Há 40 anos, no dia 25 de maio de 1977, estreava nos cinemas o primeiro filme da saga Star Wars, sucesso cinematográfico dirigido por George Lucas e que revolucionou a cultura pop mundial ao despertar a força de um séquito de fãs que não se contentam apenas em assistir os filmes, mas que consomem brinquedos, livros e jogos relacionados a Luke Skywalker, Darth Vader, Hans Solo, princesa Leia e companhia. Não à toa, o dia 25 de maio é considerado também o Dia do Orgulho Nerd.

O historiador André Azevedo da Fonseca, professor do departamento de Comunicação da UEL (Universidade Estadual de Londrina), é um estudioso dos impactos das tecnologias nas relações sociais e explica que o termo "nerd" surgiu nos Estados Unidos e, até a década de 60 do século passado, tinha um sentido pejorativo. "Era o equivalente a 'CDF' e, numa época em que a expressão da rebeldia se dava por outras dimensões da vida, como rock ou esportes ao invés dos estudos; dizia respeito a pessoas tímidas, pouco vaidosas e desajeitadas socialmente", explica.

Foi nos anos 70 – quando os jovens passaram a lidar de forma mais desenvolta com as tecnologias – que essa imagem começou a mudar. "Era a geração de Steve Jobs e Bill Gates", exemplifica, destacando que a relação entre homens e computadores era quase mágica. "Star Wars é um exemplo disso, pois nos filmes a tecnologia é interpretada como magia e os rebeldes inclusive se valem dela para combater os vilões. Eles eram quase hackers", compara, lembrando que neste período ficou claro que a tecnologia também poderia ter fins mais criativos.

Já na década de 80, a rebeldia se incorporou de vez ao universo nerd, com a militância dos cyberpunks. "Foi quando o mais radical movimento cultural se uniu à cultura tecnológica", defende. Valorizados primeiro pela subcultura, foi a partir do fenômeno "geek" que os nerds definitivamente conquistaram lugar de honra na cultura pop.

"De desajeitados, passaram a ser conhecidos e valorizados por serem arrojados e atuantes como ativistas. Hoje, são mais importantes em termos simbólicos do que os ídolos do rock. Jovens nerds e geeks fazem revoluções mais visíveis, como é o caso dos Anonymous. Em movimentos recentes como a primavera árabe, por exemplo, as tecnologias foram decisivas", explica, destacando, ainda, a atuação do ativista Aaron Swartz, um programador que acabou se suicidando após sofrer pressão jurídica por piratear artigos acadêmicos ou mesmo Julian Assange, responsável pelo vazamento de informações políticas através do Wikileaks.

Os super-heróis, tão cultuados por essa tribo, também celebram as tecnologias ao utilizarem-nas para transformar humanos em deuses. "As histórias reproduzem uma estrutura mitológica", comenta Azevedo. O professor destaca que a internet colaborou para reforçar a valorização dessa tribo por causa do que chama de "personas da internet", ou seja, aqueles que aproveitam as redes sociais para disfarçarem a própria timidez. "Os nerds continuam em seus quartos, mas através da internet aparecem, se comunicam e articulam ações em conjunto", diz.

Apesar de simpatizante desta cultura, o pesquisador lembra que o discurso sagrado atribuído às tecnologias pode ofuscar uma crítica ética que considera necessária. "Nem todas as tecnologias são necessariamente boas. O isolamento físico, por exemplo, impede relações mais diretas entre as pessoas", pondera.

Por isso, o Dia do Orgulho Nerd, para ele, é uma data para comemorar, mas também pensar na história que conduziu a humanidade a este momento e refletir sobre o que esta cultura constrói para o futuro. "A tecnologia tem que ser uma linguagem, é um equívoco pensar que devem ser usadas de forma passiva", avalia. (C.A.)