Uma enorme fila de caminhões de mudança formou-se nesta terça-feira (21) na Avenida Henrique Mansano (zona norte). Boa parte dos 55 veículos estacionados ao longo da via veio de Maringá (Noroeste) para fazer o transporte dos pertences dos moradores do Residencial Flores do Campo (zona norte), cuja reintegração de posse estava marcada para esta terça-feira (22), mas acabou adiada por 90 dias por uma decisão judicial. O serviço de mudança foi contratado pela CEF (Caixa Econômica Federal).

Imagem ilustrativa da imagem Caminhões que fariam mudanças no Flores do Campo fazem fila na zona norte
| Foto: Roberto Custodio/21.11.2017



Na segunda-feira, o desembargador federal Luís Alberto D'Azevedo Aurvalle, da 4ª Turma do TRF (Tribunal Regional Federal) da 4ª Região, em Porto Alegre (RS), concedeu liminar à DPU (Defensoria Pública da União) e suspendeu a reintegração de posse do residencial. O desembargador concedeu prazo de 90 dias para que os moradores da ocupação deixem o local espontaneamente. A decisão do TRF foi anunciada no final da tarde de segunda-feira, mas a CEF não cancelou o serviço.

"Saímos de Maringá hoje cedo, às 6 horas, e estamos aqui esperando para ver se vai acontecer a reintegração", disse o proprietário da empresa de transportes, Edson Campos. Ele mobilizou 40 caminhões de sua frota e contratou outros 15 motoristas de Maringá e de Londrina. "Há três, quatro dias ninguém sabia que seria cancelada a desocupação e quando fizemos o contrato não tinha nada definido. A programação era para fazer 350 mudanças hoje. A Caixa está tentando reverter a decisão judicial e vamos esperar", disse o empresário, que não revelou o valor total do contrato firmado com a Caixa.

O motorista Benjamin Vicente Rodrigues foi contratado por R$ 600. Ele trabalha por conta própria em Maringá e disse que contratou um ajudante para ajudar no transporte das mudanças. "O combinado foi que iríamos receber R$ 500 por mudança. Se não tiver a reintegração, vou ficar só com os R$ 600." Segundo ele, a informação era de que os pertences dos moradores da ocupação que não tivessem para onde ir seriam encaminhados ao antigo IBC.

"Ninguém falou para a gente que não ia ter mais a reintegração. Eu dispensei quatro serviços para hoje, uma em Tamarana e outro em Arapongas, porque já havia assumido compromisso para estar aqui, mas não é tanto prejuízo porque vou receber os R$ 400 da diária e mais o pagamento do ajudante", calculou o motorista Juarez Cecílio Magalhães. "Contrataram a gente há mais ou menos oito dias atrás. Até então estava tudo certo. Agora estamos aqui, na incerteza, esperando o que vai acontecer", disse Gilmar José dos Santos.

O Residencial Flores do Campo foi ocupado em 1º de outubro do ano passado e no local há cerca de 1.280 unidade habitacionais. Com o anúncio da reintegração, na segunda-feira muitas famílias começaram a deixar o local, mas uma grande parte alega não ter para onde ir e deve aguardar os 90 dias do prazo dado pelo TRF.

O empreendimento faz parte do programa federal Minha Casa Minha Vida e começou a ser construído em 2013. A previsão de entrega era para janeiro de 2015, mas a obra foi paralisada diversas vezes e em 2016 ainda não tinha data para ser concluída.

Em nota, a assessoria de imprensa da Caixa Econômica Federal informou que está recorrendo da decisão do TRF e "que não reconhece ocupações irregulares de moradias. O objetivo é garantir o direito das famílias selecionadas pelo poder público, de acordo com as regras do Programa Minha Casa Minha Vida."

Ainda de acordo com a instituição, o Residencial Flores do Campo foi invadido "com apenas 48% das obras executadas. Após a desocupação do empreendimento será feita vistoria nas unidades habitacionais pela Caixa para início do processo de contratação de nova construtora para a finalização das obras."