Souza e o neurocirurgião Zicarelli: procedimento para a retirada de tumor foi bem sucedido e o empresário não ficou com nenhuma sequela
Souza e o neurocirurgião Zicarelli: procedimento para a retirada de tumor foi bem sucedido e o empresário não ficou com nenhuma sequela | Foto: Roberto Custódio


A perda de força no braço esquerdo foi o primeiro alerta de uma lesão cerebral do empresário londrinense Carlos de Souza, 47. Ele foi operado com a técnica "awake craniotomy", isto é, com o paciente acordado, para a retirada de um tumor no cérebro. Souza passou pela cirurgia no dia 4 de novembro de 2016, no Hospital Evangélico, por uma equipe de especialistas, entre eles, o neurocirurgião Carlos Zicarelli. O caso foi divulgado nesta terça-feira (18).

"A técnica foi utilizada porque o caso tinha uma peculiaridade. O tumor estava disseminado e mal delimitado na área motora primária que pode comprometer todos os movimentos do lado esquerdo do corpo do paciente", justifica.

É por isso que Souza teve como sintomas iniciais, a fragilidade no braço e perna. Mas o caso dele era urgente - ele precisava ser operado o mais rápido possível, uma vez que o exame de ressonância apontou um tumor benigno, porém, progressivo. "De uma semana para outra, a lesão passou de 2 cm para 2,7 cm. Por esse motivo, houve uma emergência em estudar o caso e aplicar a técnica que nos permitiu, durante a cirurgia, verificar os estímulos nessa região motora", diz o especialista.

A cirurgia demorou cerca de seis horas e utilizou recursos tecnológicos, como a neuronavegação, uma espécie de caneta sem fio que funciona como um GPS para acessar especificamente a lesão e o monitoramento eletrofisiológico operatório, também através de um caneta que estimula o córtex cerebral.

"Foi aplicada uma anestesia geral de ação mais rápida e no meio do procedimento o paciente foi acordado. Ele ainda recebeu uma sedação leve que o permitiu atender os comandos da equipe. Durante duas horas, ele interagiu conversando, levantando os braços e pernas", afirma.

Souza conta que lembra desses momentos. "Eu estava sonhando, acordei para conversar com os médicos e apaguei de novo", conta ele, que agora faz acompanhamento semestral e sessões de fisioterapia. "Já fiz três ressonâncias e os resultados mostraram que a lesão não retornou. Estou me sentindo bem, trabalhando, levando a vida normalmente", comemora.

A cirurgia para a retirada de tumor foi um sucesso e Souza não teve nenhuma sequela. Se fosse utilizada a técnica tradicional, sem o paciente acordado para responder aos comandos médicos, o neurocirurgião acredita que haveria ao menos 5% de comprometimento motor.

Antes de ser operado, Souza e familiares foram orientados por uma equipe multidisciplinar, especialmente para uma avaliação neuropsicológica. De acordo com o médico, não é todo paciente que pode passar por esse tipo de intervenção. "É muito importante que o paciente esteja bem informado e seja colaborativo, pois a ansiedade nessa hora pode atrapalhar muito", completa.

SÍNDROME RARA

Duas semanas após a cirurgia, Souza desenvolveu uma síndrome rara chamada "Síndrome de Stevens-Johnson", pelo uso de medicamentos anticonvulsionantes. Ele apresentou uma reação alérgica por todo o corpo, com descamação da pele, e precisou ser internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Segundo o neurocirurgião, a síndrome acomete um em cada 1 milhão de pessoas. Pela gravidade, Souza foi submetido a um tratamento mais longo com imunoglobulina e corticoide para inibir a resposta imunológica. "Esse anticonvulsionante é muito utilizado em todo o mundo, mas neste paciente despertou uma resposta autoimune e teve que ser substituído", afirma o neurocirurgião.