Residência da dona de casa Eliana Gonçalves dos Santos, área de invasão na zona norte de Londrina, onde, segundo a moradora, "não para de chegar gente", especialmente desempregados
Residência da dona de casa Eliana Gonçalves dos Santos, área de invasão na zona norte de Londrina, onde, segundo a moradora, "não para de chegar gente", especialmente desempregados | Foto: Gina Mardones



De acordo com estudo inédito do Banco Mundial, divulgado recentemente, 3,6 milhões de pessoas podem entrar na linha de pobreza no Brasil em 2017, somando-se aos atuais 20,9 milhões de pobres, cuja renda familiar é de R$ 140 mensais per capita. O documento aponta que a atual crise econômica representa uma séria ameaça aos avanços na redução da pobreza e da desigualdade.

O Banco Mundial, agência especializada independente do sistema da Organização das Nações Unidas (ONU), destaca que, entre 2003 e 2014, o Brasil viveu uma fase de progresso econômico e social em que mais de 29 milhões de pessoas saíram da pobreza e a desigualdade diminuiu expressivamente (o coeficiente de Gini caiu 6,6% no mesmo período, de 58,1 para 51,5). No mesmo período, o nível de renda dos 40% mais pobres da população aumentou, em média, 7,1% em comparação ao crescimento de renda de 4,4% observado na população geral. No entanto, desde 2015 o ritmo de redução da pobreza e da desigualdade estagnou.

A dona de casa Eliana Gonçalves dos Santos, de 38 anos, que concluiu apenas os primeiros anos do ensino fundamental, disse ter notado o fenômeno na comunidade onde mora, o Assentamento Nossa Senhora Aparecida, área de invasão no extremo norte de Londrina. Segundo ela, o número de famílias que vivem lá em moradias improvisadas cresceu de 600 para 800 em menos de dois anos. "Não para de chegar gente. Quando a gente conversa, percebe que eram pessoas que perderam o emprego e não conseguiram mais pagar o aluguel", conta.

Eliana é mãe de seis filhos e diz que está cada vez mais difícil conseguir manter a família com o pouco dinheiro que ganha com faxinas e com os benefícios que recebe. "Antes, eu conseguia comprar o básico, pelo menos. Este ano, não consegui comprar um caderno para meu filho", lamenta.

Outro morador do bairro é o coletor de materiais recicláveis Wanderley Gonçalves, de 52 anos. Ele tem três filhos em idade escolar e nenhum deles recebe o Bolsa Família. "Faz tempo que estamos tentando conseguir o benefício, mas não teve jeito. O dinheiro hoje não está comprando mais nada", relata.

O Banco Mundial sugere a ampliação do Bolsa Família para amenizar o impacto do aumento da pobreza. O organismo informa que seriam necessários quase R$ 30,5 bilhões para o Bolsa Família, em 2017, para atender esse novo contingente de pessoas. O valor é cerca de 3% superior ao reservado no orçamento para o programa, neste ano.

O coordenador de Desenvolvimento Humano e Pobreza do Banco Mundial para o Brasil, Pedro Olinto, explica como é o perfil dessa população que pode ir para pobreza neste ano. "As pessoas que cairão abaixo da linha de pobreza, como consequência da crise, provavelmente são adultos jovens, de áreas urbanas, principalmente do Sudeste, brancos, qualificados e que trabalhavam anteriormente no setor de serviços", detalha. Segundo o estudo, o aumento da pobreza se dará principalmente em áreas urbanas, onde essas taxas já são mais elevadas.(Com Agência Brasil)