O grafiteiro londrinense Huggo Rocha e seu retrato feito no muro por profissionais de Curitiba que participaram da grafitagem
O grafiteiro londrinense Huggo Rocha e seu retrato feito no muro por profissionais de Curitiba que participaram da grafitagem | Foto: Fotos: Roberto Custódio


Traços firmes com tintas em spray trouxeram um colorido especial ao muro do Cemitério São Pedro, na avenida Rio de Janeiro, centro de Londrina. A cada passo, uma nova obra de arte feita em apenas dois dias por grafiteiros da cidade e por profissionais convidados de outras regiões do Estado. A vida e morte retratada no rosto de uma mulher por Carlos José da Silva Júnior, mais conhecido como Mancha, é apenas uma das pinturas que chama a atenção pela riqueza de detalhes. "Achei que ficaria legal na parede do cemitério", disse o grafiteiro de Apucarana enquanto finalizava a obra.

Mais à frente, quase na esquina com a avenida JK, a imagem no muro de jovens com celulares nas mãos lembra que há vida fora das redes sociais. "Hoje em dia, as pessoas não conversam mais, elas se esquecem da importância de se socializar. Você vê casais que saem juntos e que ficam mexendo no celular um de frente para o outro, sem se falar. Gente que vai nos locais só para fazer uma foto e postar na internet e, logo depois, já vai embora", criticou o autor da obra, Rene Meyring, que veio de Maringá para participar do evento. Técnicas de volume e perspectiva, segundo ele, são as mais trabalhosas e dão vida à pintura.

Os mais de 30 profissionais se reuniram neste final de semana para comemorar os 15 anos do coletivo CapStyle Crew, grupo de grafiteiros formado em Londrina. Além do mural ao redor do cemitério, foram realizadas oficinas sobre técnicas de grafite e apresentações culturais de circo e hip-hop. O evento aguçou a curiosidade de quem passou pelo local. "Isso tudo é muito legal. Acho bem interessante, traz mais alegria para a cidade, mais cor. É uma arte que deveria ser incentivada. Isso muitas vezes ajuda a tirar o pessoal das drogas e da rua. Eles são verdadeiros artistas", elogiou a enfermeira Renata Barbosa.

Rene Meyring,de Maringá, optou por grafitar pessoas e celulares: crítica à falta de comunicação imposta pela tecnologia na atualidade
Rene Meyring,de Maringá, optou por grafitar pessoas e celulares: crítica à falta de comunicação imposta pela tecnologia na atualidade



Ao longo do quarteirão, é possível conferir uma homenagem feita por grafiteiros da cidade de Ponta Grossa ao comediante Jerry Lewis (que morreu no dia 20 de agosto), um retrato dos fundadores do CapStyle Crew executado por profissionais de Curitiba a partir de fotografias dos integrantes do grupo e ainda o rosto de uma indígena para fixar na memória a importância do respeito entre os povos. Huggo Rocha, responsável por este último painel, disse ter se inspirado nas filhas.

Rocha, Eduardo Diniz (Napa) e Tadeu Roberto Lima Junior (Carão) são os fundadores do coletivo CapStyle Crew. "A gente já pintava na rua, mas ainda não sabia muito bem o que era o grafite. Começamos em casa e depois tudo foi tomando corpo. A valorização da arte é difícil. Viver de arte no Brasil é muito difícil, em qualquer segmento, mas, hoje em dia, existe mais reconhecimento do que quando a gente começou há 15 anos", contou Rocha. "Londrina é uma cidade que dá uma valorização para o grafite. É que, na verdade, a gente precisaria de mais apoio. As pessoas querem o grafite, mas é uma arte cara. Cada lata de spray custa R$ 16", explicou Carão ao mostrar as mais de dez latas no chão que seriam utilizadas na pintura dele.

Não foi a primeira vez que o muro do Cemitério São Pedro foi disponibilizado para mostrar a arte do grafite. Em anos anteriores, o espaço já havia sido destinado aos profissionais. Empresários e a Prefeitura de Londrina apoiaram o evento realizado neste final de semana e, ao contrário da capital paulista, o secretário municipal de Cultura, Caio Julio Cesaro, afirmou que por aqui a intenção é fazer um levantamento dos espaços que podem se tornar obras de arte nas mãos dos grafiteiros. "O grafite é uma arte que hoje você vê presente no cenário urbano de diversas cidades. Em Londrina, nós temos a cidade bastante verticalizada, com diversos murais e paredes. A arte do grafite pode contribuir muito para essa questão do urbano e para trazer uma valorização da cidade", ressaltou.