles que querem cursos nas áreas de Artes, Comunicação e Economia.

Procurado para comentar a queda de interesse de alunos de escolas particulares de elite pelas universidades federais, o Ministério da Educação (MEC) disse que não faltam verbas para a rede. Já a USP destacou medidas para reequilibrar as finanças e sua boa posição em rankings internacionais.

Para quem não tem dinheiro suficiente para pagar todo o curso, pesam contra o câmbio desfavorável e as poucas opções de bolsas para a graduação. Mas o sonho do intercâmbio não deve ser descartado. "Boas universidades brasileiras têm área de intercâmbio e os alunos podem aguardar para fazer uma pós (no exterior)", diz Andrea Tissenbaum, consultora em carreiras internacionais e autora do Blog da Tissen.