Um levantamento do Grupo de Atuação Especial de Combate do Crime Organizado (Gaeco), divulgado esta semana pelo Ministério Público (MP), aponta que 264 suspeitos morreram em confronto com forças policiais do Estado em 2016. Segundo os dados do MP, em 2015 foram registradas 247 mortes, o que representa alta de 6,8% em um ano. O estudo revela ainda que, em 2016, 22 policiais militares foram mortos em confrontos armados.
Segundo o MP, o controle estatístico das mortes em confrontos policiais pelo Gaeco faz parte de estratégia com o objetivo de contribuir para diminuir a letalidade das abordagens e confrontos policiais. O coordenador do Gaeco, procurador Leonir Batisti, destaca que o MP do Paraná aderiu um programa nacional do Conselho Nacional do Ministério Público. Batisti explica que o programa visa assegurar a correta apuração das mortes de civis em confrontos com policiais e guardas municipais, garantindo que toda ação do Estado que resulte em morte seja investigada.
Orélio Fontana Neto, diretor da Associação de Praças do Estado do Paraná (Apra), atribui os dados aos índices "epidêmicos" de violência. Segundo ele, o crime organizado está mais ousado nos últimos anos. Para conter as mortes, Fontana Neto defende a reorganização de todo o sistema de segurança pública. "Temos que tornar o sistema mais ágil, evitando que a impunidade tome conta. O número de resolução dos crimes hoje é muito baixo, não por culpa de determinada instituição, mas pelo sistema", opinou.
Fontana Neto considera preocupante o número de mortes em confrontos, sobretudo o de policiais militares. "O policial não sai para a rua com a intenção de tirar a vida de ninguém. Porém, a situação exige uma reação para que ele possa preservar sua própria vida. São pessoas que estão à margem da lei, que não pensam duas vezes antes de investir contra os policiais", comentou. "Essa morte em confronto gera um trauma muito grande. O policial não é um robô, ele sabe que tirou a vida de uma pessoa. Por isso a importância do acompanhamento psicossocial."
A facilidade do acesso a armas de grosso calibre é outro ponto criticado pelos policiais. "Nossas fronteiras estão abertas e, com isso, os criminosos se equipam com o que há de mais moderno em questão de armamento. O resultado disso é que os policiais ficam expostos nas ruas a um confronto entre forças desiguais. Isso é muito grave", disse. "Por isso é importante que a população apoie nossa polícia e valorize os bons policiais", completou.
Na análise de Batisti, os números são reflexos da sociedade violenta. "Estamos com uma média de 2,6 mil homicídios por ano no Estado, o que é um número muito elevado. Esse clima de violência se dissemina por toda a sociedade. A polícia precisa estar muito bem treinada para avaliar a medida a ser tomada", avaliou.
O secretário estadual de Segurança Pública, Wagner Mesquita, informou que desconhece os dados do Gaeco e a metodologia empregada. No entanto, reconhece um aumento de mortes decorrentes de confrontos. "Nós creditamos isso à quantidade de armamento disponível aos criminosos, à capacidade de entrada dessas armas em nossas fronteiras e à reação da criminalidade ao trabalho policial. Com resultados mais eficazes nas abordagens, há uma reposta armada que, infelizmente, em alguns casos, vem resultar em mortes", explicou.
"O que temos feito é verificar se houve abuso policial. Fica claro para toda a sociedade que hoje o controle é muito grande. Nos últimos meses, não tivemos nenhum relato. A polícia está atuando com força contra o aumento da criminalidade, mas com técnica e vigor. Qualquer caso de abuso será investigado pela corregedoria da instituição envolvida", garantiu o secretário.