O número de mortes relacionadas à Aids caiu 47% no ano passado em comparação com dados de 2005. Naquele ano, 1,9 milhão de pessoas morreram no mundo em decorrência da doença. No ano passado, a quantidade de vítimas chegou a 1 milhão. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (20) no novo relatório do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids).

O documento destaca avanços como a ampliação do acesso ao tratamento de HIV. Aproximadamente, 53% da população infectada estava em tratamento em 2016, o que significa 19,5 milhões de pessoas. Ao todo, 36,7 milhões vivem com HIV, sendo que 1,8 milhão foram infectadas no ano passado.

Apesar dos resultados positivos, a epidemia preocupa. A meta 90-90-90 estabelecida pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2014, que busca acelerar a resposta ao HIV, está longe de ser atingida em algumas regiões. Até 2020, a intenção é que 90% das pessoas infectadas no mundo tenham conhecimento da presença do vírus no organismo, 90% dos diagnosticados tenham acesso ao tratamento e 90% dos que estão em tratamento tenham carga viral indetectável para que não possam mais transmitir o vírus. Conforme o relatório, as porcentagens gerais estão em 70%, 77% e 82% . No entanto, países do Oriente Médio, do norte da África, da Europa Oriental e da Ásia Central estão longe desses índices.

No Brasil, as porcentagens estão em 60%, 60% e 54%, respectivamente. Mais de 830 mil pessoas vivem com HIV no País. O integrante da ONG Grupo pela Vidda-SP e vice-presidente do Fórum de ONG Aids do Estado de São Paulo, Matheus Emílio da Silva, reconheceu avanços no Brasil, mas lamentou que o País não seja mais referência mundial na luta contra a doença. "O que me chamou bastante a atenção no relatório é que só o Brasil representou quase 50% dos casos de HIV de 2016 na América Latina. Esse é um dado preocupante que mostra que o Brasil tem que avançar", apontou.

Até 2020, a intenção é que 90% das pessoas infectadas no mundo tenham conhecimento da presença do vírus
Até 2020, a intenção é que 90% das pessoas infectadas no mundo tenham conhecimento da presença do vírus | Foto: Cesar Brustolin/SMCS



Hoje, parte do recurso repassado ao Ministério da Saúde é destinada especificamente para ações relacionadas ao HIV/Aids. Silva teme mudanças na questão financeira e que, com isso, os valores sejam repassados sem a destinação específica. "Recentemente, tivemos muitos problemas com desabastecimento de medicamentos. Ainda não foi dada resposta oficial do que de fato ocorreu." Para ele, além de intensificar as ações e investimentos, também é preciso combater o preconceito. "Temos visto aumento da 'Aidsfobia'. Isso continua sendo um grande vilão na luta contra a Aids", destacou.

O chefe da Divisão de DST/Aids, hepatites virais e tuberculose da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), Francisco Carlos dos Santos, ressaltou que foi necessário fracionar alguns medicamentos no Estado para que as pessoas infectadas não tivessem o tratamento interrompido. O problema ocorreu há dois meses e o fornecimento só deve ser normalizado em agosto. Hoje, 1.407 pessoas vivem com HIV/Aids no Paraná. "Houve um aumento significativo no diagnóstico a partir de 2008, quando o teste rápido foi distribuído para todos os municípios do Estado. Também passamos a disponibilizar os testes em grandes eventos e isso tornou o exame mais acessível", explicou.

O desafio, segundo ele, ainda é evitar a contaminação. "Sempre fazemos a divulgação das formas de prevenção da doença. Os métodos gratuitos estão disponíveis nas unidades básicas. Mesmo assim, percebemos aumento do número de casos em adolescentes e idosos. Falta a população aderir à campanha e admitir que todos somos vulneráveis", alertou.